Capítulo 02

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Cicatrizes
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Cinco anos se passaram desde aquela noite fatídica, o tempo que deveria cicatrizar as dores passadas. Mas com o tempo, essas feridas só pesaram o fardo de Akin ainda mais. O passado não era algo que ele pudesse simplesmente esquecer, ele carregava as lembranças e o peso da perda como uma sombra constante.Agora, Akin vive em um ermo distante, longe das lembranças de sua vida passada e do tumulto da guerra. O lugar, um refúgio de montanhas e florestas densas, é a antítese da fortaleza que um dia ele havia invadido. Aqui, ele tenta encontrar alguma forma de paz, embora a tranquilidade do ambiente contraste com a tempestade interna que ele enfrentava diariamente.Sua cabana é simples, feita de madeira rústica e decorada apenas com o essencial: uma lareira, uma cama e uma pequena mesa. Paredes de madeira crua seguram alguns troféus de caça e armas antigas, símbolos de uma vida de batalhas passadas e habilidades aprimoradas. A natureza ao redor é vibrante e calma, mas Akin não conseguiu escapar completamente da dor que carregava. Todas as noites, ele vivia seus dias caóticos.Em uma manhã , enquanto pequenos raios de sol invadiam o seu quarto, Akin foi acordado por uma série de sons inusitados, passos rápidos e gritos que o fizeram levantar de golpe e puxar uma faca que guardava oculta debaixo do travesseiro. Sua respiração estava agitada e seus sentidos estavam em alerta. Seu olhar rondou todo o quarto, tudo estava no seu devido lugar e o único som que podia-se ouvir era o mugir das vacas no campo e os pássaros cantando.Agora um pouco mais calmo, ele guarda a faca no mesmo lugar e se levanta da cama. Akin passou a mão pelos cabelos desgrenhados, sentindo o suor frio em sua testa. Mesmo depois de todos esses anos, seus instintos permaneceram refinados, consequência de uma vida passada sempre à beira do perigo. Ele caminhou lentamente até a janela de sua cabana, afastando a cortina para olhar o mundo lá fora.O sol matinal banhava a paisagem com uma luz dourada, lançando sombras longas das árvores sobre a neve ainda não derretida. Ele respirou fundo, tentando expulsar as lembranças que ameaçavam dominá-lo. Precisava manter o controle. Sempre. Aquela vida tranquila foi uma vitória, mas também uma prisão. Ele sabia que não podia fugir para sempre do que era, e das sombras que sempre o perseguiram.Com um suspiro pesado, Akin vestiu uma camisa de linho áspero e calçou suas botas gastas. Ele começará o dia, talvez ocupe sua mente com tarefas rotineiras para afastar as memórias. Saiu do quarto e no pequeno corredor encontrou a sua companhia de quatro patas estava deitado à porta do quarto.

— Bom dia para você também, Sr. Preguiçoso.- Cumprimentou Akin vendo seu companheiro Black, um Jagerlot, um felino enorme, grande como um urso de orelhas longas e com tufos nas pontas, uma cauda de noventa centímetros de comprimento, uma camada de pelo como se fosse a crina de um gnu que se estendia da cabeça até o dorso e presas grandes. Apesar de ser um felino que anda em alcateias, Black era um desgarrado, assim como Akin. Eles haviam se encontrado anos atrás, quando Akin ainda estava se ajustando à sua vida de isolamento. Naquela época, Black era só um filhote e estava ferido, separado de seu grupo e próximo da morte. Akin o resgatou, cuidou de seus ferimentos e, desde então, os dois formaram uma parceria silenciosa e leal. 

Akin junto a Black fizeram então o seu ritual diário, preparou um café, alimentou e ordenhou suas vacas, ajeitou o galinheiro e preparou a carroça que era puxada por dois jumentos. Apesar de Black ser um animal enorme, Akin não o tratava como um burro de carga. Era de costume em alguns lugares, montar em Jagerlotes e usá-los como cavalos e burros para puxar carroças, mas Akin apenas o montava quando era extremamente necessário.Vestido com roupas de viajante e armamento leve, ele seguiu viagem até a cidade. Como a cidade mais próxima ficava a muitas horas de viagem de sua casa, apesar de ser um risco deixar sua casa e criações tanto tempo sozinho, ele podia ficar tranquilo, afinal, todos sabiam com os que aconteciam com os invasores que ousavam entrar em sua casa.Black caminhou ao lado da carroça, mantendo seu ritmo com facilidade. Akin gostava de viajar com o Jagerlot, mesmo que fosse apenas para realizar tarefas simples.

Eu sou um Renegado - Arthur M.C. SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora