Capítulo 18

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Laços que vão além do Sangue
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Em meio aos escombros e aos corpos sendo recolhidos, a Vila do Sol tentava se reerguer novamente, mesmo tendo se passado apenas alguns dias desde o ataque devastador. O cheiro de fumaça ainda pairava no ar, enquanto moradores caminhavam entre os destroços, tentando salvar o que podiam de suas casas destruídas. O som de martelos e serras começou a preencher a aldeia à medida que alguns tentavam reconstruir suas moradias.
A pequena comunidade era conhecida por sua resiliência, mas as cicatrizes deixadas pelo ataque não seriam facilmente apagadas. Crianças brincavam, embora de maneira silenciosa, sem a alegria de antes. As mães observavam, com olhos pesados de preocupação, enquanto os pais e irmãos mais velhos ajudavam a remover as ruínas.
No centro da vila, um pequeno altar havia sido improvisado para os mortos, onde velas tremeluziam, acompanhadas por murmúrios de preces. As feridas físicas eram visíveis, mas as emocionais, escondidas nos corações das pessoas, eram profundas e demorariam a cicatrizar.
Entre os que ajudaram na reconstrução, estava Tia Joaquina, de mãos calejadas e rosto marcado pela idade, trabalhava incansavelmente ao lado dos mais jovens. Seu olhar era firme, mesmo diante da devastação, e suas palavras sempre tinham o efeito de acalmar aqueles ao seu redor. Ela orientava os moradores sobre como melhor aproveitar os escombros para reconstruir suas casas, dando sugestões com a experiência de quem já havia visto muitas tragédias na vida.

— Não se preocupem, meus queridos. A vida continua. Já passamos por momentos difíceis antes, e vamos passar por isto também. — Sua voz era suave, mas com uma firmeza que oferecia esperança.
As crianças, apesar da tristeza no ar, corriam até ela de tempos em tempos, buscando algum conforto. Ela sempre tinha uma palavra gentil ou um abraço para oferecer, mesmo quando o peso da tragédia parecia mais forte.

— Tia Joaquina, acha que a vila vai ficar boa de novo? — perguntou uma menininha, seus olhos brilhando com lágrimas reprimidas.

Tia Joaquina se agachou, ficando na altura da criança. Pegou as pequenas mãos sujas da menina e respondeu com um sorriso cansado, mas genuíno:

— Vai, minha querida. Vai ficar ainda melhor do que antes. E sabe por quê? Porque nós não desistimos. Nós somos fortes, assim como o Sol que sempre volta a brilhar, não importa quantas nuvens apareçam.

Enquanto ela falava, um grupo de homens ao fundo, incluindo alguns jovens que tinham ajudado a defender a vila no ataque, olhavam em direção ao altar, murmurando sobre vingança. As feridas deixadas não eram apenas de destruição física, mas também de orgulho e dor. Tia Joaquina sabia que manter o equilíbrio entre reconstruir a vila e curar os corações feridos seria o maior desafio dali em diante.

Ela parou por um momento, observando o horizonte com um ar pensativo. O silêncio pesado que caía entre as casas arruinadas e as conversas contidas trazia à tona memórias de outros tempos difíceis, de outras batalhas, e ela sabia que, embora as cicatrizes ficassem, o espírito de luta da Vila do Sol nunca se apagaria.
Ela voltou para a sua casa e viu que ela ainda estava de pé, mas a maioria das coisas estavam reviradas, utensílios espalhados pelo chão, e algumas paredes estavam manchadas de fuligem e poeira. Ela andou lentamente pelos cômodos, suas mãos tocando suavemente os objetos revirados, como se estivesse se conectando com as memórias que cada um carregava.

— Ainda de pé... — murmurou para si mesma, com um misto de alívio e tristeza.
Ela começou a organizar as coisas, ajeitando as cadeiras e recolhendo pequenos pedaços do que antes eram lembranças de um lar. Enquanto fazia isso, sua mente vagava pelos acontecimentos recentes, pelas vidas perdidas e pela força que ainda precisava encontrar para seguir em frente.

No canto de uma das salas, encontrou um velho baú. Com as mãos trêmulas, abriu a tampa, revelando algumas relíquias da família, objetos que ela tinha guardado com carinho ao longo dos anos. Entre eles, havia uma antiga foto em preto e branco de sua juventude, ao lado de seus pais. Ela olhou por alguns segundos, deixando as memórias do passado a confortarem.

Eu sou um Renegado - Arthur M.C. SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora