Capítulo 8

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"...ao que é sem fim como foi sem início"

—Walt Whitman (Folhas de Relva)

O jantar com Aleksander e Sam foi um desastre. Eu estive distraída durante toda a refeição, pensando. Fiquei colocando em listas no que Evan é melhor e no que eu sou. Foi confuso fazer isso mentalmente. Também pensei bastante no que Oliver está intencionando com tudo isso. Meu suposto namorado e minha melhor amiga não se deram bem. Ela não foi com a cara dele quando viu que ele era fisicamente parecido com meu ex. Uma imaturidade de Sam. Aleksander não gostou do espírito livre de Sam dando em cima dos garçons.

Ficamos em silêncio boa parte do tempo, e o clima se tornou ainda pior quando Aleksander diz que não vai mais subir até meu apartamento, mesmo Sam tendo saído para uma boate depois de nosso jantar. Sam não sabia que ele me deixaria sozinha, e foi se divertir individualmente, como costumava fazer. Aleksander está estranho comigo desde que contei pra ele sobre minha situação no trabalho.

A solidão me deixou ansiosa. Não quero pensar em relacionamentos. Pego meu carro e dirijo até a empresa, que para minha surpresa, estava aberta. Procuro algo em minha sala que eu possa trabalhar, mas um barulho me chama a atenção. Meu corpo me leva para a sala de reuniões. Ele está lá, trabalhando. Evan desenha com bastante concentração.

—Posso ver o que está fazendo? - Coloco minha bolsa em cima do mesão.

Evan parece muito em choque que estou aqui. E que estou muito arrumada visto que estava num restaurante de luxo. Ele fecha o que está fazendo e engole em seco. Vejo que ele está terminando os detalhes da casa dos Farrell. O projeto que eu estou "de fora".

—Eu sei que você não gosta de mim. Estou descobrindo que você tem motivos justos para isso. Mas eu preciso trabalhar. - Olho para onde ele está sentado. - Posso sentar?

Ele precisa de mais de um segundo para desviar os olhos de mim e confirmar, puxando a cadeira ao seu lado e sentando. Evan parece ficar tenso quando nossos joelhos batem.

—Ok. - Ele diz.

—Ok. Me conte sobre a casa. O que você estava fazendo?

Pela primeira vez na conversa, Evan pisca. Ele começa a detalhar e descrever o que o casal pediu para ele. Eu já tinha lido tudo aquilo pelos relatórios, mas era tão mais divertido ver Evan em ação. Reparo nas veias de suas mãos firmes enquanto ele traceia pelo papel. E minha parte preferida? Quando ele troca os lápis de numeração diferentes os colocando atrás da orelha esquerda.

—O que você acha? - Sua reação ao perguntar me faz achar que ele quer minha validação.

Endireito os ombros e cruzo as pernas.

—Acho que você é muito bom no que faz. - Digo, a contragosto.

Ele coloca uma das mãos no queixo, pensando.

—Você deveria estar nesse projeto. - Ele parece lembrar que eu tecnicamente esteja. - Digo estar de verdade.

—Ele falou algo para você? - Me sinto insegura perguntando.

Evan nega com a cabeça.

—Eu também achei estranho. Quando ele pediu que você ficasse de fora.

Bato as unhas no tampo da mesa, pensativa. Ele volta a desenhar e me estende um dos lápis, sem olhar para mim. Estalo os dedos e me inclino na mesa ao seu lado, retocando os traços.

—Sempre quis fazer isso? - Ele pergunta, usando a régua.

—Eu? Eu sempre quis fazer algo que não fosse medicina.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora