I Need a Gangster

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Soyeon havia deixado alguns medicamentos para dor, assim como pomadas e curativos. A mesma saiu um tempo depois da conversa que tiveram, levando uma mochila nas costas. O garoto se levantou, a dor se acumulando em suas juntas e músculos. Foi para onde entendeu ser o banheiro, simples e pequeno, mas funcional.

Tinha um pequeno espelho na parede, o moreno se olhou e sua aparência estava quase irreconhecível, o olho inchado um pouco fechado, e as manchas estavam com uma coloração mais forte.

— Duvido que alguém me olharia de outra forma além de com pena nesse estado — Afastou a franja da testa, sorrindo fraco e retirando as faixas para trocar.

Depois de se banhar, ele vestiu uma roupa limpa, pondo novamente as bandagens, e trocou os curativos do rosto. Caminhando para fora do banheiro, ele foi até a pequena cozinha, encontrando os remédios em cima do balcão empoeirado, ao lado de um copo de água.

Voltou a se deitar, aproveitando a chuva fina que caia, digna da época chuvosa em que estava. Ele agradeceu mentalmente por ter encontrado alguém que lhe proporcionou um teto, por mais desconfiado que ainda estivesse, não podia se dar o luxo de recusar, ele não tinha para onde ir, não ainda.

(...)

Hyunjin tinha acabado de pousar nos Estados Unidos, acompanhado de seu tio, o coronel Choi. Durante todos os dias depois que Felix havia sumido, seus sonhos foram se tornando cada vez mais perturbadores, o moreno era assombrado constantemente com a visão de um Felix morrendo na sua frente, com ele impossibilitado de fazer qualquer coisa para salva-lo.

O maior não tinha duvidas que isso tinha haver com sua preocupação em Felix ter caído nas mãos de Mingyu, e seja lá o que ele tenha feito ou possa estar fazendo, isso o enfurecia só de pensar. Mal via a hora de poder conversar com o rapaz, tocar ele e certeza que está bem, que está vivo.

O que Hyunjin não fazia ideia era que talvez a versão que conhecia de Felix estava cada vez mais se esvaindo, sumindo, se perdendo em um emaranhado de tristeza e desgosto.

(...)

Alguns dias depois...

Odeio isso — Murmurou ao entrar em uma banheira cheia de gelo.

— Eu sei que é ruim, mas acredite, com isso aqui, seus ferimentos se curaram o dobro de tempo mais rápido — Retrucou a mulher, jogando mais uma bolsa de gelo dentro da água quase pedrada — Só mais alguns minutos e pode sair.

Embora realmente fosse terrível a sensação, seus cortes, feridas e hematomas se curaram em dias, não em semanas, e isso era curioso. Felix estava intrigado sobre como Soyeon sabia sobre essas coisas, não era um tratamento que pessoas comuns usam, muito menos médicos.

— Como soube que isso funcionava? — A expressão dela se manteve igual, levando apenas alguns segundos para a mulher levantar a vista para o garoto.

— Falei que eu era uma sobrevivente, sobreviventes sabem certos truques, e agora você também sabe.

— Isso até pode ser verdade, mas você não parece ser apenas uma sobrevivente Soyeon.

— Porquê acha isso?

Felix se lembrou do que andou fazendo durante esses dias em que estava ali. O moreno aproveitava  quando estava sozinho para explorar o lugar, descobrindo que se encontrava em um local completamente afastado da cidade, cercado de arvores, sem sinal de celular ou posto de gasolina.

— Esse lugar... — Soyeon encarava as arvores dançando pelo vento do lado de fora da janela — Esse lugar não é seu, não é? — Disse Felix, arregalando os olhos brevemente quando a morena virou para encara-lo.

— Ele não é, na verdade, está abandonado a anos — Ela se levantou do banquinho onde estava, pegando uma toalha limpa no armário e a deixando ao lado da banheira — Se seque, tenho algo a conversar com você.

Felix não tinha reparado apenas o quanto aquele lugar era estranho, mas também algumas manias e detalhes. Soyeon sempre sumia pela manhã, e voltava de madrugada, por varias vezes, o garoto pegou ela com leves respingos do que parecia ser sangue nas roupas ou no rosto. Apesar de isso ter despertado alertas em sua cabeça, Soyeon nunca tentou fazer nada com ele, nem machuca-lo, pelo contrário, ela cuidava dele.

Isso só podia significar que o tipo de trabalho dela realmente era um pouco fora do comum, e ele tinha mil e uma possibilidades do que seria.

Depois de se vestir, ela o esperava na cozinha com duas xícaras de café em cima da mesa. Felix se sentou e ela acendeu um cigarro, tragando um pouco antes de começar a falar.

— Você me provou ser alguém muito forte Felix — O garoto arregalou os olhos surpreso, como assim ela sabia seu outro nome? Ele se interrogou em silêncio.

— Sabe meu nome — Ela sorriu fraco, dispersando a fumaça pelo ar — Como?

— Sou uma espiã, vim da Coreia do Norte — Novamente Felix se sentiu surpreso, dentre suas opções, ser uma espiã não estava em sua lista — E estou dizendo essa informação unicamente porque eu sei quando alguém deseja vingança, consigo ver nos seus olhos.

Ela estava totalmente certa, isso parecia irradiar de Felix cada vez mais, e parecia que o destino pela primeira vez tinha lhe dado um presente.

— Pode me ajudar? — Os olhos negros da mulher brilharam, um brilho de empolgação como ele ainda não tinha visto nela — Sei que não nos conhecemos bem, mas eu preciso dar o troco, preciso me tornar alguém forte.

— Você já é forte Felix, mas quero que entenda que ir por esse caminho pode ser algo sem volta — Ela desceu sua mão livre para seu ventre — São necessários sacrifícios, e as vezes esses sacrifícios te quebram para sempre.

— Soyeon eu já estou quebrado, fui quebrado em mil pedaços quando aqueles monstros me tocaram contra a minha vontade, fui quebrado em mil pedaços quando deixei isso me acontecer — Ele subiu a camiseta, mostrando sua cicatriz — Não existe nada em mim que ainda possa ser quebrado, todos eles me destruíram unicamente por causa de seus desejos egoístas, acha isso justo?

Ela pareceu analisar tudo o que o moreno disse, se lembrando automaticamente de como suas histórias eram parecidas, de como de fato eram mais que sobreviventes da maldade de outras pessoas.

— Eu posso te ajudar, mas peço algo em troca — Felix assentiu, pedindo silenciosamente para que ela continuasse — Faça isso por você, supere isso por você, vingar-se é uma boa motivação, mas não é só isso. Porquê quando a poeira baixar, e você tiver todos eles na palma da sua mão, vai precisar de algo além de ódio para concluir o que começou. Vai precisar de força.

Continua...

He's My Alibi                                                          [Hyunlix]Onde histórias criam vida. Descubra agora