Capítulo 23

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"Que conhecia bem demais o enfermo,

enfermo medo de que quem ele amava

pudesse secretamente ser-lhe indiferente."

-Walt Whitman (Folhas de Relva)

Eu amava o feriado de Ação de Graças quando estava em Old Hill. A visita de minha irmã e meu cunhado estava me deixando nostálgica, com um saudosismo sempre presente. Costumeiramente, esse feriado era comemorado em minha casa de infância, mesmo quando eu estava num relacionamento. Com meu pai jogando cartas, Eleanor e eu acompanhando mamãe na cozinha enquanto ela fingia cozinhar até desistirmos e pedir algo para o jantar. Até vir para Londres, eu nunca havia pensando sobre o conceito de criar tradições. Como elas iniciavam? Eram atos naturais, que simplesmente aconteciam? 

Com Eleanor grávida, eu estava ainda mais pensativa. Eu queria tradições com sua nova família, com minha sobrinha. Minha noite havia sido longa e cansativa, revirando na cama. Eu estava feliz por ela, mas questionando tudo. Como mamãe reagiria? Com certeza meus pais irão querer que ela se mude. E como eu iria lidar com minha sobrinha crescendo tão longe?

Pouco depois das quatro, levantei e comecei a cozinhar. Aliás, muita gente viria aqui hoje. Ir para a cozinha e fazer algo para mim foi algo que eu apenas aprendi depois de muito tempo, já morando em NY. Em Old Hill, tudo sempre foi feito para mim. Essa é uma das minhas heranças preferidas do meu antigo relacionamento, cozinhar sozinha.

Jack Dawson sobe na mesa e comportadamente cheira os diversos biscoitos que faço. Minha irmã aparece na porta da cozinha usando um pijama azul escuro horas depois. Ela sorri ao me ver confeitando uma torta.

-Você mudou tanto. - A voz dela está rouca pelo sono, sentando em uma das cadeiras em frente à ilha da cozinha.

-Eu gosto de quem eu sou agora. - Começo a cortar os morangos.

-Vão ter apenas doces para a festa? - Ela puxa um cupcake e morde, apontando para a barriga antes que eu fale qualquer coisa. - Eu e sua sobrinha gostamos dessa ideia. Um jantar de Ação de Graças bem diferenciado.

Dou uma risada e ando até o forno.

-Eu já fiz o jantar. - Ando até a geladeira e também a abro, mostrando travessas. - Eu esquentarei quando estiver mais perto.

O rosto sem maquiagem de minha irmã ilumina enquanto ela pisca.

-Você acordou cedo. - Outra mordida no cupcake, sujando o canto de sua boca com chantilly.

Volto para a ilha e termino de cortar as frutas.

-Na verdade vocês acordaram um pouco tarde. Já passa das dez.

Ela apenas dá de ombros.

-Eu não imaginei que você fosse dar uma de mestre cuca e simplesmente fazer tudo de uma vez. Desculpa.

A entrego um sorriso que a acalma.

-Eu gosto de cozinhar. É relaxante. - Deposito os morangos um a um em cima da torta.

-Mamãe está feliz por você, Mon. - Ela diz, limpando o canto dos lábios.

Minha testa se franze confusa. Os últimos contatos com minha mãe tem sido confusos. Ela sempre coloca muita pressão por minha felicidade ao ponto de me impedir de consegui-la.

-Não é isso que ela vem demonstrando. - Minha voz sai sarcástica demais.

Eleanor se serve com café e senta mais perto.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora