Sempre sonhei com o felizes para sempre, com a fase da vida em que não tivesse os punhos sangrando de tanto lutar por algo que deveria ser um direito natural. A felicidade deveria ser rotina, mas quanto mais a persigo, percebo que deve ser algum tipo de folclore inventado para nos fazer sonhar com algo que nem ao menos existe. Quantas pessoas felizes conhecemos? Quantos momentos felizes tivemos que durasse mais do que algumas horas? Quanta felicidade pode caber em apenas um momento para que se torne viciante a ponto de nos fazer sacrificar tudo na esperança de encontrá-la novamente?
Aquelas perguntas me atingiam como socos me deixando sem força sequer para levantar. Meu grito chamou atenção do Jiyong e ele estava comigo em seus braços, me balançando suavemente como um pai que nina uma criança até que ela pare de chorar, mas eu simplesmente não conseguia. Me agarrei ao casaco dele e as lágrimas pararam de rolar, mas meus soluços não paravam, por mais que tivessem diminuído. Eu tinha planejado disfarçar a minha dor com alguma maquiagem, mas não havia como maquiar meus joelhos me impedindo de levantar, ou o grito de desespero que deixou minha garganta.
Estava tentando me concentrar em qualquer coisa que não fosse aquela mensagem. No cheiro do café que agora já tinha esfriado, no vento que fazia a cortina branca do meu quarto dançar, nos dedos do Jiyong subindo e descendo delicadamente pelas minhas costas enviando arrepios por todo meu corpo, mas nada disso prendeu minha atenção por muito tempo, até eu notar nas bolinhas de desgaste que haviam no suéter azul do Jiyong ao qual eu estava agarrado. Passei meus dedos por elas sentindo cócegas e me perguntei porque ele não comprava outra.Jiyong tinha dinheiro até mesmo para comprar a fábrica que produzia aquele suéter, então porque esse ainda era o seu favorito quando ele estava em casa?
— Por quê você não joga esse casaco fora? — Perguntei, entre soluços e por um instante pensei que ele me acharia louca, afinal, não respondi em todas as vezes que ele me perguntou o que tinha acontecido para eu estar chorando tanto, até que ele desistiu e apenas me acolheu, mas agora eu estava finalmente falando, mas era sobre seu suéter e ao notar a confusão em seu olhar, neguei com a cabeça, mas antes que pudesse pedir desculpas por falar sobre isso, ele suspirou, dando de ombros.
— É o meu favorito. Ele tem seus problemas, mas me sinto confortável com ele, além do mais, não é porque algo tem defeitos bobos que devemos descartá-lo se realmente gostamos. — Jiyong respondeu pacientemente, como se falasse com uma criança e concordei, antes de voltar a deitar minha cabeça em seu peito, voltando a passar meus dedos pelas bolinhas de desgaste daquele cardigan. Nunca pensei que me identificaria tanto com uma peça de roupa antes. Eu era como ela, desgastada pelo tempo e com defeitos que me tornavam descartável.
Suspirei, balançando minhas pernas que estavam sobre as do Jiyong. Eu estava em seu colo como um bebê e não queria sair dali. Talvez felicidade fosse isso, esse momento de paz ilusória nos braços do homem que eu amo, um cessar fogo em meio a guerra que dura apenas até que as armas sejam recarregadas, um pouco de fôlego antes de mergulhar em um mar em fúria que certamente nos afogaria. Olhando seu suéter cor de céu, me perguntei se ele sempre foi um azul tão claro ou se também estava desbotado e senti um pingo de esperança.
Se Jiyong o mantinha, mesmo desgastado e quase sem cor, talvez não me descartasse quando soubesse das minhas falhas. Talvez ele enxergasse minhas cicatrizes como defeitos bobos e quisesse continuar comigo assim mesmo. Esse pensamento me fez o encarar, e olhando naqueles olhos castanhos que pareciam ver através de mim como se fosse transparente, eu quis contar tudo que ninguém sabia. Tudo que eu tranquei na minha mente a quase dois anos atrás e que nem ao menos me permito pensar. Eu tinha banido esse acontecimento da minha mente na esperança de que isso me livrasse da culpa, mas às vezes quando eu acordava de um pesadelo, ainda lavava minhas mãos até feri-las na esperança de que elas ficassem limpas novamente.
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The Maid
FanfictionUma jovem do interior do Brasil ganha uma bolsa de estudos em Artes na Coréia do Sul e para se manter lá pede ajuda a sua tia que trabalha a anos como Governanta da família Park, por indicação de sua tia a jovem começa a trabalhar na casa do filho m...