Capítulo 5

8 2 12
                                    

"Estranho, se passando me encontras e desejas falar comigo, por que não deverias falar comigo? E por que eu não deveria falar contigo?"

—Walt Whitman (Folhas de Relva)

Já passa das nove, e eu sigo desenhando em cima da mesa. Meu computador projeta algo em velocidade lenta demais para minha paciência. Praguejo alto e quebro o quarto lápis do dia.

Me sinto afundada no trabalho gradualmente. Uma mulher sem hobbies e que seu único meio social é sua amiga secretária e ligações internacionais. Levanto da cadeira e vejo o escritório basicamente escuro e sem ninguém.

O café acabou, me fazendo fechar os olhos com força e contar até dez para não perder a paciência. Meu celular toca alto de dentro da sala, quebrando o silêncio quase sepulcral do andar. A porta da sala de reuniões abre e um Evan com cabelo desgrenhado sai de dentro.

—Está tocando. - Ele diz, sério. Como se eu não estivesse escutando.

Não consigo disfarçar minha surpresa por ele estar aqui. Fico o encarando no escuro enquanto meu celular continua tocando. Ele dá de ombros e volta a fechar a porta. Vou até minha sala e atendo. É Aleksander.

—Oi. Desculpa a demora, estou no trabalho.

—Mon, já passa e muito do seu fim de expediente. - Dou um sorriso com seu carinho repentino.

Havíamos saído mais cinco vezes depois da ligação com Eleanor, estávamos indo devagar.

—Eu sei. Estou sozinha no escritório. - Minto, sem saber o porquê. - Preciso terminar algo sério para amanhã, sabe? Prometo que assim que terminar vou pra casa.

—Você quer companhia? - Sua voz parece sensual demais para meu cansaço, então solto um risinho.

—Eu...

Uma batida em minha porta aberta me chama a atenção.

—Freddie, café. - Evan entra e coloca uma xícara com um potinho de açúcar ao meu lado. - Da minha garrafa.

—Tem alguém aí? - Aleksander pergunta, eu aperto o celular contra o meu ombro.

—Obrigada. - Mas Evan já está saindo e volta para a sala de reuniões. Volto para a ligação. - Tem, um colega meu está aqui. Eu não sabia. Podemos nos falar melhor no jantar de amanhã?

—Claro. Até amanhã. - Ele desliga, pensativo, após minha despedida.

Fico um tempo encarando o café e o açúcar. Coloco dois quadradinhos na xícara e a levo até a sala de reuniões. Quando abro a porta, Griffin se assusta e ajeita os óculos sob o nariz.

—Oi. - Sento do outro lado do mesão e bebo um gole do café. - Trabalho extra?

—Sim. Estamos no mesmo projeto.

Sua frieza me faz franzir o cenho.

—E você, Freddie? O que faz aqui se tem quatro subordinados para fazer seu trabalho? - Gosto que ele tenha quebrado uma parte da barreira, como se envergonhasse por estar sendo grosseiro.

—Eu gosto de participar e fazer minha parte no projeto. E eu não queria que perdêssemos outra vez. Somos um time.

Seus olhos dançam por meu rosto, procurando ironia. Bebo mais café.

—Resolvi dar uma pausa. - Digo. - Estou sentada há horas. Porque está nessa sala e não na sua mesa?

Ele sorri apenas de um dos lados, suas rugas de sorriso marcando em sua bochecha.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora