Capítulo 24

7 1 0
                                    

Lutando como Um
⤛☾⤜

Após a tentativa fracassada de acabar com Akin e seus aliados sobre o mar, Fantasma se irritou profundamente. Seu plano meticuloso havia falhado, e a frustração começou a transbordar. Ele observou através de um reflexo enquanto Akin e seus aliados se reuniram com os Novver, ainda vivos e determinados, após a batalha intensa no mar. As águas agitadas, as explosões e a tempestade que ele mesmo invocara não foram suficientes para destruí-los.
Fantasma, uma figura misteriosa e poderosa, cujos verdadeiros motivos ainda estavam envoltos em sombras, sabia que Akin era mais do que apenas um adversário comum. Havia algo nele que o tornava especial, algo que o próprio Fantasma desejava controlar ou eliminar.
— Você sempre deu a volta por cima, não é, Garra da Morte? - Murmurou, sua voz ressoando como um eco sinistro na vastidão da noite.- Talvez eu ainda consiga arrancar esse poder de você ao invés de destruí-lo...
— Mestre...- Chamou um dos seguidores interrompendo o Fantasma que virou-se lentamente, seu olhar frio e penetrante pousando sobre o seguidor que ousava interromper seus pensamentos. A figura sombria, envolta em um manto negro, se curvou diante de seu mestre, tremendo levemente sob o peso da presença imponente de Fantasma.- O Lorde Sikkari o chama no Grande Espelho.
O espelho, uma vasta superfície escura e cintilante, parecia uma janela para outro mundo. Enquanto se aproximava, as bordas da superfície começaram a brilhar com uma luz púrpura e fria, e, em segundos, a imagem de Lorde Sikkari surgiu diante dele. A figura imponente e demoníaca do Lorde dos Sombrios tinha chifres curvados e olhos vermelhos incandescentes, que pareciam atravessar as sombras.
— Fantasma — a voz de Sikkari era grave, profunda e cheia de poder, ressoando como um trovão distante. — Você falhou.
— Akin de Santos e os seus aliados são mais resilientes do que o esperado — admitiu Fantasma, mantendo o tom controlado. — Mas eu tenho outros planos. Não subestime o poder que possuo, meu senhor.
Sikkari inclinou a cabeça levemente, avaliando-o com seus olhos flamejantes.
— Poder? Ou obsessão? — Sikkari perguntou com um toque de desdém.- Já lhe dei todo o poder que te tornaria praticamente um deus, por que se preocupar com um mísero inseto?
— Meu senhor, o senhor não o conhece tão bem como eu... aquele homem carrega uma força que podemos usar.
O silêncio entre eles foi carregado de tensão, como se o próprio ar estivesse prestes a explodir. A imponente presença de Sikkari parecia absorver toda a luz ao redor, enquanto ele meditava sobre a justificativa de seu subordinado.
Sikkari cruzou os braços, suas garras reluzindo à luz difusa que emanava do espelho. Ele olhou para Fantasma com uma expressão que misturava interesse e impaciência.
— E o que você faz acreditar que pode dominá-lo? — Disse Sikkari, suas palavras impregnadas de um tom de desafio. — Ele não é um mero peão em seu jogo. Akin possui um espírito indomável. Tentar controlá-lo pode ser sua ruína.
Fantasma balançou a cabeça, negando as palavras de Lorde dos Sombrios.
— Eu não pretendo controlá-lo, meu senhor. Eu pretendo oferecer uma escolha. Se ele puder ser melhorado de quem está lutando ao nosso lado, seu poder se tornará um ativo inestimável. Imagine o que pensamos juntos, com a Garra da Morte ao nosso lado.
Sikkari arqueou uma sobrancelha, uma ideia parecendo intrigante.
— Um pensamento ousado — ele comentou, sua voz agora mais suave, mas ainda carregada de ceticismo. — Muito bem, faça isso. Traga Akin até mim, mas não se esqueça do que lhe prometi. Eu não tolerarei outro fracasso. Lembre-se de quem detém o verdadeiro poder aqui.
Fantasma assentiu, sua mente já em movimento, traçando os passos necessários para fazer seu plano funcionar. Ele sabia que precisava ser cauteloso, mas a ideia de usar a vulnerabilidade de Akin era uma oportunidade que não poderia ser desperdiçada.
— Como desejar, Lorde Sikkari. Farei isso... — declarou Fantasma, inclinando-se respeitosamente antes de se afastar do espelho. À medida que ele se afastava, um sorriso sutil se formava em seus lábios. Ele tinha uma chance de jogar um jogo muito mais profundo, e, se tivesse sucesso, não apenas conseguiria a força de Akin, mas também ganharia o favor de Lorde dos Sombrios.
Ele virou-se para seus seguidores, uma nova determinação tomando conta de seu semblante. Ele estendeu a mão e lançou um feitiço em um de seus seguidores que começou a se debater e estrebuchar no chão.
— Preparem-se — tentem, sua voz fria e calculista. — Levem ele até Flottär e o deixem na praia... A caçada a Akin de Santos e seus aliados começou de verdade. Desta vez, ele não escapará, os outros, procurem qualquer vestígio do Coração do Vazio.
Em Flottär, na aldeia do Novver, era um dia como qualquer outro, o dia começou tranquilo. A brisa fria e suave da montanha trazia o agradável aroma de pinheiros , enquanto os aldeões iam e vinham, ocupados com suas tarefas diárias. Akin e seus aliados finalmente aproveitaram um raro momento de paz, recuperando suas forças após uma dura batalha no mar e uma acolhida tensa entre
Akin, sentado em frente a varanda de sua cabana, meditando enquanto a neve caía do lado de fora da muralha, uma sensação de inquietação invadiu sua mente. O silêncio gélido das montanhas parecia tranquilizador, mas Akin sabia que a calma era apenas temporária. Ele ainda sentiu o peso da batalha recente no mar e a tensão de ter que provar sua lealdade à tribo Novver. Agora, finalmente, ele e seus aliados tiveram um momento para descansar, mas sabiam que a paz era frágil.
Do lado de fora, Mary, Zara, Kiran, Sam e Felipe estavam integrados com os Novver, cada um se ajustando à sua maneira. Mas Akin permanecia recluso, afastado de tudo e de todos, pensando em seu caminho até aqui. Tudo o que ele havia contado às matriarcas, tinha um toque profundo e doloroso em suas palavras, falar de seu passado o assombrava, viver no presente era uma luta inacabável e viver em um futuro incerto.
— Sempre assim... — murmurou ele, cerrando os punhos. A tranquilidade ao seu redor contrastava violentamente com a tempestade interior que carregava.
Enquanto refletia, um movimento sutil não chamou sua atenção. Alguém entrando de fininho na cabana, com pessoas leves indo em sua direção, mas não imperceptíveis para ele.
— Se esqueceu como ser furtivo, Kenji...?,  Sotto te bateria por isso.
— Você sempre foi bom demais nisso, Akin — disse Kenji, um leve sorriso tocando seus lábios, mas havia algo mais profundo em seus olhos, uma melancolia que ambos compartilhavam. — Mas não era minha intenção te assustar... Só queria ver se você ainda estava alerta.
— Você deveria saber que eu nunca baixo a minha guarda, amigo. — Akin respondeu enquanto se levantava, a voz baixa, mas continha de um peso que refletia os anos de lutas e perdas.- O que acha dos Novver?
— São um povo agradável, fico impressionado como uma tribo pode ser tão funcional em um lugar tão remoto e longe de outras civilizações.
— Eles têm que ser — respondeu Akin, olhando para o horizonte coberto de neve. — Quando você vive isolado do mundo, apenas resta a confiança no seu próprio povo. E isso os torna fortes... mas vulneráveis ​​ao mesmo tempo.
— Fiquei me perguntando sobre quanto tempo essa paz vai durar. Com o que está por vir, parece que tudo está prestes a desmoronar.- Kenji reflete, cruzando os braços enquanto observava os aldeões Novver ao longo.
Akin não respondeu imediatamente. Ele sabia que Kenji estava certo, mas havia algo a mais pesando em sua mente. As ações de Fantasma, o perigo iminente, e o medo de que essa calmaria fosse apenas uma ilusão passageira.
