Meu Londrino Sonho Americano

Capítulo 32

"O sofrimento é um mestre severo, mas sua
lição é sempre a verdade."
-Walt Whitman (Folhas de Relva)

Era a segunda vez na vida que eu empacotava toda a vida que eu tinha. E nas duas essa cidade chuvosa teve uma relação direta. Porque sim, justo hoje, ela estaria chovendo outra vez. As várias caixas que eu peguei na portaria não pareceram o suficiente. Desisto na metade dos itens de decoração e deixo para a equipe da mudança que com certeza minha mãe iria insistir em mandar. Minha mãe. Paro de dobrar algumas blusas na mala e aperto as têmporas. Meus pais devem estar completamente exaustos das minhas mudanças emocionais, e será a cereja do bolo da relação que eles tinham com Oliver.

Por isso, não me sinto nem um pouco culpada. Oliver não estava se mostrando um amigo de qualidade, ou um chefe de qualidade. Começo a refletir sobre o meio em que vivo, e a maioria das pessoas não teria reagido como fiz. Eu sentia que lidava bem com o fato dos privilégios que tinha, mas estou começando a me tornar uma mulher frustrada com a facilidade da vida. Dale tinha razão nisso, o destino sempre pegava leve comigo porque a vida em que eu estava inserida era difícil demais. Parece cômico pensar nisso agora. Estou zangada comigo mesma pela despreocupação em que me demiti. Sou confiante ao ponto de saber que não vou ficar desempregada para sempre, nem desamparada. Mas essa leveza sobre uma mudança tão abrupta em minha vida me causa um certo repúdio. Evan jamais poderia pensar ou agir assim. Sei de nossas realidades distintas e que eu não tenho culpa do dinheiro que tenho, mas sinto que eu seria mais humilde se conquistasse minhas próprias coisas.

Oliver também pensa como eu, e foi por isso que fez todo esse jogo comigo e a vaga em Nova York. Presumiu que eu fosse uma marionete nos joguetes empresariais dele. Volto ao meu processo de enfiar tudo na mala de um jeito exagerado e raivoso. Já estou com dor de cabeça. Meu gatinho parece confuso com minha pressa, e eu rapidamente afago sua orelha algumas vezes.

Antes do almoço, ligo para Sam e explico tudo de um jeito quase manhoso e peço que ela me compre uma passagem para Old Hill enquanto eu terminava minha mala. Minha amiga pareceu preocupada ao telefone, mas minha pressa não deixou que ela opinasse, então ela apenas o fez. Meu plano é: vou voltar ao apartamento antigo, passar o natal com minha família e tentar me livrar desse estresse londrino. Eu voltaria para Nova York e recomeçaria minha vida de onde parei. De onde não deveria ter saído.

O voo que Sam arrumou iria sair à noite, para São Francisco, e eu pegaria um carro lá. Já passava das cinco e eu estava com tudo que eu precisava empacotado, pronta para ir. Só precisava esperar a visita de Evan e partir. Quando separo as roupas que irão com a mudança, encontro uma calça suja de tinta de quando pintei com Diana. Choro muito a partir de então.

Nunca pensei que faria esse elo com a família de Evan. E choro muito pela perda deles e apenas isso, pois me recuso a pensar muito em Evan agora. Eu não poderia voltar atrás. Como se lesse meus pensamentos, alguém bate na porta de meu apartamento e eu sigo até lá com passos curtos. Ele está como deixei, meio destroçado pelo que aconteceu. Seus olhos inchados parecem inchar mais quando me vê chorando. Dou espaço para que ele entre e o mesmo encara as caixas ao redor.

-Freddie, não faz isso. - Sua voz está rouca, o sotaque a deixando quase inaudível.

Quando o olho, percebo que ele está com seus óculos de casa, e que um deles está com uma das lentes quebradas.

-Eu preciso pensar, Evan. Vou para a casa dos meus pais por um tempo, não quero mais ficar aqui.

Minhas palavras soam incisivas e ele apenas assente.

-Me explique o que aconteceu. - Abraço meu corpo e o lembro do motivo pelo qual eu pedi que ele viesse até aqui, para que ele contasse sobre o que aconteceu.