Capítulo 25

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"Daqui assino esta saudação estrangeira, (...)
E envio estas palavras a Paris com meu amor,
E imagino que os chansonnier de lá as entenderão,
Pois imagino que há música latente
ainda na França, torrentes dela,"
-Walt Whitman (Folhas de Relva)

Na primeira vez que viajei de avião eu não sabia o motivo pelo qual estava viajando. Eleanor e eu estávamos lado a lado enquanto ela lia um livro de capa dura e eu remexia o cinto várias e várias vezes até ela puxar a faixa que segurava meu cabelo para trás, pedindo que eu parasse.

Depois da aposentadoria meus avós maternos moravam numa casa de veraneio no Michigan, distante de tudo. Eu nunca havia visitado essa casa até aquele dia. Quando chegamos no aeroporto, o carro do vovô estava nos esperando e ele chorava muito. Vovó havia falecido, uma dor no peito por semanas e se foi dormindo. Nunca a conheci. Eu tinha sete anos, e o clima estava quente, muito quente. Foi tudo tão rápido, e mamãe não chorou. A noite de nossa chegada foi longa, e eu lembro de não conseguir dormir. Desci até a cozinha com paredes de vidro e madeira e servi um copo de leite bem cheio. Tentei ligar a TV, mas ela não estava funcionando. Eu subi de volta para o quarto, puxando o livro que Eleanor vinha lendo no avião. Eu tinha um cobertor pesado e verde, leite gelado e um suor fino por baixo do pijama quando li "As Folhas de Relva" pela primeira vez na varanda, vendo amanhecer. O amarelo do céu se assemelha muito ao que eu estou vendo agora.

-No que está pensando? - O sotaque forte de Evan me tira dos pensamentos e meus olhos param de encarar as nuvens da janela.

-No nascer do sol. - Oculto a lembrança. - Você viaja muito?

Ele sorri ao meu lado, fazendo meu estômago borbulhar.

-Não. Nunca fui à América, nunca viajei que não fosse a trabalho. - Seu rosto se aproxima, dando uma checada em Josie cochilando do seu outro lado. - E você?

-Sempre viajei muito. A passeio e a trabalho. - Arrasto a cabeça no assento, seu cheiro se intensificando em meu olfato. - Fui a Aruba uma vez e acho que é o lugar mais lindo do mundo.

-Foi sozinha? - Sua pergunta faz meu sorriso morrer.

-Não.

Os dedos frios de Evan se aproximam e enroscam nos meus, minha tristeza se esvai.

-E a Paris?

Volto a sorrir.

-Eu vim algumas vezes com meus pais, muito tempo atrás. Mas sinto que não consegui captar a energia da cidade como eu poderia. Talvez essa seja uma boa oportunidade. - Ele fecha a mão na minha e beija minha testa.

-Eu adorei saber que Oliver foi sozinho lá na frente. - A voz de Evan parece cansada enquanto sussurra em meu ouvido.

Me acomodo em seu ombro e minhas pálpebras pesam por ser tão cedo.

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O hotel que Josie havia escolhido era lindo. Nada diferente do que eu já tinha me hospedado, mas ainda assim, lindo.

-Coloquei Oliver em outro hotel. - Ela diz quando descemos do táxi, nossas malas sendo postas no carrinho.

-Porque fez isso? - Evan pega uma das malas de minha mão.

Ela apenas dá de ombros, rindo enquanto suas bochechas coram. Fazia sentido o fato de ele ter pego um táxi diferente. Isso e todas as mil bagagens que Josie havia trago.

-Foi difícil convencer a secretaria de Oliver, mas eu aleguei que ele gostaria de ficar no hotel de sempre e que você sempre gostou de ficar nesse, e que eu precisaria ficar com você. Só coloquei Evan no mais barato. Ela acreditou.

Meu Londrino Sonho AmericanoOnde histórias criam vida. Descubra agora