"Sentido e fim, sempre a permanente vida da vida."
-Walt Whitman (Folhas de Relva)Minha irmã sempre foi a mais responsável, mas Eleanor nunca foi boa com decisões como eu. Ou pelo menos era isso que as pessoas costumavam considerar de mim. Eu nunca tive tanta pressão familiar como ela, e a liberdade disso me deixa esgueirar melhor para decidir o que ou não fazer. Deslizei algumas vezes no que eu achava mais correto, mas nunca voltei atrás depois de uma resolução. Eu precisava dessa convicção para hoje. Por algum motivo, sonho com uma longa estrada, na qual eu incrivelmente dirijo muito bem. Quando meus olhos abrem, ainda sinto a velocidade do carro imaginário.
Foi difícil acordar hoje. Depois da visita e das duas ligações posteriores com Maeve para checar Diana, me veio um mal pressentimento sobre Evan, como se o estivesse perdendo. Eu me sentia perdendo na vida, na maioria dos aspectos. Era o dia da decisão, e dirigi até a empresa em meus melhores saltos e com meu conjunto novo, o cabelo bem feito. Se eu fosse embora, eu sairia de queixo erguido em meus Manolos azuis. Aperto a pasta com o relatório de minha decisão entre os dedos. Evan já está em sua mesa, e diferente de mim, ele não se esforçou em se arrumar para estar aqui. Ele parece doente, na verdade, me olhando como se quisesse gritar algo. Nos encaramos e a secretária de Oliver me chama, informando que ele gostaria de falar comigo primeiro. Suspiro e ando até lá, sorrindo para os joinhas encorajadores de Josie.
A porta de Oliver parece pesada demais e ele está, estranhamente, sorrindo do outro lado da mesa. Está usando um terno elegante demais para a véspera do natal.
-Sente. - Ele indica.
A cadeira abraça minhas coxas e eu coloco a pasta com o relatório em cima da mesa. Ele visualiza o papel, curioso, mas não o pega de imediato.
-Iremos esperar Griffin para isso, sei que deve estar ansiosa, Monique. - Oliver cruza os dedos em cima da mesa. - Você está decidida? Ciente do que poderá acontecer.
O olhar que passa por meu corpo me causa um arrepio e me empertigo para responder.
-Estou com a consciência leve do trabalho que produzi, independente do que seja acordado aqui, não haverá relutância de minha parte. Eu prometo.
Ele sorri e assente, parecendo orgulhoso.
-Saiba, Monique, que independente do que for acordado aqui, eu estou muito satisfeito com o que foi produzido no seu período de trabalho. Mesmo com as recentes situações que me geraram desconforto, você ainda é uma ótima arquiteta.
A confiança em sua voz me traz uma certa revolta. Oliver me enfiou em toda essa confusão, e parecia ter noçao da bagunça que causou em minha vida, e isso estava me irritando.
-Se eu fosse tão boa quanto diz, não haveria necessidade dessa competição.
Suas pálpebras fecham lentamente até que seus lábios se contraiam para cima, num sorriso discreto.
-Muito bem, então. Vamos acabar com essa tensão e descobrir de uma vez o que vocês acordaram.
Ele toca o telefone e indica que a secretária chame Evan. Acordaram. Foi o que ele disse. Mas Oliver não sabe que Evan e eu não chegamos a um acordo, que eu estou confiando no destino. A porta se abre e os passos familiares demais se encontram cada vez mais perto, até que ele sente ao meu lado. Ele aperta uma pasta como a minha em mãos, quase amassando-a, enquanto me olha penosamente. Não devolvo o olhar. Evan vê que minha pasta já se encontra em cima da mesa de nosso chefe e deposita a dele logo ao lado.
-Griffin. - Oliver diz. - Foi uma longa jornada, não? E eu fico enfim aliviado de tirar um grande fardo de minha cabeça hoje. - Ele ri fraco, mas nenhum de nós dois o acompanha. - Vejo que vocês terminaram esse período de uma maneira conturbada. Sinto muito.
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Meu Londrino Sonho Americano
RomanceLogo após a virada do século, Londres é o palco de uma nova jornada para Monique, uma arquiteta de 31 anos com uma vida de privilégios e um passado complicado. Após um término doloroso de um relacionamento longo, Monique está determinada a recomeçar...