He's My Alibi [Hyunlix]

He Holds Me in His Big Arms

Um corpo despedaçado, ossos esmagados, crânio amassado pelos grandes pneus do ônibus. Sangue espalhado pela pista, como um mar vermelho infinito, órgãos no emaranhado líquido completamente expostos e uma face irreconhecível.

Uma multidão de pessoas se juntava cada vez mais para tentar ver a cena, a policia foi chamada, assim como uma ambulância, mas nenhum havia chegado ainda. Enquanto isso, o cheiro de ferro inundava as narinas de qualquer um que perto estivesse, queimando no sol ardente de 34º Graus.

Ao forçar meus olhos, existia mais além de sangue e tripas no chão, também tinha uma cabeleira morena, roupas familiares e um detalhe final que me fez cair de joelhos.

— A-aquela pulseira, e-eu que dei aquela pulseira a ela — Meus olhos inundaram, bati meus punhos no chão em agonia — Lisa! Não, não, não. Ela não, por favor!

— Felix! O que está havendo? — Changbin correu até mim, se agachando — Calma, respira.

O ar faltou em meus pulmões, as forças se esvaíram em meus músculos, minha mente nublou de repente. Não conseguia mais olhar para a direção do cadáver, parecia que ela iria se levantar e me olhar com aquele rosto desfigurado a qualquer instante.

— M-me tire daqui — Murmurei entre o choro, Changbin assentiu, me erguendo cuidadosamente, caminhando comigo para longe do calor das pessoas e do cheiro de sangue.

(...)

Estava a meia hora debaixo do chuveiro. A cena trágica se repetia como um replay infinito de tristeza, minha querida amiga, agora, não era nada além de um corpo sem vida. Ainda era inacreditável, inimaginável, difícil de aceitar. Por muitas vezes eu me segurei para não me entregar a meios de me sentir melhor, mas dessa vez tudo se superou, o bastante para eu desligar a água, abrir o armário do banheiro e puxar um maço lacrado de cigarros.

Era irônico destruir lentamente a própria vida quando sua doce irmãzinha lutava para sobreviver, e era mais irônico ainda acender um cigarro quando uma amiga acabou de morrer diante de seus olhos, perdendo a vida tão ligeiramente rápido quanto a duração desse mísero fumo. Mas eu estava pouco ligando para qualquer maldita questão, eu queria paz, um alivio nem que fosse momentâneo dos pensamentos absurdos que me rondavam.

Ao sair, ignorei o olhar que me lançaram ao estar fumando, era novidade, mas também não era como se nenhum dos meus amigos sequer tivessem provado drogas piores e ilícitas. Tinha chá, biscoitos e um bando de homens esparramados pelo apartamento, eu ri fraco ao pensar como minha mãe me humilharia se chegasse agora, e visse que transformei nossa humilde residência em um local de encontros pós tragédia.

— Estão fazendo uma autopsia detalhada no corpo do acidente de hoje mais cedo, mas pelo o que Felix mencionou, os detalhes da roupa e pulseira, tudo isso bate com a descrição dos pais de Lisa, de fato, a filha deles é a pessoa do acidente — Jeongin disse, disparando as palavras no silencio amargo da sala.

— Felix, você-

O toque do celular atrapalha Changbin, e assusta o restante dos integrantes. Vou até a mesinha onde o objeto estava e sem a menor vontade atendo.

— Irei assim que possível — Desligo e volto a fumar o restante do cigarro, jogando-o na pia — Preciso sair, por favor vão embora, não sei como Jihyu reagiria com tanta gente desconhecida na casa dela.

— Como posso ir com você nesse estado? — Bin se aproximou.

— Eu estou bem, quem me ligou foi a enfermeira da Olivia, eu irei direto para lá, prometo — Ele me abraçou, fungando um pouco, mas assentiu.

(...)

— Sabia que era você, ninguém me deixa mensagens tão carinhosamente ameaçadoras com tanta maestria — Hyunjin ironizou, abrindo a porta para que eu entrasse.

— Serei breve — Permaneci parado na frente dele, sem dar um passo sequer — Porquê está me ajudando?

Prendi a respiração quando ele deu alguns passos a frente, seu corpo estava livre de camiseta, tendo apenas um short cobrindo abaixo da cintura.

— Quer mesmo saber? — Aproximou o rosto do meu e eu desviei o olhar.

— S-sim, quer dizer, você não é do tipo que simplesmente ajudaria alguém — Minhas orelhas queimaram como fogo.

— Tem razão, não ajudo qualquer pessoa e esse é o seu caso — Sorriu de lado, se afastando para encostar as costas na porta.

— O q-que quer de mim? — Engoli em seco, ouvindo ele suspirar.

— Uma chance — Cruzou os braços.

— Como assim? Chance de quê? O que você quer dizer com-

Hyunjin com pressa assumiu o controle, segurando meus cabelos da nuca, pressionando nossos lábios rapidamente. Sua outra mão fria foi a minha bochecha esquerda, acariciando. Seus lábios se separaram dos meus com lentidão, deixando um selinho antes de finalmente se por distante.

Ele sabia ser delicado? Isso não fazia o menor sentido.

— É isso que quero dizer, agora se me der licença, tenho assuntos a resolver — Piscou para mim antes de se retirar, fechando a porta e me deixando ali, estático.

— Eu não preciso da sua ajuda Hyunjin! — Gritei e foi a única coisa que consegui dizer, por mais mentirosa que essa frase que fosse.

Caminhei para o elevador completamente impactado. Aquele estava longe de ser o Hyunjin assustador que tive o desprazer de conhecer. Meu coração estava acelerado, ao mesmo tempo receoso, ele não podia simplesmente ser outra pessoa em questão de dias, nada parecia certo, e exatamente todas as suas recentes atitudes me davam motivos para desconfiar de cada passo dele.

Independente do quão delicado ele pudesse fingir ser, isso não anulava quem ele era e foi para mim. Isso não anulava as noites de pesadelos que ganhei por causa dele, e suas boas ações não iam apagar a maioria de seus atos maléficos.

O certo era manter uma distância segura, mas quem droga garantiria que ele faria isso? Já estava muito claro quem tinha o controle sob o outro, e esse não era eu. O mundo gira em torno de quem tem mais poder, e nesse caso, ele tem todas as cartas na mão, enquanto eu, não possuo nenhuma.

Continua...