Capítulo 3

12 2 3
                                    

"Ah, ser auto-equilibrado para casualidades,"

-Walt Whitman (Folhas de Relva)

Enquanto estou confusa, entreabrindo os lábios e franzindo a testa, Evan está rindo. Rindo não, gargalhando.

-Isso é uma piada? - Consigo perguntar, ignorando a aparente felicidade de meu colega de trabalho desrespeitoso.

-Não, senhorita Peterson. Não é uma piada. Vocês irão decidir quem irá ficar com a vaga até o natal, que é quando iremos fazer uma rotatividade nos cargos, inclusive no seu, caso você resolva decidir ceder a vaga para Evan, e ficar com a vaga que é dele. Caso assim decidam.

-E porque eu faria isso? - Meus molares estão cerrados ao máximo enquanto eu falo.

-Funcionará assim: na noite anterior à véspera de natal, vocês dois virão até mim e dirão quem irá ficar com a vaga, e porquê. Terão que entrar em um consenso unânime, e ter justificativas plausíveis sobre a então escolha.

-Porque essa data? - Pergunto, gotas de suor em minha testa.

-A renovação de contratos acontece no dia 26 de dezembro e eu quero curtir o feriado.

-Você quer que eu descubra sobre ela o suficiente para saber se ela merece a vaga ou não? - Senhor Babaca resmunga, apontando o polegar para mim enquanto se inclina na mesa. - Oliver, isso só pode ser uma piada, de muito mal gosto.

-Muito pelo contrário, será uma ótima forma de vocês descobrirem pontos positivos sobre o outro, o que facilitará o trabalho, e ainda treinar liderança e delegação de tarefas, o que é essencial. O mais profissional claramente ficará com a posição.

-Porque está fazendo isso? - Há uma certa ofensa, e até uma dose de crítica, em minha pergunta. - Pensei que haveria renovação de meu contrato após o natal, como foi dito nessa mesma sala alguns meses atrás.

-Eu contratei você, gosto do seu trabalho. Mas recentemente percebi que esse fator entre vocês tem nos afetado durante a execução dos últimos projetos. Principalmente no último que perdemos. E sinceramente? Isso tem tirado a porra da minha paciência, me fazendo ver se talvez eu não esteja sendo injusto na escolha de deixar você nessa posição, tendo alguém tão bom quanto você na hora da rotatividade dos cargos.

-Oliver, eu estou chocada com essa proposta. Não estava preparada para isso, ainda mais com... - Retorço o nariz como se tivesse enfiado minha cara numa salada podre. - Ele.

-Escuta Freddie, ele tem um ponto, dos bons. Além do mais você só não quer fazer isso pois tem medo de admitir que eu mereço o cargo.

-Isso não é verdade! - Aperto os braços da cadeira acolchoada em que estou sentada. - E esse não é meu nome, eu já falei pra você.

-Já chega! - O homem cansado à nossa frente passa a mão em sua barba grisalha e faz uma mesura para que saiamos. - Antes da véspera de natal, até lá, vocês provavelmente continuarão se matando.

Meus saltos ecoam quando saio da sala a passos firmes, com aquele britânico de merda na minha cola, com uma postura despreocupada que eu odiava.

-Agora não, Griffin. - Murmuro sem olhar para trás. Consigo perceber alguns olhares tortos em nossa direção, os já tão conhecidos julgamentos pelo nosso comportamento beirando ao infantil.

-Isso pode ser bom, sabia, Freddie? Você admitir que eu realmente mereço a vaga, que você só está aqui porque...

-Esse não é meu nome! - Minha voz sai um pouco mais alta e incisiva do que eu esperava, fazendo o restante das cabeças, as que não nos encaravam ainda, levantarem em nossa direção. Respiro fundo e passo a mão em meus fios presos num coque apertado. - Na minha sala, agora.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora