Capítulo 12

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"O que agiu bem no passado ou age bem hoje não é esse assombro..."

—Walt Whitman (Folhas de Relva)

A caixa de Old Hill me deixa ansiosa. Eu a ponho no meio da cozinha, para me acostumar com a ideia de ter contato sobre o que tem lá dentro. Todas as vezes que passo por ela sinto umum arrepio em minha espinha.

Quando minha mãe piorou no verão, foi difícil pegar o avião. Foi difícil descer no aeroporto em São Francisco e viajar de carro com Eleanor e Khahn. Foi difícil ver a placa laranja de "Bem-vindos a Old Hill" na entrada da cidade.

—Está tudo bem mesmo? - Eleanor perguntou, me encarando pelo retrovisor.

Eu assenti. Mas foi estranho demais ver Khahn fazer um retorno enorme para não passar pela colina da casa de Dale. Eu não tinha pisado lá desde a última vez com meu ex. Estava evitando. Mas digamos que a cirurgia de minha mãe não foi nada simples, e estávamos com muito medo, como não ficávamos desde que eu era adolescente. Ele estacionou em frente a casa com belo jardim que eu cresci e meu pai estava me esperando na frente, me abraçando firme. Ele sempre soube me fazer se sentir segura.

Lembro de ter passado o fim de semana em casa até o momento em que minha mãe precisou ir se operar. Ela estava tão debilitada. Havia perdido peso e chorava o tempo todo. Os médicos estavam sem fé, ela já havia feito seu inventário e eu fui obrigada a cuidar de seu testamento preventivo. Foi horrível. No segundo dia eu liguei para Josie e perguntei sobre a empresa, querendo me distrair. Quando ela me contou sobre o projeto de maior valor que já tínhamos pegado ter sido perdido, aquilo me impactou muito. Eu pedi o número de Evan e salvei em meu celular, para pedir desculpas. Eu sabia bem que ter viajado no dia de formalização dos contratos e não ter voltado para o dia final do possível reembolso. Pior, não ter falado com Oliver por ter estado atarefada demais com a possibilidade de minha mãe morrer. Eu depositei o cheque no valor para a empresa, obviamente. Era minha responsabilidade o dinheiro que tínhamos perdido. Evan não sabia disso, pois ele acabou perdendo a comissão do projeto. Não consegui ligar para ele.

Quando minha mãe foi até o hospital, eu não quis ir. Eu fiquei em meu quarto, esperando que papai viesse me dizer que tudo tinha passado. Abri minha caixinha com a pulseira que costumava sempre andar comigo. Tantas memórias. Cartas antigas, lembranças de infância. Um movimento na janela de meu quarto me chamou a atenção. Do outro lado da rua, na casa dos Contera. Era Teresa e Arthur, sendo recepcionados pela avó dela. Me escondi atrás da cortina mesmo que eles obviamente não conseguissem me ver.

Odiei que os vi. Vivendo normalmente, sendo felizes. Um mundo que eu não fazia mais parte. Algumas horas depois, meu pai apareceu na porta de meu quarto. Meu coração parou e ele sorriu. Corri até ele e chorei. Alívio.

O mais impactante naquela viagem foi ver o quanto meus pais se amavam. Em como meu pai cuidou dela na primeira semana de recuperação. Trinta e sete anos de casados, e eles continuavam se amando como adolescentes. Voltei pra Londres insegura, ainda mais carente. Eleanor, apesar da falta de apoio, tinha encontrado sua história de amor. Fiquei com tanto medo de que meu único lugar numa história de amor fosse como espectadora.

Pego a caixa com pertences de Old Hill que Sam deixou pra mim e levo para a empresa. Eu ainda veria todos os dias, mas não ficaria em minha casa.

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