"Não tenho escárnios ou argumentos,
eu presencio e espero."
-Walt Whitman (Folhas de Relva)Oliver estava distante, junto com todos os outros funcionários. Acho que todos estavam julgando a minha reação ao projeto. Por contrato, eu ainda receberia pelo anfiteatro, mesmo não indo na apresentação. Parecia uma trapaça.
Tento ignorar todos os olhares tortos, mas os azuis de Evan eram os piores. Eles eram complexos, uma mistura de emoções que eu nunca conseguia entender pois não o olhava por mais de dois segundos. Meu colega de trabalho parecia sofrer por não poder falar comigo, o que eu suponho que ele não o faça por estarmos aqui. Ele ainda não sabe que Oliver sabe sobre nós.
Eu não estava com raiva de Evan. Minha reação no hotel com certeza tinha relação com a bebida. Mesmo quase uma semana depois, eu ainda sentia dor de cabeça. Vinho para mim nunca mais. Refleti e chorei bastante nos últimos dias, e era mágoa o que eu estava sentindo. Mágoa por ele estar escondendo algo e achar que podia decidir por mim, mesmo que eu não saiba o que seja.
Todo o trabalho que faço na semana após Paris é mecânico, eficaz e sem muitas respostas de meus colegas de trabalho ou chefe. Estava sendo silencioso e até Josie estava mais reclusa, como se não soubesse muito bem o que fazer e a impotência a deixasse em silêncio. Sam foi me visitar no fim de semana seguinte.
-Não acredito que aquela sonsa tratou você assim. - Ela enfia a colher dentro do sorvete com força demais enquanto me encara de cabeça para baixo no sofá.
Meu gato sobe em minhas pernas e eu o afago.
-Não acho que ela tenha feito por mal, Sam. - Tomo o sorvete de sua mão e enfio uma grande colher em minha boca. A postura de Teresa ainda habita em meus pensamentos.
-Você sempre gostou dela.
-Você também gostava. - Rebato.
-Gostava mesmo. - Diz, seu cabelo longo e liso cai pelo sofá. - Que situação esquisita. Estou com raiva de todos, até de Griffin. Ele não deveria ter feito o que fez. Nem Oliver pensar que poderia ter chances com você, o cara tem o que... cinquenta anos?
-Tudo isso vai passar logo, só preciso aguentar mais uma semana. - Minha fala sai fatalista.
Os olhos fechados de Sam me entregam um temor. Era estranho ver minha melhor amiga com feições sérias e preocupadas, em toda a vida, a vi pouquíssimas vezes assim.
-Você decidiu o que irá fazer? - Ela pergunta, voltando a cutucar o sorvete.
-Em partes. - Murmuro. - Obrigada por estar aqui.
-Eu vim correndo quando você me contou. Nem imagino o quão ruim tenha sido. - Ela aperta minha coxa. - E como estava o filho da puta do Arthur?
-Estava gostoso, como sempre. O cabelo mais baixo.
-Odeio que ele seja um gostoso e tão escroto. Odeio que não o peguei em sua melhor fase.
Dou um riso, a olhando de cima, já que estou sentada como uma pessoa normal no sofá.
-Você prefere ele agora? Acho que eu o achava mais bonitinho na adolescência.
-Chega de falar do loiro idiota. Vamos falar de Evan.
Coloco o sorvete na mesa de centro.
-Não vamos falar sobre isso. Evan e eu decidiremos como vamos ficar depois do natal.
Sam fica calada, sei que ela está querendo falar algo, mas não a motivo. Não quero escutar.
-Então vamos falar sobre Jo e Andrew.
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Meu Londrino Sonho Americano
RomanceLogo após a virada do século, Londres é o palco de uma nova jornada para Monique, uma arquiteta de 31 anos com uma vida de privilégios e um passado complicado. Após um término doloroso de um relacionamento longo, Monique está determinada a recomeçar...