Prólogo

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Para Gi, que me mostrou que o amor é fácil.

E me amou até quando foi mais difícil.

Minha mãe é uma mulher doente. Desde muito antes de eu nascer, o que significa que eu nunca conheci uma versão sua que fosse inteiramente saudável. Crescer em um ambiente como o hospital era algo que moldou minha personalidade, e isso aconteceu em partes pela doença da minha mãe e em partes porque ambos os meus pais são médicos.

Quando eu era pequena, perguntei para a minha mãe como ela poderia ser tão doente se era médica. Ela não deveria prever esse tipo de coisa? Ser perfeita e saudável? Então, ela me sentou em seu colo e me explicou que sua doença era crônica, e que ela sempre teve. Naquele mesmo dia, eu mexi na enciclopédia do papai e fui estudar sobre o significado dessa palavra, descobrindo que basicamente são aquelas doenças que tem início gradual, com uma longa duração ou incerta, e que apesar dos tratamentos, a maioria deles não levavam a cura. Indo mais a fundo, descobri que essa palavra não era só relacionada a doenças, e que no sentido geral, é algo que seria usado para descrever coisas que persistem, que são duradouras. Minhas qualidades crônicas são esperar e entender, o que era perfeito para uma criança que cresceu em hospitais.

Anos depois, em relações vividas, descobri que minhas qualidades crônicas só se adequavam para relacionamentos que eu tinha um objetivo específico, que em situações que não continham esse objetivo, eu era bem teimosa e impaciente. Hoje me arrependo de ter sido tão compreensível em algumas coisas, de ter esperado tanto em outras.

Acho que meus objetivos também são crônicos, até das relações que não existem mais. Que persistem por boa parte da minha vida, mas nunca de fato se realizam. O que é bem cômico, visto que sou uma pessoa mimada, então eu não deveria ter tudo que quero? Mas eu me refiro aqueles sonhos internalizados na alma, que seus pais nem ninguém nunca saberão, pois são meio estranhos e impossíveis para uma pessoa como você. Meu sonho mais interno era que existisse alguém que perguntasse sobre quais sonhos são esses sem eu ter dito tudo o que disse antes. Alguém que pudesse me ler além dos fios claros e o sobrenome que eu carrego. Alguém que me enxergasse além da profundidade de folhas de relva.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora