''Ouvi dizer que pediste algo para testar este quebra-cabeça, o Novo Mundo (...)''
-Walt Whitman (Folhas de Relva)
DEZEMBRO
Eu não tinha culpa se minha irmã havia pegado os melhores genes da junção estranha porém funcional que eram meu pai e mãe, e assim se tornou uma pessoa melhor. Não seria justo que ela fosse a filha preferida? Eu era bem mais complicada. Eu não me considerava uma pessoa ruim, mas não acredito que me encaixaria no que algumas pessoas chamam de uma pessoa boa, que todos gostam. Culpo a minha mãe por ser loira, e eu ter pego isso dela. As pessoas costumam me predefinir ao verem meus fios claros na cabeça. Não as julgava, eu era difícil. Mimada na maioria das vezes. E rica. Algumas pessoas não sabem lidar com isso, e eu costumava ser mesmo bem pretensiosa, mas acho que não tinha relação com a questão financeira, e sim com meu gene realmente ser difícil.
Eu nunca me importei com o fato da minha família ter muito dinheiro, não sou burra. Quando as pessoas que me conheciam a vida inteira me olhavam elas pensavam: "Monique Peterson, garota rica". Eu sabia viver com isso, nunca foi um problema. E ainda assim, a primeira mudança em minha vida foi tingir meu cabelo de castanho escuro. Era mais fácil não ter pessoas falando. Não que eu me importasse com a opinião de outros, mas eu queria ser mais atrelada ao que eu costumava ser: confiante, destemida e firme. As coisas boas que ser tão difícil me trouxeram. Minha mãe diria que essas três qualidades são na verdade: impulsiva, irracional e teimosa. Era uma perspectiva.
Quando eu fui para Nova York, as pessoas também pensavam assim. Eu estava numa faculdade de ponta, morando num apartamento de luxo e usando marcas famosas dentro do campus. Eu me utilizei da maioria dos benefícios que o dinheiro me trouxe a vida toda, nunca foi uma questão. Pelo menos dos benefícios que meus pais conseguiam aceitar.
Mas Evan Griffin foi o primeiro que conseguiu fazer eu sentir vergonha sobre ter dinheiro, de ter privilégios, algo que nunca aconteceu em meus vinte e nove anos de idade.
-Não se preocupe, eles vão perceber que você foi uma decisão precipitada, e esse seu sorriso americano não vai segurá-los a vida inteira! - Foi o que ele me disse, com aquele sotaque britânico horrendo, antes de me deixar no jardim do prédio naquela belíssima tarde londrina.
Evan e eu? Claramente não somos amigos. O pior? Ele meio que tem motivos. Eu roubei a vaga que ele lutou para ter nos últimos sete anos. Em minha defesa, eu não sabia que estaria roubando a posição de alguém quando aceitei a proposta de meu pai. Tecnicamente a proposta que minha mãe deu e meu pai fez o contato.
Eu tinha acabado de sair de um relacionamento conturbado. Digamos que meu namoro de quatro anos e o quase noivado que durou o tempo da briga que o terminou não foi tão fácil de superar. Nove meses após um quadro potencialmente depressivo em meu apartamento de luxo foi o suficiente para os meus pais voarem da Califórnia até Nova York e me entregarem uma correspondência. Eu não sabia o que tinha naquele papel até abrir, mas nunca pensei que poderia ser uma proposta de uma vida nova para mim. Que meus pais estavam tentando me salvar.
-Eu liguei para algumas pessoas, e eles estavam planejando ocupar a vaga há alguns meses. Você sabe que conheço Cooper desde a adolescência, ele ficou grato em adicionar você à equipe. - Meu pai me disse, enquanto eu tentava ler a carta.
-Isso é em Londres. - Minha voz não pareceu sair como meus pais desesperados esperavam. Minha mãe retornou a chorar, o que me fez revirar os olhos. - Mãe, chega. Pai, quem é esse homem?
-Oliver Cooper, da Capital Vision Architects Ltd.
Eu sabia muito bem de quem meu pai estava falando, mas queria saber o que aquilo significaria para a minha carreira. Estava estabelecida em meu escritório de Nova York, algo que consegui recentemente e estava me dando bem em meu primeiro emprego sério. Tinha alguns amigos, tinha uma rotina. Eu era estável. Mas não gostava da vida que tinha, pois tudo estava me remetendo à minha vida passada. Por Deus, meu ex havia morado aqui nos últimos anos. Eu poderia sim estar bem segura em meu ambiente já conhecido, mas acredito que não estava sendo o melhor método de superação.
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Meu Londrino Sonho Americano
RomanceLogo após a virada do século, Londres é o palco de uma nova jornada para Monique, uma arquiteta de 31 anos com uma vida de privilégios e um passado complicado. Após um término doloroso de um relacionamento longo, Monique está determinada a recomeçar...