Jisung On
A primeira coisa que ouvi foi o despertador. 6h da manhã. Um som agressivo e insistente que parecia uma broca perfurando meus tímpanos. Antes mesmo de abrir os olhos, minha mão já vojou para o interruptor, mas em vez de desligar, agarrei o aparelho e o arremessei contra a parede com toda a força que meu corpo de ômega permitia.
O plástico estalou em mil pedaços. O silêncio que se seguiu foi abençoado, mas de curta duração.
— Porra — murmurei, cobrindo o rosto com o travesseiro. Agora ia ter que encher o saco do Changbin para comprar outro. Como um ômega de 19 anos, sem emprego fixo e dependente do meu irmão alfa para praticamente tudo, minhas opções se resumiam a implorar ou ameaçar contar para o Cha hyung sobre a coleção secreta de bichinhos de pelúcia que ele escondia no armário.
Falando no capeta...
— HANNIEEE! ACORDA, MEU PRÍNCIPE ENCANTADO!
A voz do meu irmão ecoou do corredor, mais alta e estridente que qualquer despertador. Ele cantava como uma gralha em plena serenata de acasalamento, ignorando completamente que eram 6h da manhã de uma segunda-feira.
— PORRA, CHANGBIN! VAI TOMAR NO SEU CU! — gritei de volta, atirando o travesseiro contra a porta.
Meu corpo protestou ao me levantar, cada músculo se recusando a aceitar a realidade. A depressão sempre me puxava de volta para os lençóis, como um peso invisível preso aos meus tornozelos. Mas hoje eu tinha que ser forte. Ou pelo menos fingir bem.
Me vesti no piloto automático: calça cargo preta (com bolsos suficientes para esconder minhas crises existenciais), moletom creme (que o Felix jurou fazer meus olhos puxados parecerem mais dramáticos) e meus All Stars gastos. A corrente de prata no pescoço — um presente do Bin no meu aniversário — completou o visual.
Me examinei no espelho. Cabelos castanhos bagunçados de propósito, olhos amendoados com olheiras profundas (herança das noites em claro), corpo esguio mas definido. Modéstia à parte, eu tava um gostoso. Um gostoso funcionalmente depressivo, mas ainda assim um gostoso.
Na cozinha, encontrei Changbin tomando café com a pose de quem governava o mundo. Seu cheiro de alfa — canela e segurança — dominava o ambiente.
— De mau humor já de manhã, Han Jisung? — ele perguntou, erguendo a xícara com ar superior.
— Com todo respeito, hyung... vai se foder.
— Olha o respeito, garoto! Eu sou teu irmão mais velho.
— Respeito o caralho, vai encher o saco do seu namorado — retruquei, pegando uma maçã da fruteira.
Ele corou instantaneamente, murmurando um "vai tomar no cu" quase inaudível. Changbin, meu irmão alfa de 22 anos, se fingia de hétero mais blindado que cofre de banco, mas eu via os olhares que ele dava para o Chan hyung quando pensava que ninguém estava olhando. Um gay incubado. Pock ainda por cima. Eu não me aguentava.
No fundo, eu o entendia. Dois alfas juntos ainda eram tabu em muitos círculos, e a sociedade coreana tradicional que nossos pais representavam jamais aceitaria. Eu, como ômega, tinha minhas próprias batalhas, mas pelo menos não precisava esconder quem realmente era.
— Já tomou seus remédios hoje, Ji? — a voz do Bin suavizou.
— Não, vou tomar agora — respondi, abrindo o armário.
O ritual era sempre o mesmo: pote branco, tarjas pretas, a promessa química de um dia suportável. A depressão não era o monstro dramático que mostravam nas novelas — não era sobre chorar o tempo todo ou falar em morte. Era sobre o vazio entre um momento e outro, a dificuldade de encontrar motivação para coisas simples como levantar da cama ou tomar banho. Só o Bin e o Felix sabiam. Não por vergonha, mas porque não era da conta de ninguém.
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Minsung: Tentação
Фанфикшн❝| Por ser um ômega extremamente atraente com seu cheiro de morango, Jisung era perseguido por vários alfas espertinhos e extremamente desagradáveis. Em uma festa, o ômega acaba se escondendo no banheiro, e encontra o alfa lúpus Lee Minho,com seu ch...
