Capítulo 18

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"Esse terrível dilema estava partindo

a cabeça e o coração do poeta."

—Walt Whitman (Folhas de Relva)

Sonho que estou em Boring Beach, na praia de Old Hill, minha cidade natal. Por pouco não sinto as ondas de água salgada em meus pés, conseguindo ver o amanhecer lindo logo à frente. Quando eu era criança, e mamãe estava no pico de sua doença, eu sempre pedia para irmos até a praia, o que meu pai negava por alegar que todos estávamos muito cansados de cuidar da mamãe. Eu lembro de quando Eleanor me acordava mais cedo que o sol nos domingos, dia após o plantão de nossos pais, enquanto os adultos dormiam até tarde. Íamos de bicicleta pela costa. Víamos o sol apontar no horizonte, lavávamos os pés e voltávamos antes que todos acordassem. Minha irmã está comigo no sonho. Um som suave do mar se transforma no tremor incômodo de meu alarme ao lado da cabeceira. Quando estico meu braço para pará-lo, meu colchão se mexe. Paro o ruído estrondoso no quarto e viro meu rosto, lembrando que estou em cima de Evan. Porque dormimos juntos. Ontem. Não é o céu costumeiramente laranja de Old Hill na janela. E sim um amanhecer frio e cinzento de Londres. Ele ainda dorme, um semblante calmo com uma das mãos em minhas costas. Escondo meu rosto em seu peito, nervosa.

Meu Deus. Eu transei com meu colega de trabalho. Praticamente, por assim dizer. Eu pelo menos considero que a movimentação peculiar que houve aqui tenha sido algo bem sexual. Deslizo meu corpo por cima do dele, sentindo mais coisas do que eu gostaria, visto que ele está pelado, e deito ao seu lado.

Não sei direito o que fazer, se devo acordar Evan. Ele ainda dorme, na mesma posição. Sua respiração compassada é medida pelo ritmo preciso de seus ombros. A pele clara de Evan contrasta com meu edredom azul. Não um azul da cor dos olhos dele, infelizmente.

Preciso levantar. Estou cansada, acho que dormi pouco mais de umas cinco horas. Alcanço meu robe no cabideiro próximo e cubro meu corpo. Quando estou quase chegando no banheiro sinto que ele se move na cama. O vejo por cima do ombro, agora de bruços.

—Porque está acordada tão cedo? - Sua voz grogue ressoa no travesseiro contra o som dos carros lá fora.

Aperto o laço em minha cintura e tento forçar para falar, minha garganta meio seca.

—É... - Coço a testa. - Não quero ser a chefe chata agora, mas temos que trabalhar em pouco mais de uma hora.

Evan vira na cama e senta, o edredom caindo em suas coxas. Noto que seus olhos estão baixos pelo sono.

—Hoje é feriado, Freddie. - Sua voz ainda rouca diz. Tento desviar o olhar de seu peito sem camisa. - Volte pra cama.

—Feriado? - Dou um passo em direção a cama.

Ele arqueia a sobrancelha.

—Falamos disso na reunião de quarta. - Ele passa a mão pelo cabelo, o que não muda nada pois Evan é uma daquelas pessoas que já acorda com o cabelo impecável, provando o ponto de que sim, aquele visual de pouco esforço para se arrumar era exatamente isso.

—Quando? Eu não lembro de anotar isso. - Me esforço para lembrar.

—Alguns minutos antes de Oliver entrar. - Diz, parecendo mais sonolento a cada palavra.

—Então não foi na reunião. Foi uma conversa entre funcionários. - Semicerro os olhos e cruzo os braços.

Evan joga as costas no colchão e coça os olhos com as duas mãos. Começo a supor que ele vai voltar a dormir mas ele sai debaixo do edredom e anda até o canto do quarto. Nu. Ele vai até as cortinas e as fecha, abafando a luz e o som da rua. Sua autoconfiança me deixa nervosa quando ele vem até mim e seu braço passa em minha cintura, me arrastando para a cama.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora