Do outro lado da felicidade, há sempre um expectador. Alguém que assiste os sorrisos alheios, querendo rasgar a própria pele se esse for o preço para se sentir daquele jeito. É ainda pior quando já tivemos esse tipo de felicidade e deixamos escapar. Eu tocava as notas naquele piano observando a mulher que eu amo caminhar até outro homem. Observava ela sorrir, se emocionar e dizer cada palavra dos seus votos que só serviam para confirmar que eu nunca tive chance.
Ela não olhou para mais ninguém depois que colocou os olhos em Jay e era doloroso admitir que apesar do meu arrependimento, se eu não tivesse terminado com ela, acho que em algum momento ela me deixaria e isso seria ainda pior. Minhas lágrimas pingavam sobre as teclas do piano e ninguém nem ao menos parecia notar, ou ao menos ninguém além da Jennie.
Ela estava com o olhar sempre atento aos meus passos, minha respiração e até as minhas menores tristezas. Se alguém me disse a dois meses atrás que a melhor parte do meu dia seria quando eu estivesse com a Jennie, eu diria que essa pessoa estava louca, mas pouco a pouco isso se tornava verdade. Essa semana decoramos juntos o quarto da Yaya e depois de discutir cores e símbolos, mostrar como as cores mais claras são calmantes e argumentar com ela por quase uma hora, acabei cedendo e fiz exatamente como ela queria.
Talvez felicidade seja isso, pequenos momentos de alegria. Os breves intervalos entre uma dor e outra. No momento eu estava cronometrando os segundos para saber quando viria a próxima pausa. Parecia que meu coração estava sendo arrancado do peito, principalmente porque eu não consegui dizer o que queria. Vim para cá com um discurso pronto, sabendo que essa era a minha última chance de me declarar e tentar fazer ela mudar de idéia.
Queria dizer para a Jane, que se ela me escolhesse, não haveria lugar mais seguro que ao meu lado. Queria dizer que eu a amaria nos seus piores e melhores momentos. Queria dizer que eu seria um pai muito melhor para o Oliver e que seria ainda melhor como marido. Queria dizer que meu sol nasce e se põe com o sorriso dela e que desde que ela foi embora eu parecia estar vivendo uma noite eterna, mas eu não disse nada disso e agora tive que ouvir outro homem fazendo promessas e declarações que eu não tinha certeza se ele conseguiria cumprir.
Quando o padre perguntou se alguém tinha algo contra esse casamento, eu quis gritar todos os motivos pelos quais a Jane deveria ficar comigo, mas o olhar da Jennie pairou sobre mim, de uma forma quase ameaçadora e acabei rindo. Como ela tinha se tornado uma parte tão grande da minha vida a ponto de conseguir me impedir de fazer besteira com apenas um olhar? Eu não sabia, mas era bom ter alguém olhando só para mim, para variar.
Quando a porta se abriu bruscamente, eu não precisei ser nenhum gênio para saber que aquela era a mãe do Jay. Seu olhar sombrio e seus lábios franzidos mostravam todo seu desgosto com a situação e cheguei a me levantar do piano indo na direção dela, pronto para convidá-la a se retirar dali caso ela tentasse atrapalhar o dia da Jane, mas quando passei pela Jennie ela me segurou e a encarei irritado.
— Isso é problema do Jay agora, não é mais sua missão salvar a Jane. — Jennie afirmou e pisquei os olhos algumas vezes, percebendo que ela tinha razão.
— Mamãe, o quê está fazendo aqui? — Jay perguntou e a mais velha, que estava acompanhada de um homem alto que parecia ser seu marido, a encorajou a falar, mesmo que fosse nítido que ela não quisesse.
— Bem, é o casamento do meu filho. — Ela explicou simplesmente e o homem que estava com ela, deu um meio sorriso.
— Não se preocupe conosco, viemos apenas assistir. Continuem. — O homem afirmou e o Jay sorriu, emocionado.
— Obrigado pai. — Jay agradeceu e seus pais caminharam até o altar, ficando ao lado dos padrinhos dele.
O padre esperou pacientemente, até que o Jay assentiu para que continuasse, e a sentença foi dada.
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The Maid
FanfictionUma jovem do interior do Brasil ganha uma bolsa de estudos em Artes na Coréia do Sul e para se manter lá pede ajuda a sua tia que trabalha a anos como Governanta da família Park, por indicação de sua tia a jovem começa a trabalhar na casa do filho m...