𝒞𝒶𝓅𝒾𝓉𝑜𝓁𝑜 𝒟𝑜𝒹𝒾𝒸𝒾

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Duas semanas depois, Helion estava sentado em seu escritório, revisando documentos e correspondências que haviam chegado naquela manhã. O ambiente ao seu redor estava silencioso, exceto pelo ocasional farfalhar das folhas e do sussurro do vento que passava pelas cortinas abertas.

Aurora adentrou a sala com uma leveza que parecia não perturbar o ambiente, como se fizesse parte daquela luz solar que banhava o local. Helion levantou o olhar de seus papéis e encontrou os olhos dela, que o observavam com uma mistura de curiosidade e compreensão. Hemera sempre teve um talento especial para perceber quando algo estava fora do lugar ou quando alguém estava perturbado.

-Bom dia - ela o cumprimentou.

-Bom dia - ele respondeu, voltando seu olhar para os papéis.

-Vi o presente que deu para Brisa após Hemera invadir o quarto dela - Aurora comentou, despreocupadamente - Um dos colares da sua mãe - Helion suspirou.

-Eu não sei ao certo porque fiz isso - Helion respondeu - Só me pareceu... Certo.Desde que conheci Brisa, houve algo nela que despertou uma parte de mim que há muito tempo estava adormecida. Algo que me faz querer proteger e apoiar, como se houvesse um laço invisível que nos conecta - a palavra laço saltou aos ouvidos de Aurora.

-Você acha que... - ela começou, e Helion passou a mão pelos cabelos.

-Não sei - Helion disse - Brisa é muito jovem, mas, ao mesmo tempo, parece que a conheço há séculos.

-Sei que falar que ela é jovem apenas biologicamente por causa da espécie não vai rolar, afinal, você tem mais de 800 anos - Aurora comentou e Helion bufou - É só que, vocês dois juntos, parece... - pensou - Natural.

-Ah! Pela Mãe! Nós precisamos arrumar você! - a conversa foi interrompida pela voz de Hemera.

-Eu só vou tomar um sorvete - ouviram Brisa retrucando.

-É o seu primeiro encontro. Não pode ir parecendo uma mendiga - logo viram as duas passando pela porta aberta do escritório. Brisa sendo praticamente arrastada por Hemera.

-Quem vai ter um encontro? - Aurora enfiou a cabeça para fora do quarto.

-O rapaz da livraria chamou Brisa pra tomar sorvete! - Hemera respondeu, e logo ouviram a porta do quarto bater. Aurora riu sozinha, antes de olhar para Helion.

-Bom, é melhor você se decidir logo - ela disse simplesmente, antes de sair do escritório.

Já no quarto, Brisa pensava onde estava com a cabeça quando contou para Hemera sobre o seu encontro. Agora, ela estava sentada na cama enquanto via a fêmea correr de um lado para outro, pegando suas roupas.

Depois de muito mexer no seu guarda-roupa, Hemera separou um conjunto formado por uma calça de cintura alta e um top.

O top era de um cetim macio, em um tom de azul profundo que lembrava o céu noturno. Pequenos bordados de prata delineavam formas de constelações na parte frontal, capturando a luz de forma a parecer que as estrelas realmente brilhavam. Tinha um decote uave em forma de coração que destacava o pescoço e os ombros de Brisa. As mangas eram curtas e levemente bufantes, adicionando um toque de romance ao conjunto. Havia também uma leve abertura na parte inferior, revelando apenas uma sugestão de pele na cintura

A calça era feita do mesmo tecido cetim, com um design de cintura alta que acentuava a silhueta de Brisa de forma lisonjeira. A calça era fluida, com um corte que alongava as pernas e permitia liberdade de movimento. O cós da calça era adornado com um cinto fino do mesmo material, com uma pequena fivela de prata. As pernas da calça tinham uma ligeira abertura lateral, que dava um ar de leveza e graça a cada passo.

-Você está linda! - Hemera exclamou - Quer dizer, você já é linda, mas... - parou - Você me entendeu - Brisa riu.

-Entendi, Hemera - ela concordou - Obrigada!

-De nada - Hemera respondeu - Agora vá, antes que se atrase.

☀️

Helion observava de longe enquanto Brisa saía acompanhada por um jovem macho da corte, cujo nome ele não se importava em recordar. O macho era alto e esbelto, com uma com cabelos dourados que refletiam a que reluzia à luz dos tocheiros do salão. Seus movimentos eram graciosos, quase dançantes, contrastando com a postura mais reservada e segura de Brisa ao seu lado.

Helion sentiu uma onda de emoções conflitantes inundar sua mente. Por um lado, ele sabia que não tinha nenhum direito sobre Brisa. Ela era uma fêmea livre, uma força da natureza que não podia ser contida ou possuída. No entanto, ele não podia negar a pontada de ciúmes que queimava em seu peito ao vê-la com outro macho.

O mesmo sentimento que tinha quando a via próxima a Sigel ou Apollo.

O macho inclinou-se para Brisa, dizendo algo que a fez rir, uma risada clara e encantadora que ecoou pelo jardim e subiu até onde Helion estava. Ele apertou a borda da sacada, os dedos ficando brancos com a força. Quem era aquele macho, e por que ele estava tendo um efeito tão irritante sobre ele?

Helion não conseguia desviar o olhar enquanto o estranho tomava a mão de Brisa, levantando-a para os lábios em um gesto que, aos olhos de Helion, parecia deliberadamente provocativo. O calor da raiva se misturava à frieza do ciúme, uma combinação tóxica que turvava seus pensamentos.

Era a primeira vez que ele a via com outro homem assim, e, por mais que ele tentasse se convencer de que não havia nada de especial naquela cena, o nó em seu estômago dizia o contrário. Ele sabia que, para Brisa, aquilo poderia ser apenas uma amizade, uma simples saída para arejar a mente, mas a presença do outro homem fazia com que tudo parecesse mais ameaçador, mais pessoal.

Ele se virou, voltando para seu escritório, onde documentos esperavam por sua atenção. O trabalho seria sua distração, um refúgio seguro da tempestade interna que ameaçava desabar. Mas mesmo enquanto se sentava à sua mesa, a imagem de Brisa e seu acompanhante persistia, como um espectro que se recusava a desaparecer.

-Sinto o cheiro de ciúme - Hemera comentou, escorando-se no portal da porta.

-Você também? - Helion resmungou e Hemera suspirou.

-Você está interessado nela, Helion - Hemera afirmou - E não da forma como fica quando está interessado em algum amante. Dessa vez, parece mais... Verdadeiro.

-Eu... Não sei o que pensar - Helion admitiu - Nunca me senti assim - confessou - Nem com Lia.

-Você precisa se decidir, Helion - Hemera afirmou - Lia foi bom enquanto durou, mas, ficou no passado, mas por escolha dela do que sua - encolheu os ombros - Você precisa se permitir viver, ou quer morrer sozinho? - perguntou retoricamente - Eu super aceitaria Brisa como Grã-Senhora - brincou e Helion riu.

-Vou pensar - prometeu, e Hemera sorriu, saindo do escritório.

Helion não conseguiu mais trabalhar aquela tarde, passando todo tempo pensando no que estava sentindo, até que, chegou a uma decisão.

Tentaria conquistar Brisa.

Mas, naquela mesma noite, ao descer as escadas assim que ouviu a voz dela, ele teve um baque.

Brisa estava de cabelos soltos.

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Decidi postar mais um capítulo hoje, porque estava inspirada 😬

Tivemos várias nuances nesse capítulo, e sobre o fato da Brisa ter soltado os cabelos, não me odeiem, no final tudo dá certo (talvez)

Não se esqueça de deixar o seu feedback e a sua estrelinha *-*

Volto em breve!

Sob os Céus do Solstício - HelionOnde histórias criam vida. Descubra agora