𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝑜𝓁𝑜 𝒮𝑒𝓉𝓉𝑒

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Brisa voltou para o seu quarto assim que o Círculo Íntimo partiu, com as palavras martelando em seu cérebro.

"Que você é algo extremamente valioso e que vai chamar a atenção."

Que valor ela tinha? Passou a ser rejeitada pela família assim que recebeu o seu dom, sendo sempre deixada de lado em todo lugar que frequentava.

Apenas... Não fazia sentido.

risa encontrou conforto na serenidade do espaço, mas rapidamente se perdeu em um turbilhão de pensamentos. Ela se sentou junto à janela, olhando para o horizonte distante.

Durante três dias, Brisa permaneceu trancada em seu quarto, absorvida em sua mente. Os Aetherianos não precisavam comer ou dormir regularmente, e Brisa se aproveitava dessa característica, esquecendo-se completamente de se alimentar ou descansar. Os dias passaram-se sem que ela percebesse, enquanto mergulhava cada vez mais fundo em suas pensando no que tinha ouvido.

A luz do sol mudava ao longo do dia, criando sombras e brilhos que dançavam pelo quarto, mas Brisa não notava as transições. Sua mente estava ocupada com um ciclo incessante de memórias, dúvidas e planos, alheia ao passar do tempo e às necessidades físicas. O ambiente ao redor dela parecia suspenso, como se o tempo estivesse parado em seu espaço pessoal.

Aurora começou a perceber sua ausência nas refeições e nas atividades diárias do palácio. Nos primeiros dias, Aurora respeitou a necessidade de isolamento de Brisa. No entanto, ao terceiro dia, a preocupação de Aurora aumentou. Brisa não aparecia para as refeições, não era vista nos corredores e sua energia parecia distante e concentrada em um único ponto.

-Helion - Aurora o chamou, batendo na porta do escritório.

-Sim? - ele perguntou, sem erguer os olhos.

-Brisa não sai do quarto a três dias - Aurora afirmou, chamando a atenção de Helion - Não sei se ela está dormindo, mas tenho certeza de que não está comendo. Nem os guardas a viram andando pelos corredores. Vim avisar você, porque, de todo mundo, você é o mais próximo à ela - explicou, e Helion se levantou.

-Vou até o quarto dela - ele disse, caminhando para fora do escritório.

Enquanto caminhava, Helion refletia sobre o que exatamente o preocupava. Seria a intensidade de seus poderes? A maneira como ela parecia carregar o peso do mundo em seus ombros? Ou talvez fosse algo mais profundo, algo que ele ainda não conseguia nomear. Ele se lembrava das expressões em seu rosto, dos momentos em que ela parecia perdida em seus próprios pensamentos, e de como isso o afetava de uma maneira que ele não estava acostumado.

Quando Aurora veio até ele, preocupada com a ausência de Brisa, Helion sentiu uma urgência que não conseguia ignorar. Ele se perguntava se sua preocupação era excessiva, se estava projetando seus próprios medos e inseguranças nela. Mas a verdade era que ele não conseguia afastar a necessidade de garantir que ela estivesse bem.

Helion finalmente chegou à porta do quarto de Brisa. Ele hesitou por um momento, mas bateu suavemente na porta, mas, como esperava, não houve resposta. Com cuidado, ele abriu a porta e entrou.

O quarto estava em silêncio, exceto pelo suave sussurro da brisa que Brisa sempre gerava inconscientemente. Ela estava sentada junto à janela, olhando para o horizonte distante, completamente absorta em seus pensamentos.

-Brisa? - ele a chamou, mas não obteve resposta.

Aproximando-se lentamente, ele colocou uma mão gentilmente no ombro de Brisa. Ela sobressaltou-se ligeiramente, seus pensamentos dispersando-se como névoa ao vento. Virando-se para encontrar os olhos de Helion, ela percebeu a preocupação genuína em seu olhar.

-Ah, oi - ela o cumprimentou - Aconteceu alguma coisa?

-Você está a três dias sem sair do quarto - ele respondeu e Brisa arregalou levemente os olhos.

-Três dias? - perguntou confusa.

-Não percebeu a passagem do tempo? - Helion perguntou e Brisa negou com a cabeça - Não sentiu fome? Não dormiu? - ela negou com a cabeça - Como inferno isso é possível?

-Eu não preciso fazer isso - Brisa começou a explicar - Os Aetherianos são seres de energia pura. Nossa conexão com os elementos e com a magia ao nosso redor nos permite sustentar nossos corpos e mentes de maneiras que outros seres não conseguem. Não precisamos necessariamente de comida ou sono para sobreviver ou manter nossa vitalidade. Podemos absorver a energia mágica do ambiente, e isso nos sustenta - ela pausou - Então, para nós, comer e dormir são mais hábitos sociais do que necessidades físicas. Fazemos isso para sermos mais aceitos entre os feéricos, principalmente, e para nos integrarmos melhor em suas sociedades. Mas, em momentos de necessidade ou mesmo se quisermos, podemos nos abster dessas atividades por longos períodos sem sermos afetados - ela o encarou - Me desculpe não ter explicado a vocês, estive tão acostumada a ficar sozinha ou com seres da mesma espécie que eu que acabei me esquecendo de que vocês não conhecem o meu mundo.

-Cada dia você me surpreende mais - Helion comentou e Brisa arqueou a sobrancelha - De um jeito bom.

-Me sinto melhor agora - ela comentou, brincando, mas Helion não pode evitar de perceber como ela havia interpretado a sua frase de um jeito negativo - Ah, mudando de assunto, encontrei algo nesse livro que pode me ajudar com meus poderes - ela disse, levantando-se do parapeito da janela, indo até a penteadeira e pegando um livro, que tinha uma página marcada com um grampo de cabelo.

Ela pegou o livro, abrindo na página marcada e o estendendo na direção de Helion, que o pegou, começando a ler o conteúdo.

-É uma poção calmante. Não é uma solução permanente, mas pode me dar um pouco de controle enquanto procuramos outra forma - explicou e Helion franziu a testa.

-Você quer se drogar? - ele perguntou, sentindo o sangue ferver - Você realmente acha que essa é a solução? - Brisa suspirou.

-Helion, eu só estou tentando encontrar uma maneira de lidar com isso. Eu não posso continuar assim, sem controle...

-Isso vai te fazer mal - ele a interrompeu, balançando a cabeça - Você vai passar mal até se acostumar com isso, se é que vai se acostumar. E mesmo que se acostume, isso não é uma cura. É uma muleta, uma prisão.

-E então, o que você sugere? - Brisa retrucou, também começando a se irritar - Até olharmos as mil bibliotecas, eu posso já ter destruído a droga desse país inteiro! - ela rosnou e um trovão soou - Olha a porcaria desse tempo fechando de novo!

-Brisa, eu entendo o quanto você está lutando com seus poderes. Mas essa poção... essa não é a solução.

-Helion, eu preciso fazer algo. Não posso continuar assim, sem controle. Isso é uma chance, uma esperança - ela disse, apertando os lábios, e outro trovão soou. Helion balançou a cabeça, fechando o livro com um baque.

-Não, Brisa. Não assim. Não dessa forma. Vamos encontrar outra maneira, um jeito que não envolva você se envenenar. Eu prometo que não descansarei até encontrar uma solução, mas isso... Isso não é uma opção - Brisa suspirou audivelmente.

-Macho teimoso - resmungou - Se eu ouvir alguma reclamação sua vindo em relação a qualquer coisa relacionada ao clima vou jogar esse livro específico na sua cabeça - ela ameaçou e Helion sorriu.

-De acordo - ele respondeu - E agora, venha tomar um café da tarde comigo - agarrou o braço dela.

-Qual parte do "eu não preciso comer" você não entendeu? - ela perguntou, sendo arrastada pra fora.

-Entendi tudo, mas não gosto de comer sozinho e todos estão ocupados - ele respondeu calmamente, a puxando até a cozinha.

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Helion está começando a se sentir diferente em relação a Brisa 🫣🫢

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Volto em breve!

Sob os Céus do Solstício - HelionOnde histórias criam vida. Descubra agora