Mudanças

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Eu sempre soube que se estivesse viva ou morta, não faria diferença para minha família. Sou a terceira filha de um casamento de conveniências onde tudo era milimetricamente planejado. Provavelmente meus pais tinham um calendário no quarto com dias calculados em que conceberiam um herdeiro e sendo a única filha mulher, ela era uma decepção para eles desde que veio ao mundo. Meu pai sempre dizia que mulheres não servem para o mundo de negócios e por isso, minha única serventia era ser moeda de troca em alianças que não me beneficiariam em nada.

Cresci, correndo pelos corredores da mansão, afoita para mostrar minhas notas perfeitas, sempre superiores às dos meus irmãos, apenas para ser menosprezada. Tudo que amei, amei sozinha. Meus pais, o Siwoo e agora o Jiyong. Eu estava condenada a amar pessoas indisponíveis e quando o amor me era oferecido, como Jay tentou fazer, eu fugia dele. Um amor saudável e recíproco me parecia impossível e me permitir amar o homem que minha família escolheu para mim, era como perder uma guerra que eu travava a tempo demais.

Por isso, endureci meu coração, me tornei o que meu pai sempre disse que uma mulher deveria ser. Astuta, ambiciosa e pensei somente no dinheiro que meu casamento com Jay poderia me trazer. Ou ao menos era isso que eu dizia a mim mesma, a verdade é que fui manipulada pelo Siwoo. Acreditei que conseguiria o dinheiro do Jay e poderíamos viver felizes para sempre. Ele me iludia, falando sobre filhos e planejando um casamento que ele nunca realmente quis realizar. Quando descobri que não poderia ter filhos, me senti como uma árvore seca, sabendo que viveria sozinha pelo resto da vida e estava conformada com isso.

Pensei que estivesse anestesiada e que com tudo que passei, nada mais poderia me abalar. Já sofri o que merecia e fui castigada pelos meus pecados. Me perguntava quando seria suficiente. Quanto mais eu teria que sofrer para saldar a dívida que eu tinha pelas maldades que fiz? A cirurgia parecia um castigo e chorei muito pensando que morreria nela como uma forma de expurgar meus pecados, mas depois de ver o Jiyong chorando por mim e a Yaya correndo para mim com um buquê de flores, eu entendi que talvez essa seja a minha segunda chance e se o sorriso deles era a minha recompensa, eu passaria por tudo aquilo outra vez.

Naquele dia, por mais feliz que eu estivesse, o médico não deixou que eles ficassem muito tempo comigo e eu tive que ir para o quarto, enquanto o Jiyong ia levar a Yaya de volta para o orfanato, mesmo que eu quisesse mais do que tudo abraçá-la e jamais permitir que ela se afastasse novamente. A Dami, irmã dele ficou comigo e eu não sabia bem como agir perto dela. Sabia que ela gostava da Jane, assim como todo mundo e como ela sabia que esse era um casamento falso, provavelmente me via como um peso e por isso, mesmo que eu estivesse morrendo de frio e quisesse pedir que ela diminuísse o ar, apenas me mexi na cama tentando alcançar o controle.

— O quê você está fazendo? Se quer o controle é só me pedir, se acontecer algo com você o Jiyong me mata! — A Dami disse com um sorriso no rosto e mesmo com dor tentei sorrir para ela, mas logo neguei com a cabeça.

— Acho que ele iria comemorar com fogos se conseguisse se livrar de mim. — Brinquei e ela negou com a cabeça.

— Não é verdade, ele estava muito preocupado e eu sei disso porque ele estava estalando os dedos, andando de um lado para o outro e alongando os braços o tempo inteiro. Coisa que ele só faz quando está muito preocupado ou estressado. — Ela explicou diminuindo o ar e me cobrindo gentilmente antes de ajeitar meu travesseiro.

Sorri ao saber que ele estava assim e por mais narcisista que isso parecesse, gostei de saber que ele estava preocupado comigo, principalmente dessa forma. Eu o observava constantemente mesmo quando tentava evitar, mas durante a cirurgia da Jane ele ficou da mesma forma. A idéia de que mesmo ligeiramente ele poderia sentir por mim o que sentiu pela Jane me deixava emocionada mesmo sabendo que isso não era verdade.

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