— Sabe, Kenji — Akin começou, sua voz baixa e trazida de uma melancolia profunda. — Às vezes me questiono se a gente vai encontrar paz de verdade algum dia. Tudo isso... as batalhas, as perdas... parece que estamos sempre andando em círculos.
— Parece que você já a encontrou meu amigo, mas precisa abrir os olhos e seu coração para isso. -Kenji olhou por um momento, vendo o cansaço que Akin tentava esconder.
— Mesmo com os meus fantasmas que me atormentam todo o tempo?- Akin responde com dor e cansaço enquanto via a neve cair, como se o tempo tivesse parado.
— Akin, vai voltar de novo com essa história do...
— Não estou falando do Killerclaw, Kenji...- Akin o interrompe enquanto suspira profundamente, os olhos fixos na neve que caía suavemente, mas seu pensamento estava longe, em batalhas antigas e nas cicatrizes invisíveis que carregava.- Eu... nas últimas noites, eu os vi, Kenji... aqueles que não pude proteger... meu pai, nossos amigos... Jaina.
Kenji parou por um momento, sentindo o peso nas palavras de Akin. A neve caía lentamente ao redor da cabana, criando um silêncio quase reverente. Ele sabia que o amigo carregava muito mais do que qualquer guerreiro deveria, e mencionar Jaina trouxe uma sombra ainda mais profunda sobre ele.
— Akin... — Kenji começou, escolhendo suas palavras com cuidado. — Sei que a dor da perda nunca é passageira, eu ainda sinto falta deles, mas você tem que se libertar dessa culpa e parar de viver o passado, senão nunca vai conseguir seguir em frente.
— Como se segue em frente, Kenji? Essa culpa nunca vai parar de me perturbar...Não importa o que eu faça, ela sempre está lá.  - Akin respondeu, a voz tremendo levemente enquanto uma sombra cruzava seu rosto. -  Ele olhou para as marcas na madeira da cabana, como se nelas pudesse encontrar respostas.A cada batalha, a cada momento de paz, é como se algo estivesse me puxando de volta. Eu deveria tê-los salvo. Todos eles.
— Você fez o que tinha que fazer, Akin. Não somos heróis perfeitos. Você salvou vidas, protegeu pessoas. Isso não vale nada para você?- Kenji franziu o cenho, cruzando os braços enquanto ponderava sobre o que Akin estava tentando dizer.
— De que vale  Kenji? — Akin perguntou, a voz carregada de desespero. — Se as vidas que eu não consegui salvar pesam mais que as que salvei? Todos esses sacrifícios... é como se tivessem sido em vão. Se eu não puder salvar aqueles que amava, então o que resta?
— Akin, entenda isso, a morte não é algo que podemos controlar.- Kenji começou, tentando transmitir um pouco de sua própria paz interior.Todos nós perdemos alguém em algum momento.-  Não podemos controlar a vida e a morte porque não cabe a nós fazermos isso. O que podemos controlar é como reagimos a isso.
— Reagir? — Akin riu, um som amargo. — E como eu reajo a ter falhado? Como reajo a ter deixado Jaina para trás, sabendo que ela confiava em mim?
— Faça aquilo que Jaina queria que você fizesse, siga em frente!- Kenji exclamou, sua voz firme e carregada de determinação. — Ela sempre acreditou em você, mesmo nas situações mais sombrias. E eu sei que, se ela estivesse aqui, ela te diria para não deixar que a dor te consuma, isso chega a ser até egoísmo da sua parte.
Akin mordeu o lábio, a lembrança de Jaina cortando como uma faca. Ele podia quase ouvir a risada dela, a maneira como seus olhos brilhavam quando falava sobre um futuro melhor, as sensações que ela o fazia sentir.
— Siga em frente... É fácil para você falar, Kenji, não é atormentado por aqueles que amava, para você tudo parece tão fácil quando fala dessas filosofias motivacionais.- Akin dá um riso amargo fazendo Kenji fechar sua expressão.
