Capítulo 19 - Italian feeling

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Noah Jacob Urrea
26 de junho
Roma

Noah deslizou a mão pelo espelho embaçado do banheiro, limpando o vapor do chuveiro para vislumbrar seu próprio reflexo. O que viu não foi reconfortante. Sua expressão cansada e desgastada refletia os dias de tensão e incerteza que passara na mansão, mantido em constante alerta pela imprevisibilidade de Josh. O sono, quando vinha, era pouco mais que uma pausa agitada em sua luta contra o esgotamento. Olheiras profundas, uma ruga persistente de preocupação marcando sua testa, e espinhas surgindo como testemunhas do estresse que o consumia. Ele estava tão cansado de se preocupar o tempo inteiro, sem saber qual seria a próxima vez que a vida dele, a de Any e a de Bailey estariam em jogo. Ele sentia falta dos dois e estava preocupado. Não os via desde o dia seguinte ao cassino. Josh fez questão de deixá-los trancafiados, cada um em seus respectivos quartos, com dois guardas na frente de cada quarto, e mais dois debaixo de cada janela em caso de quererem sair por ali. Era simplesmente inacreditável.

O aviso dos guardas, na manhã anterior, entregando o café da manhã e informando sobre a viagem para a Itália, provocou uma torrente de emoções em Noah. Raiva, desespero, até mesmo uma pontada de desejo vingativo contra Josh, que parecia ser a fonte de todos os seus tormentos. Ele quase desejou que houvesse outra bomba no avião, mas, que, dessa vez, ela conseguisse cumprir o seu papel de explodir o loiro intragável pelos ares. Nem que para isso ele precisasse ir junto. Ele iria de bom grado.

Agora, em Roma, na suntuosa mansão da família de Josh, Noah se viu diante de uma realidade inesperada: uma família calorosa e acolhedora, completamente oposta ao que ele imaginava. Como poderiam ser parentes de alguém tão... diferente? Sacudindo a cabeça para afastar esses pensamentos incômodos, Noah envolveu-se no roupão azul-marinho e saiu do banheiro, ainda sentindo as gotas de água escorrerem por suas pernas

Um sobressalto escapou de si quando ele notou Josh deitado na cama do lado oposto do quarto, os olhos azuis grudados no teto, um braço dobrado em cima da barriga e o outro em cima da testa. Ele passa pelo loiro em direção a sua mala, ignorando a tensão no ar enquanto abria sua bagagem. Um ranger da cama rompeu o silêncio, e ele soube, mesmo sem precisar olhar para trás, que Josh o observava. Ele se sentou. E está olhando para Noah.

— Foi... foi bom... o banho?

Ele gaguejou?

Noah franziu o cenho de maneira confusa, parando de procurar por uma peça de roupa em sua bagagem para olhar para o loiro por cima do ombro.

— Que tipo de pergunta é essa?

Josh suspirou, parecendo perdido, e passou as mãos pelo rosto em um gesto nervoso, como se tentasse afastar os pensamentos confusos que o assombravam.

— Esquece. — Ele se levantou abruptamente, dando as costas para Noah e adentrando no banheiro sem dizer mais nada.

Esse homem ficava mais estranho a cada que passava. Essa dualidade dele era impossível de lidar, você nunca sabia com qual lado dele estava lidando. Josh Beauchamp era uma bomba relógio.

Noah se levantou, aproveitando da solidão do quarto para deslizar o roupão pelo seu corpo e se vestir. Seu estômago está se revirando de fome, e ele mal pode esperar para que a tia de Josh venha e diga a eles que eles devem descer para almoçar. A cozinha cheirava tão bem que sua boca enchia de água só de pensar.

Quando duas batidas soaram na porta, Noah praticamente correu até ela, ansioso para encontrar Gabrielle. Sua expectativa estava lá em cima, mas a surpresa veio ao abrir: ao invés de encontrar a bela mulher de meia idade de cabelos longos e loiros, de rosto suave e angular com maçãs bem definidas e olhos castanhos tão expressivos e alegres que combinam perfeitamente com o tom de pele naturalmente bronzeado; ele encontrou um rapaz que se tivesse 20 anos era muito. O garoto tinha cabelos castanhos escuros, um rosto caracterizado por traços definidos e expressivos que lembrava muito Mattias, exceto pelos olhos castanhos.

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