Fantasmas do passado

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Jiyong me encarava com os olhos cheios de perguntas, mas seu brilho me iluminava mesmo em meio a escuridão. Eu chorava e me agarrava a sua roupa em completo desespero, ele não podia sair, não podia ir lá fora sem saber quais perigos o aguardam. Me agarrei ao seu pescoço, mesmo sabendo que seria incapaz de segurá-lo por muito tempo. O Jiyong era como o vento que quando decidia sua direção nada poderia pará-lo e pensar nisso era desesperador, pois ao mesmo tempo que eu queria contar para ele tudo que estava acontecendo, eu não podia arriscar perdê-lo para o meu passado.

— Tá tudo bem, eu vou só ver o que houve com a luz. — Jiyong explicou e neguei com a cabeça, me agarrando aos seus cabelos.

— Não! Por favor, fica comigo! Eu tô te implorando para não me deixar sozinha! — Insisti e senti seu sorriso próximo ao meu pescoço enquanto ele me abraçava, acalentando meus medos.

— Eu não sabia que você tinha medo do escuro. Parece tão durona, mas é só uma garotinha. — Ele comentou passeando com suas mãos pelas minhas costas e concordei.

Deixaria ele pensar que tenho medo do escuro, mesmo sabendo que o bicho papão ao qual eu temia, era de carne e osso.

— Tenho pavor, não me deixa sozinha! — Pedi mais uma vez e ele concordou, mas ao ouvir outro barulho, se afastou um pouco segurando minha mão.

— Olha, eu preciso ver o que está acontecendo, provavelmente é só algum bicho na sala de manutenção, mas a essa hora o síndico dificilmente vai ver. Se não quiser ficar sozinha, pode vir comigo, tudo bem? — Ele perguntou, pegando seu celular no bolso e ligando a lanterna para iluminar nosso caminho, o encarei com os olhos cheios de lágrimas, negando com a cabeça, mas concordei.

Ele me guiou para fora do quarto e quando passamos pela sala eu peguei o taco de baseball dele que ficava pendurado na parede, fazendo ele rir e me encarar confuso.

— Só por precaução. — Expliquei e ele deu risada, continuando seu caminho. Quando ele abriu a porta do apartamento, ergui o taco, pronta para destruir quem quer que estivesse à espreita, mas não havia ninguém e tudo que ouvimos foi um miado insistente e rouco.

— Viu? Eu disse que não era nada demais, é só o fantasma. — Jiyong comentou e arregalei os olhos sentindo um arrepio percorrer meu corpo.

— Fantasma? Como você diz que tem um fantasma aqui com a maior tranquilidade do mundo? — Pergunto assustada, mas não paro de olhar ao redor, atenta ao menor sinal de movimento, dominada pela paranóia e ouço a risada do Jiyong.

— Não é nenhum fantasma, é um gato que os moradores do prédio chamam de fantasma, pois raramente conseguimos ver ele. Sabemos que ele vive no prédio, mas não sabemos exatamente onde e ninguém consegue se aproximar dele porque ele é muito bravo. A dona dele morreu há mais ou menos um ano e depois disso ninguém conseguiu se aproximar dele. — Jiyong explicou e meu coração se apertou conforme ouvimos outro miado ainda mais alto, como se fosse um pedido de ajuda e começamos a subir as escadas em direção àquele som estridente.

— Porque nunca chamaram o controle de animais? — Perguntei, curiosa e o Jiyong deu de ombros.

— Já tentaram chamar o controle de animais várias vezes, mas ele vive escondido e parece que sabe quando eles vêm. Já procuraram nos forros das casas, nos encanamentos e até no esgoto, nunca o encontraram. Alguns moradores dizem que é como uma espécie de folclore, outros dizem que ele só será adotado por alguém com o coração puro, como na história do Rei Artur, eu acho que ele só está assustado e não confia em ninguém. — Jiyong explicou e a cada palavra meu coração se apertava.

Nunca gostei muito de animais, mas imaginava o quão assustado e sozinho esse pobre gato deveria se sentir. Como já estávamos na cobertura, a escada nos levou até o terraço, onde havia um pequeno cômodo de manutenção e ao nos aproximarmos o som ficou ainda mais alto. Quando o Jiyong abriu a porta, pudemos ver o gato branco que tinha um pelo longo e olhos expressivos de cores diferentes. Um era azul e o outro verde, tornando-o ainda mais adorável. Ele estava visivelmente assustado, por isso rosnava e bufava mostrando seus dentes, mesmo estando preso em diversos fios elétricos.

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