— Limpe mesa a mesa doze Lee, está imunda — Minha gerente disse enquanto eu lavava alguns pratos.— Sim senhora — Vou até a mesa indicada e começo a esfregar com uma esponja, a TV do estabelecimento de repente começa a soar uma canção familiar, ou melhor, uma voz familiar.
Olho para a direção do objeto, e ele transmitia um replay, os melhores momentos da banda StreetBoys em Chicago. Uma multidão compunha um estádio com capacidade máxima de 20 mil pessoas. Fãs dançavam e pulavam, Hyunjin estava completamente incrível dançando e cantando. Embora fosse alguém aparentemente fechado, no palco ele se libertava, a voz mais suave dele se destacava nas melodias barulhentas das canções, num perfeito contraste acústico.
O close da câmera dava destaque ao suor por todo aquele corpo que ele não se dignou a esconder, uma nova tatuagem, da qual eu não me recordava, estava marcando parte das costelas, indo para dentro da calça. Sem a menor vergonha ele flertava com algumas garotas, as convidando para subir no palco, eu ri em escárnio quando uma linda loira de olhos azuis foi puxada da multidão por ele, ela cantava ao seu lado, apaixonada.
— Aparentemente, ele tem um tipo — As palavras sem querer escaparam, não me dei conta, mas tudo aconteceu muito rápido. Ver aquilo me trazia sensações ruins, uma certa raiva, então no automático, eu corri nervosamente até achar o controle e mudar de canal.
Pedi uma pausa para me recompor, parecia que eu ia jogar tudo pro ar a qualquer momento. Fui para o beco atrás do restaurante e acendi um cigarro. A calmaria logo veio, assim como uma sensação de bem estar. Me perguntei brevemente como sobrevivi sem cigarros por tantos anos.
Depois de exatos quinze minutos, me senti bem o suficiente para voltar. O expediente iria até o horário normal, pois, hoje seria o dia em que minha irmã sairia do hospital.
Assim que acabei de faxinar e atender os últimos pedidos, fomos limpar e fechar. A passos rápidos eu andava em direção ao hospital, ansioso para vê-la e tentar passar o máximo de conforto possível.
(...)
Cheguei e o ambiente estava uma zona, muitos pacientes devido a um acidente com carros. O desespero das pessoas indo e vindo, a falta de noticias sobre os sobreviventes, aquilo tudo me deu um leve pânico, mas me concentrei em passar com cuidado pelo amontoado de médicos e enfermeiros, e ir ao quarto de Olivia.
Mas para a minha surpresa, e infeliz expectativa, ao parar de frente para o quarto que continha janelas transparentes, minhas forças fraquejaram quando vi dois médicos com um carrinho de ressuscitação, dando choques na minha pequena irmã, tentando ao máximo salvar a vida da pobre criança.
O sons sistólicos cardíacos haviam parado de clicar, apenas existia uma corrente continua sem batimentos. O médico ruivo que atendia anunciou a hora do óbito, e a partir disso, minha vista nublou completamente.
Lágrimas, gritos, desespero.
Fui deixado entrar assim que os médicos se afastaram, e abracei o corpo pequeno e sem vida, gelado e pálido.
— Acorda! Meu amor, acorda Olivia — A maquina dos batimentos foi desligada, uma mão pousou sob meu ombro, era Jihyu.
A mulher nada disse, apenas segurou a mão pequena da filha, beijando o dorso da mão. Pela primeira vez eu vi ela chorar de tristeza, mas diferente de mim era um choro calmo, sereno, como se já esperasse por isso.
— Não havia mais o que ser feito, tentamos de tudo, mas os órgãos principais foram comprometidos, retiramos um dos rins a algumas semanas devido ao tumor. Mas o outro rin começou a falhar, e era tarde para achar algum na lista de transplantes. Nenhum de vocês era compatível, e por isso, com um órgão vital como esse comprometido, não demorou para os outros começarem a falhar. Lamentamos muito sua perda — Uma pediatra loira disse, me dando um abraço. A anos ela trabalhava conosco no caso de Olivia, e a mesma se emocionou com a perda da paciente.
(...)
No funeral, todos os meus amigos, familiares e alguns médicos se fizeram presentes. Fui abraçado por varias pessoas, mas nada daquilo me dava realmente conforto. Tudo o que eu pensava era que eu não iria mais ver o lindo rostinho sorridente de Olivia de novo. Ela lutou tanto, foi tão forte e corajosa, até mais do que eu. Meus olhos se mantiveram úmidos por cada instante que ela estava naquele caixão, rodeada por flores brancas.
