Lie - Cap - 17

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"So let's put the 'end' in friends" — FRI(END)S
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O corpo de Lixy repousava no centro do velório, cercado por flores que mal podiam esconder a brutalidade de sua morte. Eu estava lá, no canto, observando tudo com uma sensação de irrealidade. Nunca pensei que a morte dela me afetaria tanto. Não éramos amigas, e nosso relacionamento era marcado por desentendimentos e trocas de farpas. No entanto, ver Hitto, meu melhor amigo, em lágrimas, partiu meu coração de uma forma que eu não esperava.

Hitto sempre foi uma rocha para todos nós. Forte, corajoso, sempre disposto a ajudar. Mas naquele momento, ele estava desmoronando. As lágrimas escorriam por seu rosto, e a dor em seus olhos era insuportável de ver. Ele havia perdido sua irmã, e eu, que sempre fui tão dura com Lixy, sentia uma culpa esmagadora. Talvez, se eu tivesse sido mais compreensiva, se eu tivesse tentado conhecê-la melhor, as coisas pudessem ser diferentes. Mas agora era tarde demais para arrependimentos.

A tristeza no olhar das pessoas ao meu redor era evidente. Guno e Pixy, os pais de Lixy, estavam devastados. Guno, que sempre foi um homem forte e resoluto, parecia ter envelhecido anos em apenas alguns dias.

Bell estava lá também, de pé ao lado do corpo de Lixy, seus olhos vermelhos e inchados de tanto chorar. Elas tinham um amor que eu invejava, uma conexão profunda que agora estava irremediavelmente quebrada. Bell estava inconsolável, e eu queria tanto confortá-la, mas me faltava coragem. Meu próprio sofrimento parecia pequeno comparado ao dela, e eu não sabia se minhas palavras seriam bem-vindas.

Estávamos todos reunidos na clareira central, esperando pelo discurso de Guno. Ele subiu ao pequeno palco improvisado, o líder do acampamento e, mais importante para mim, o pai de Lixy. A dor em seus olhos era inegável, um reflexo do sofrimento que todos estávamos sentindo.

Enquanto ele começava a falar, sua voz forte e firme tremia ligeiramente, traindo a dor que ele tentava esconder.

— Amigos, família... Estamos vivendo tempos difíceis, mais difíceis do que qualquer um de nós poderia imaginar. Cada dia traz novos desafios, novos perigos. Mas é nesses momentos que precisamos ser mais fortes, mais unidos.

Eu observei atentamente, cada palavra dele ecoando em meu coração.

— Eu sei que muitos de vocês perderam pessoas queridas, assim como eu perdi. E sei que a dor de cada perda é uma ferida aberta que parece nunca cicatrizar. — Ele fez uma pausa, olhando para o horizonte como se buscasse forças. — Mas precisamos lembrar porque estamos aqui, porque lutamos. Lutamos por aqueles que já se foram, lutamos por aqueles que ainda estão aqui, lutamos por um futuro melhor.

Eu podia ver lágrimas acumulando-se nos olhos de alguns dos presentes, e eu mesma senti um nó na garganta. Guno continuou, sua voz agora mais firme.

— Minha filha, Lixy era tudo para mim. Perder ela foi como perder uma parte de mim mesmo. Mas eu sei que ela gostaria que eu continuasse, que eu lutasse. E é isso que faremos. Vamos continuar lutando, por eles e por nós mesmos.

O silêncio que seguiu suas palavras era pesado, mas também carregado de determinação. Guno desceu do palco e veio em minha direção. Seus olhos, apesar da dor, mostravam gratidão e força renovada.

— Vicna, obrigado por estar aqui, por ser parte desta família. Precisamos de pessoas como você agora, mais do que nunca.

Assenti, sem conseguir falar. As palavras de Guno tinham tocado algo profundo dentro de mim.

O velório foi um evento sombrio. Apenas dor e lágrimas. Cada um de nós havia perdido algo importante naquele dia, e a tristeza no ar era palpável. Quando tudo terminou, senti um cansaço que ia além do físico. Era um peso na alma, uma sensação de vazio que eu não sabia como preencher.

A notícia de termos conseguido salvar Vanita, alguém por quem eu nunca nutri afeição, parecia quase irônica diante da perda de Lixy. Eu me peguei pensando várias vezes durante o velório se tudo isso valera a pena. Vanita estava a salvo, mas a que custo? A alegria por sua salvação era ofuscada pela dor da perda de Lixy. Eu nunca gostei de Vanita, e essa antipatia agora parecia ainda mais insignificante diante da tragédia que estávamos enfrentando.

Nessa noite, como tantas outras antes, procurei conforto nos braços de Zawa. Não era a primeira vez que eu dormia com ele, e talvez não fosse a última, mas dessa vez, a necessidade era diferente. Não era apenas sobre o conforto físico, mas sobre a necessidade de sentir que eu não estava sozinha nesse mar de tristeza.

Nenhum de nós teve ânimo para o jantar coletivo, algo que sempre foi um ritual importante no acampamento. A comida estava lá, preparada, mas ninguém teve a força para comer. A tristeza era um peso nos ombros de todos, uma corrente invisível que nos prendia ao chão. Eu via nos olhos de cada um a mesma pergunta sem resposta: como seguir em frente?

Deitada ao lado de Zawa, senti uma lágrima solitária descer pelo meu rosto. Não era apenas pela perda de Lixy, mas por toda a dor acumulada ao longo dos anos. Perder alguém é sempre difícil, mas no nosso mundo, onde cada dia é uma luta pela sobrevivência, a perda parece ainda mais cruel.

Zawa me puxou para mais perto, suas mãos firmes mas gentis ao redor de mim. Não falamos muito. Às vezes, as palavras são desnecessárias, e naquele momento, o silêncio era nosso conforto. Apenas o som das nossas respirações, sincronizadas, e o calor de seu corpo ao meu lado eram suficientes para me lembrar que eu não estava sozinha.

Enquanto o sono finalmente me envolvia, pensei no futuro. Como seguiríamos em frente sem Lixy? Como Hitto encontraria a força para continuar sem sua irmã ao seu lado? Como Guno e Pixy lidariam com a perda de sua filha? E Bell, como ela encontraria consolo na ausência de sua amada? Eram perguntas que me assombrariam por muito tempo, mas eu sabia que, de alguma forma, precisaríamos encontrar respostas.

Naquela noite, dormi abraçada a Zawa, tentando encontrar um fragmento de paz em meio ao caos.

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