Sob os Céus do Solstício - Helion

𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝑜𝓁𝑜 𝒟𝒾𝒸𝒾𝒶𝓃𝓃𝑜𝓋𝑒

A luz suave da lua penetrava pela janela entreaberta, lançando sombras dançantes nas paredes do quarto de Brisa. Ela estava sentada na beirada da cama, os olhos fixos no chão, mas a mente vagando por lugares distantes. O silêncio da noite parecia mais denso, quase palpável.

Brisa passou os dedos pelos cabelos, tentando acalmar a inquietação que se alojara em seu peito. O Vínculo de Essência com Helion era uma constante presença em sua mente, como uma melodia sutil que ela não conseguia deixar de ouvir. Era um laço profundo, mais forte do que qualquer coisa que já havia experimentado, uma conexão que desafiava explicações lógicas. Às vezes, sentia como se pudesse quase ouvir os pensamentos dele, como se suas emoções estivessem entrelaçadas em uma dança eterna.

Mas, junto com essas sensações, vieram as palavras duras e frias de sua mãe, ressoando em sua mente como um eco sombrio. Palavras que haviam moldado sua visão do mundo e de seu lugar nele.

Você é uma loba, Brisa. Lobos são caçadores. Lobos não amam. Lobos não se entregam.

A ideia era ao mesmo tempo tentadora e assustadora. Desde criança, Brisa havia sido treinada para ser uma guerreira, para ver o mundo em termos de sobrevivência e batalha. Amar, ou até mesmo pensar em amor, era considerado uma fraqueza que poderia comprometer sua capacidade de lutar e proteger aqueles que amava.

Sua mãe não amava ninguém, além de si mesma. Ela apenas tolerava suas irmãs pois elas eram perfeitas, enquanto Brisa era o elo defeituoso da família.

O único que ela acreditava que a amava era seu pai. Ele era o único que havia tentado lutar por ela durante aqueles anos que havia vivido com a sua família, mas, ele não conseguiu vencer sua mãe e suas irmãs.

Florian havia se unido a Viola apenas por serem da mesma casta, seus Vínculos de Essência nunca se encaixando. Brisa sempre acredito que seu pai nunca seria vinculado a sua mãe, pois os dois não combinavam.

Só havia sido o caminho mais fácil.

-Ela não se encaixa, - Viola declarara em um conselho de família, seu tom frio e decisivo como sempre - Ela é uma ameaça à nossa ordem. Ela precisa ser exilada.

Brisa se lembrava vividamente daquelas palavras, da sensação de desespero que a dominou ao perceber que estava prestes a perder tudo o que conhecia. Dahlia e Calla não hesitaram em concordar com a mãe. Elas sempre seguiram o exemplo dela, e seus olhos estavam cheios de julgamento e desprezo.

No entanto, Florian havia se levantado contra todas as expectativas. Ele havia sido a única pessoa a lutar por ela, a única que se posicionou contra a decisão de exílio.

-Ela é minha filha - dissera ele, sua voz firme e determinada, embora houvesse um tremor de emoção que Brisa nunca esqueceria. - Ela merece uma chance. Ela merece ser amada e aceita pelo que é.

Brisa lembrava-se de estar escondida atrás da porta, ouvindo a discussão feroz que ocorria na sala de reuniões. O coração dela batia acelerado enquanto seu pai argumentava com uma paixão e determinação que ela nunca havia testemunhado antes. Ele estava disposto a enfrentar a fúria de Viola e a frieza de suas irmãs por ela, e isso fez com que Brisa se sentisse vista e protegida.

Mas, no fim, Florian havia perdido. A decisão de Flora prevaleceu, e ele foi forçado a aceitar o veredito. O exílio era inevitável. Brisa seria enviada para longe, afastada da única família que conhecia, simplesmente por ser diferente.

-Sinto muito, minha pequena - Florian lhe disse, com lágrimas nos olhos quando a notícia foi dada a ela - Eu tentei, Brisa. Eu realmente tentei. Nunca duvide de que eu te amo.