Noah Jacob Urrea
3 de Junho
BostonJunho era a época preferida do ano de Noah desde que ele se mudou para Boston há alguns anos para recomeçar com sua família, é o momento em que a cidade está mais agitada e cheia de eventos para os turistas. Ah, ele simplesmente adorava! Aliás, o clima era a única coisa que o deixava feliz naquele momento.
Ele não sabe exatamente como aquilo aconteceu, mas aconteceu. Quando ele se deu conta, já havia um homem desconhecido dentro do seu carro, sangrando em seu banco de couro pelo ferimento a bala em seu abdômen. Noah apertou o volante com força enquanto olhava preocupado para o retrovisor. Ele realmente esperava que não tivesse ninguém na rua a uma hora daquelas da noite, caso contrário, seria muito difícil explicar aquela situação.
Isso que dá você tentar ser uma boa pessoa, Noah se martirizou pela milésima vez. Se ele não tivesse se aproximado do homem naquele beco escuro, ele não estaria nessa situação. Mais uma vez, sua curiosidade o levou a um lugar perigoso. Onde estava o seu instinto de sobrevivência, afinal? No momento em que o loiro apontou aquele revólver para ele e o obrigou a ajudá-lo, ele soube que estava fodido.
Tudo que ele menos precisava na vida era outra situação desastrosa, ela já estava complicada e triste o suficiente. Mas desde que ele se lembra, situações ruins vem sendo presentes em sua vida, por que seria diferente agora? Não é como se o mundo parasse só porque ele estava de luto.
— Você consegue se levantar? — Foi a primeira coisa que Noah disse quando estacionou na frente de casa e abriu a porta traseira. O homem loiro o encarou por alguns segundos com seriedade.
— Você não deve saber qual é a dor de levar um tiro, acho que estou disposto a mudar isso — ele cerra os olhos, destravando a arma enquanto a apontava para a testa do moreno. Noah comprimiu os lábios. Droga, ele sabia a dor de levar um tiro. Sabia que poderia doer como o inferno, porém, mais desesperador do que levar um tiro era ter que cuidar de alguém que levou um tiro. Noah nunca pensou que teria que fazer aquilo de novo, mas lá estava ele. O universo é mesmo uma vadia.
— Vou levar isso como um não — resmungou ácido, ajudando o loiro a sair do carro. Os dois se esgueiraram para dentro da casa o mais rápido que conseguiram, afinal não seria nada bom ter vizinhos comentando mais ainda sobre ele. Assim que entraram, Noah subiu as escadas com ele apoiado aos seus ombros, bem consciente da arma de fogo ainda nas mãos do outro, e o deitou em sua cama, não demorando a procurar pelo kit de primeiros socorros na cômoda parada na parede oposta a da cama.
— Só para deixar claro, depois que eu terminar aqui, você vai se mandar da minha casa — ele rosnou, irritado, ainda de costas para o loiro. Noah sorriu de lado quando seus olhos miraram sua própria arma dentro da gaveta e do lado dela o kit de primeiros socorros. Fazia tempo que não a usava, seus pais nem sabiam que ele ainda guardava algo assim em casa, mas, bem, o que ele poderia fazer? Se sentir desprotegido depois de tudo o que aconteceu no Brasil não era uma opção.
— Você não está em posição de me dizer o que fazer, gatinho.
— Não, eu acho... que é você quem não está em posição de exigir nada. — Ele se virou, apontando a arma para o homem que o encarou surpreso. Urrea se deleitou com aquela expressão. — Eu posso muito bem pegar uma cadeira, me sentar e te assistir morrer pela perda de sangue ou por uma infecção dessa bala; ou, quem sabe, por um tiro na testa — ele engatilhou a arma, apontando diretamente para a cabeça do loiro.
— Você sabe quem eu sou para estar me ameaçando dessa forma? — Ele sorriu de forma presunçosa, fazendo Urrea revirar os olhos.
— Eu não dou a mínima para quem você é.
— O sobrenome Beauchamp te diz algo, garoto? — Ele ergueu uma sobrancelha, o sorriso presunçoso pareceu aumentar mais ainda ao vê-lo hesitar. E, como uma cartada de mestre, ele levou a mão direita, mostrando a palma tatuada em vermelho com o símbolo da LADS, a High-society norte americana que controla os Estados Unidos e o Canadá.
Noah praguejou. Aquilo só podia ser uma brincadeira de muito mal gosto. Mas... Cabelos loiros, sotaque canadense, olhos azuis demais para ser apenas mais um soldado, e a tatuagem de escorpião em chamas tingido de tinta vermelha na palma de sua mão não o deixavam mentir. Céus, Noah sabia que nunca tinha tido muita sorte, mas o azar de trombar justamente com o Capo da LADS já era demais. Ele sentia a bile subindo pela sua garganta, mas tentou não vacilar apesar dos olhos azuis cortantes e prepotentes sobre si.
— Soube que gosta de fazer tratos. — Disse Urrea. Beauchamp sorriu de canto, agora ele parecia interessado. —Eu vou te ajudar, tudo que você quiser desde que amanhã mesmo você vá embora e nunca mais volte. O que acha?
— Tenho uma proposta ainda melhor, mas só porque eu gostei de você. — Ele piscou, sorrindo malicioso. Noah franziu o cenho, confuso por um momento, mas então se lembrou do que Any sempre dizia. "Capos gostam de ter a última palavra." — Vou embora amanhã, nunca mais volto e... ainda fico te devendo uma. Considere isso um bônus — ele sorriu. — Temos um trato?
Noah suspirou pesadamente e abaixou a arma, vendo o Capo fazer o mesmo e sorrir de canto para ele. Que opção ele tinha? Se não ajudasse, sabia que podia acabar mal para ele. Ele só tinha que ajudar aquele homem uma vez, uma única vez, e então poderia voltar a tentar descobri o que fazer da vida e fingir que nunca o conheceu.
— Agora venha me ajudar, gatinho. — Ele sorriu daquele jeito cafajeste que com certeza dava arrepios em homens e mulheres mas que apenas fazia Noah querer arrancar os olhos azuis com as próprias mãos. O americano
colocou a arma no cós da calça e se aproximou da cama com a maleta em mãos. Ele tira de dentro uma tesoura e corta a camisa do outro sem muita cerimônia, libertando o abdômen sarado e cheio de tatuagens, a grande maioria em tinta vermelha.— Eu costumo jantar primeiro. — Disse o Capo com um sorriso sacana brincando nos lábios. Noah prontamente o ignorou, fazendo o máximo para se manter calado quando na verdade ele queria amaldiçoar aquele homem e sufocá-lo com o travesseiro.
Ele limpou a ferida, e retirou a bala. Para a sua infelicidade, não tinha sido nada muito grave, então agora era só suturar. Beauchamp grunhia pela dor e Noah teve que dar o máximo de si para não sorrir. Bem feito, idiota.
— Você tá gostando disso, não é? — Silêncio. — Você não é muito de falar, gatinho.
— Você fala o suficiente por nós dois.
O loiro apenas ri, dando de ombros, mas se mantém em silêncio enquanto ele trabalha. Depois de fazer um curativo que deixaria o seu próprio pai orgulhoso, Noah se levanta e arruma tudo.
— Fique á vontade para tomar um banho, se quiser, e tem comida lá em baixo. Pode ficar no meu quarto, vou dormir no quarto de hóspedes.
— Fica aqui, eu não mordo. — Disse o loiro, novamente olhando para ele com aquelas duas porções do oceano mais brilhante. Noah se virou para ele com um sorrisinho falso nos lábios.
— Mas eu sim quando me sinto ameaçado — ele rosnou, cerrando os olhos.
— Que pena — o loiro fingiu lamentar —, pensei que teríamos uma linda noite de amor. — Zombou ele.
— Claro — Jacob revirou os olhos com tédio —, onde eu acabaria grávido de você e então viveríamos felizes para sempre. — Ele replicou, cheio de sarcasmo. — Se quiser alguma coisa, não me chame. Se estiver morrendo, morra em silêncio, muito obrigado. — Ele sai do quarto batendo a porta atrás de si com força, mas ainda assim conseguiu escutar a gargalhada divertida do outro lado da madeira.
Idiota.
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Crossed Paths
FanficNoah teve uma adolescência conturbada. Se envolveu com um traficante que o convenceu a ajudá-lo em um assalto onde ele morreu e o deixou com a ficha suja. Seus pais pagaram para limpar sua ficha, e desde então a sua vida tem sido muito monótona. Ele...