30 - Tudo muda e com toda razão.

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Pov Natália

A vida é uma coisa muito esquisita.

Quando eu era criança, meu sonho era ser atriz. Eu obrigava meus irmãos a ficarem sentados no sofá da sala enquanto eu performava lindamente uma música da Xuxa. Me sentia feliz, realizada. Como se eu tivesse nascido para fazer aquilo.

Mas aí, com doze anos, eu ganhei uma câmera verde de presente dos meus pais, mas eu sei que a ideia tinha sido exclusivamente dele, minha mãe não reparava tanto nos meus detalhes assim.

Papai dizia que eu era uma menina muito sonhadora e disposta para a vida. Ele me via observar as coisas e falava que pelos meus olhos as coisas ficavam mais bonitas.

E foi aí que o meu mundo mudou. Virou de cabeça para baixo.

Tudo o que eu achei que era o meu sonho, minha coisa mais preciosa, não era mais.

Aquela câmera mudou tudo em mim e mudou aquilo que eu queria ser.

Agora eu obrigava as pessoas a pousarem para as fotos. Passava o dia todo com a câmera pendurada no meu pescoço e atenta a todos os detalhes possíveis.

Era uma terapia.

Eu esquecia do tempo, colocava os meus fones de ouvido e levava meu antigo mp3 junto comigo para onde eu ia.

Eu ouvia muitas músicas no processo, e isso me deixava muito inspirada, mas uma em especial era o meu xodó, "Sangue Latino".

Essa sim fazia o meu corpo estremecer e se encher de vida. Como se as batidas do meu coração entrassem em consenso com o ritmo da música e isso me fazia sentir liberta de tudo. Até das minhas inseguranças e medos.

Eu me sentia uma super-heroína, capaz de tudo. Até mesmo de voar só para tirar a foto perfeita lá de cima.

E foi assim que quebrei o meu braço um dia andando pela propriedade. Como observadora que era, avistei uma árvore relativamente alta e pensei: Por que não subir nela? A vista deve ser linda e a foto mais ainda.

E com o meu espírito de aventureira, subi na árvore e me sentei em um dos galhos. Assim que posicionei a câmera no rosto e tirei a foto, me assustei com minha mãe me chamando desesperada por eu estar naquele lugar.

E foi assim que caí em cima do meu braço. Durante o caminho até o hospital, fui ouvindo bastante da boca da minha mãe, que não deveria ter subido ali que era perigoso demais. Mas eu estava nem aí, achava maneiro que iria colocar um gesso e todo mundo da escola poderia assinar.

E tinha tirado a foto perfeita.

Na adolescência, eu achava que seria pipa voada. Que não me apegaria a ninguém no mundo e assim que terminasse a escola iria fazer um mochilão pela Europa sozinha. Aproveitando a minha própria companhia.

Me achava muito descolada para namorar e me apaixonar por alguém.

Achava o amor uma coisa para os românticos. Não para mim.

Até novamente eu me enganar com a vida, e ter o meu destino entrelaçado pela menina bonita de olhos verdes, que entrava na sala do curso de inglês com certa timidez e blusas de anime. A menina com quem hoje vou subir no altar e dizer "sim".

O primeiro amor da vida de uma menina nunca é esquecido. No meu caso, foi o único também,

Foi natural, certeiro, como uma flecha direta no meu coração. Eu nunca tinha sentido essa sensação antes, estava com medo, mas feliz.

E depois que Carol foi embora, eu me fechei. E nem consegui me apaixonar de verdade por mais ninguém.

Querer ter a minha própria família então...fora dos planos.

Reconquistar - NarolOnde histórias criam vida. Descubra agora