O enterro se seguiu para um cemitério próximo. Changbin a todo momento se manteve ao meu lado, dando tudo de si para me segurar em pé até que tudo acabasse. No local, minha mãe se desesperou, era demais ver Olivia sendo colocada abaixo de sete palmos, era desesperador. Eu segurei minha mãe, a abraçando firme, enquanto o caixão era coberto por terra, e assim que acabou e alguns minutos se passaram, as pessoas foram saindo.
Jihyu se retirou sendo acalentada por alguns parentes, a pressão dela estava baixa devido ao esforço diário nos dois empregos e também ao recente acontecimento. Pedi para Changbin me deixar sozinho, eu precisava desse momento e ele entendeu. A lapide cinzenta de pedra, continha datas e o nome da minha irmã, abaixo um buquê de flores amarelas.
— Minha querida menininha — Descansei a mão sob a lapide fria, deixando os sentimentos fluírem em forma de lágrimas salgadas, respirei fundo e sobressaltei quando uma mão afagou meus cabelos.
— Lamento, meu anjo — A voz suave e rouca me arrepiou. Me afastei dele por impulso, vendo o mesmo sorrir.
— O q-que faz aqui? — Engoli em seco.
— Sabe, você não é o único que tem parentes mortos nesse lugar — Sacudiu um buque cheio de lírios.
— Sei — Voltei a olhar a lapide — Também sinto muito, por você. Era amigo?
— Família — Por uns instantes o olhar dele ficou perdido, como se estivesse desconfortável — Qual a idade dela?
Eu não sabia exatamente onde aquela conversa iria chegar, os momentos em que estive com Hyunjin nunca foram tão calmos, então era de se admirar toda essa postura compreensiva que ele decidiu vestir.
— Ela tinha onze, leucemia em estado avançado, cuidávamos dela desde os sete anos mas não foi suficiente, a doença era sanguínea.
Ele assentiu e andou alguns passos, se agachando na lápide e tirando um de seus lírios, depositando sobre a terra úmida em frente a lápide.
— Ela está melhor Felix, viver com um veneno diariamente correndo pelas veias com certeza deveria ser terrível. — Ergueu-se, me encarando de forma terna — Seja como for, pode dormir sabendo que ela não sofre mais.
— Como lidou com sua perda? — Enxuguei algumas lágrimas, e ele suspirou.
— Não de um jeito convencional. — De repente me lembrei do que havia dito a ele e corei completamente — Mas cada um tem seu jeito, recomendo lenços de papel, um passeio com amigos e um bom sorvete.
Eu ri de suas palavras e ele me acompanhou, era esquisito esse clima leve e ao mesmo tempo pesado.
— Rir pós um funeral é uma boa forma de lidar também — Começou a andar para onde eu imaginei ser o local onde seu parente estava enterrado, e eu o acompanhei.
Assim que paramos, era perto de uma linda arvore, abaixo tinha uma lápide, com o nome:
"Hwang Tayeon
20/03/2000 á 12/03/2015".— Ela era minha irmã gêmea, aconteceu um acidente e ela não resistiu — Pela primeira vez eu senti algum tipo de empatia por Hyunjin, talvez existisse algo além das suas péssimas atitudes, talvez um homem que se importe com alguém além de si mesmo. Então não me senti mal ao acariciar levemente as costas dele, tentando transmitir algum apoio, ele sorriu pra mim se virando para pegar minha mão e beijar suavemente minhas juntas dos dedos.
— E-então, preciso ir — Larguei sua mão e fiz menção a me afastar.
— Pode me acompanhar para um café? Acho que nós dois precisamos disso.
— Eu não sei, eu-
— Por favor Lee — Me encarou e pude notar seus olhos brilhantes, aquilo de alguma forma mexeu comigo.
— Apenas um café — Ele assentiu, agarrando novamente minha mão para irmos.
Continua...
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He's My Alibi [Hyunlix]
Fiksi PenggemarHwang Hyunjin é um cantor famoso com problemas de Psicopatia dos quais ele não se esforça nem um pouco a esconder. e do outro lado Lee Felix, um garoto com uma banda de garagem, universitário em música e que teve o azar de ter cruzado seu caminho c...