𝟬𝟵. Receios

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Sina Deinert

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Sina Deinert





O burburinho abafado, mas presente, que deduzo vir da televisão na sala, dificulta para mim em pegar no sono novamente. Uma vez tendo consciência que o som que chega aos meus ouvidos é de um ritmo carnavalesco, fica ainda mais complicado ignorar.

Porquê caralhos Sabina está ouvindo Léo Santana tão cedo?

Rolo preguiçosamente até a beirada da cama e tateio o móvel ali, apanhando meu celular a fim de conferir o horário. Descubro que afinal não era tão cedo assim. 14:10. O brilho do visor quase queima minhas retinas devido a falta de preparo pelo quarto se encontrar na escuridão, em sua maior parte.

Graças as novas cortinas blackout quais investi e valeram cada centavo, além de ter me habituado a flexibilidade que as férias me garantem, vinha tendo dias mais curtos e noites mais longas sempre que não tinha compromisso com alguma atividade no dia seguinte.

Embora hoje meu corpo proteste para que eu não levante da cama independente da possibilidade de retomar um cochilo ou não.

O dia anterior em tempo integral no abrigo me quebrou.

Agarro um dos meus travesseiros e o abraço com as pernas. Sou capaz de voltar a relaxar por poucos segundos antes que o celular comece a tocar. Pego-o outra vez, e agora mais adaptada, vejo o contato de Alex Deinert descrito na tela à solicitar uma chamada por vídeo.

Era muita falta de conformidade da mulher que me pôs no mundo se contentar com uma chamada de voz básica.

Perco a primeira tentativa enquanto limpo o canto dos olhos e ajeito minha posição para que não pareça que acordei naquele instante, mesmo que minha mãe sequer se importe com isso. Como esperei, ela retorna na sequência.

Boa tarde!- cumprimenta com o habitual bom humor a que estou acostumada assim que atendo a chamada.

Através da imagem que distingo ao fundo, consigo adivinhar que ela encontra-se na varanda do apartamento em São Paulo, preenchida por mudas de amor-perfeito penduradas em pontos nas paredes e que dividem espaço com um e outro quadro que meu pai pinta. Se fechar os olhos e me concentrar bem, posso sentir o cheiro das especiarias que ela planta no jardim criado ali, usadas para temperar a comida e fazer seus chás.

Adoro aquela varanda.

— Boa- acabo deixando sair num bocejo, a voz grogue me denunciando. 

O áudio transmite sua breve risada.

Te acordei, foi?- faço um sinal negativo com a cabeça. — Então posso saber o que, ou quem, parece ter a deixado tão cansada, Sina Maria? 

Sua entonação é pura presunção misturada à curiosidade. A mulher até mesmo aproxima o celular do rosto numa clara tentativa de espiar os ângulos que minha câmera enquadra. Consigo ler a marca de seus óculos com tanta proximidade.

𝗗𝗲𝘀𝗽𝗿𝗲𝘁𝗲𝗻𝘀𝗶𝗼𝘀𝗼, 𝗻𝗼𝗮𝗿𝘁Onde histórias criam vida. Descubra agora