Vendo a forma como todos pareciam encarar Jennie como uma verdadeira criminosa, só servia para reforçar que minhas verdades não adiantavam nada se ninguém acreditasse. De que adianta ser boa se não posso nem ao menos ser ouvida? De que adianta me esforçar diariamente se todos continuam com o olhar fixado em mim, me culpando por algo que não fiz?
Não sei o que me levou a abraçar o Jay, talvez eu estivesse procurando pelo abrigo que tantas vezes ele me ofereceu e eu neguei. Sabia que tinha desprezado o Jay por tempo demais para ainda acreditar que mereceria sua amizade, mas acho que o milagre de ter conseguido o carinho do Fantasma pela manhã me fez acreditar que poderia conseguir qualquer coisa, mesmo que não fosse verdade.
— Não aconteceu nada Jane, eu só estou com alguns problemas e não queria incomodar. Só vim fazer uma oferta de negócios para ele. — Expliquei, tentando secar os meus olhos e a forma como ela não desviava os olhos de mim, parecia gritar o quão indigna de confiança eu era. — Não se preocupe, eu já estou indo embora. — Afirmei, me levantando do sofá e enxugando as lágrimas do meu rosto com a manga da minha blusa comprida, mesmo que nem ao menos conseguisse manter meus pés firmes no chão.
— Não era bem isso que você parecia estar oferecendo para ele quando entrei aqui. — Amélia disse em um tom acusador e nem ao menos tive forças para rebater suas ofensas.
— Tia, por favor, já chega! Não está vendo que ela está chorando? — Jane perguntou, me defendendo da mais velha e ergui a cabeça, surpresa com sua atitude, mesmo que ela já tenha demonstrado sua compaixão diversas vezes.
— Isso são lágrimas de crocodilo. Como você pode acreditar nela Jane? Será que já se esqueceu tudo que ela fez? — Amélia retrucou, e a última coisa que eu queria era trazer mais problemas para a Jane que deveria estar curtindo sua lua de mel em paz.
— Tia, já pedi para parar de dizer essas coisas! A senhora não está assistindo para que eu batize o Oliver na igreja para que ele seja limpo dos seus pecados? Como pode acreditar que um bebezinho que nem ao menos tem pecados pode ser limpo e não acreditar que uma pessoa que está demonstrando mudanças possa ter se arrependido dos que cometeu? — Jane perguntou decidida, deixando sua tia sem palavras e suas palavras me emocionaram, mas a esse ponto só queria sair daquela sala onde olhos e dedos se apontavam para mim, me lembrando de tudo de ruim que já fiz, sabendo que se eles já me odiavam agora, isso seria ainda pior se soubessem o que fiz.
— Sua tia tem razão Jane, eu não mereço o seu perdão, o de nenhum de vocês na verdade. Melhor eu ir embora. Jay, vou esperar uma resposta sobre a empresa até às três da tarde, se passar disso, vou à empresa visitar a Jinhee e oferecer as ações a ela. — Afirmei e me virei para ir embora.
— Não! — Jane disse em um tom de voz mais alto e urgente que fez com que eu levantasse a cabeça para encará-la. — Todos merecem perdão se o arrependimento for verdadeiro e eu acredito que o seu é. Tem certas coisas que é impossível fingir e o cuidado com que você ajudou a cuidar do meu bebê quando ele era prematuro. Quando eu estava vivendo os momentos mais difíceis da minha vida, você me ajudou até mesmo quando eu precisava ir ao banheiro e percebia quando eu estava sentindo dor mesmo quando os homens não percebiam. Alguém que fica um mês em outro país para ajudar uma pessoa que nem ao menos conhece em um puerpério difícil, merece sim o meu perdão e eu já te perdoei a tempo demais para ainda estarmos falando nisso. — Jane explicou com a voz firme e a cada palavra que ela falava eu me emocionava um pouco mais. – Jennie você não pode sair assim que nem uma doida na rua. Está chorando e com a maquiagem toda derretida! — Jane apontou e olhei para baixo notando que tinha sujado minha blusa clara.
Quando voltei a encará-la, quase não aguentei. Tinha algo nos olhos da Jane que me fazia querer contar tudo para ela. Que me fazia querer pedir sua ajuda. Não sei se era porque eles eram tão grandes e expressivos ou pelo fato de que ela olhava para qualquer pessoa com a doçura e a determinação de quem parece ser capaz de resolver todos os problemas, mesmo que eu soubesse que no fundo, muitas vezes ela não conseguia nem mesmo resolver os dela.
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The Maid
FanfictionUma jovem do interior do Brasil ganha uma bolsa de estudos em Artes na Coréia do Sul e para se manter lá pede ajuda a sua tia que trabalha a anos como Governanta da família Park, por indicação de sua tia a jovem começa a trabalhar na casa do filho m...