— Eu fui orfão, Akin... se esqueceu disso?- Kenji prosseguiu, sua voz subindo levemente em intensidade. - Pessoas que eu amava se foram, mesmo que eu quisesse que não, mas isso não é algo que eu deva remoer como uma ferida, é algo que eu tenha que entender e honrar eles mesmo que não estejam em vida!
Akin sentiu a intensidade do olhar de Kenji e, por um momento, a amargura começou a dissipar. A verdade nas palavras de Kenji era inegável, mas a dor que ele carregava era como um peso constante em seu peito.
— Você fala como se fosse simples — Akin respondeu, seu tom ainda carregado de desespero. — Você não sabe o que é viver com essa culpa todos os dias. Cada vez que fecho os olhos, vejo Jaina. Vejo o que poderia ter sido, o que eu poderia ter feito.
– E mais uma vez, você está fugindo da sua dor! Akin, quando você vai acordar?-Kenji insistiu, sua voz firme e determinada, como se estivesse tentando romper a barreira que Akin havia erguido ao seu redor.
– Acordar?? — Akin repetiu, sua voz mais baixa, quase um sussurro. — Sabe como eu acordo todas as manhãs, Kenji? Com a droga de uma faca na minha mão ao sonhar com aquelas guerras e lutas.... E como todo o dia, como em toda maldita manhã, eu me levanto e me olho enojado de mim mesmo! E agora, só de pensar que a única mulher que amei nessa vida, morreu por que eu fui covarde em não salvá-la com o mesmo empenho de quantas vidas eu tirei, isso me faz querer arrancar o coração do meu próprio peito!
Akin exclamou, o desespero escorrendo por suas palavras, enquanto a angústia tomava conta do seu olhar. Mas em seu íntimo, ele sabia que estava fugindo da dor e não a enfrentando.
— Essa é a armadilha em que você está se prendendo — Kenji disse, aproximando-se ainda mais, a preocupação evidente em seu olhar. — Você se condena por um fardo que não é seu. A vida é assim. Você não está traindo a alma de Jaina ao seguir em frente, você a trai com sua própria dor e as desculpas que você monta para se defender!
Akin desviou o olhar, lutando contra a onda de emoções que o inundava. Seu rosto estava endurecido como uma rocha com aquele mesmo olhar de determinação e certeza de que estava certo, mas sua alma estava cansada e sabia que Kenji estava certo, seu coração chorava ao mesmo tempo que sua mente dizia para se conter. O momento foi interrompido quando Ralok entrou na cabana com sua lança.
— Com sua licença, Akin.- Disse Ralok com respeito mas com firmeza em sua voz.- Estamos nos preparando para uma caçada agora, pensei que gostaria de nos acompanhar.
— É claro, Ralok, será um prazer.- Respondeu Akin, como se a proposta de uma caçada o ajudasse a encontrar um propósito momentâneo. Ele se virou para Kenji, que ainda o encarava com firmeza mas com uma pequena ponta de pena pelo amigo, Akin se aproximou de Kenji.- Deixe que de meus problemas cuido eu, não quero que você seja atormentado como eu sou...
Sussurrou Akin para seu amigo enquanto se afastava indo junto a Ralok, Kenji fechou os olhos em sinal de decepção é pena por seu amigo fugir mais uma vez de sua dor.
— Nossa conversa não acabou, Akin... vamos terminar isso mais tarde — Kenji disse, a frustração evidente em sua voz. Ele queria que Akin entendesse que fugir não resolveria nada. Mas Akin já se afastava, caminhando ao lado de Ralok, que o guiava para fora da cabana e em direção à floresta. O olhar que Kenji lançou para ele era de um amigo que não queria desistir, mas sabia que Akin precisava enfrentar suas próprias batalhas, mesmo que isso significasse afastar-se temporariamente.
Akin caminhou ao lado de Ralok, absorvendo o ambiente ao seu redor. A neve cobrindo o chão criava um manto silencioso, e o ar frio parecia revitalizá-lo. Ele sabia que Kenji tinha razão; havia muitas questões sem resposta em sua mente e coração, mas a caçada representava uma fuga temporária, um momento para se concentrar em algo fora de si mesmo.
— Você está bem, Akin? — Ralok perguntou, quebrando o silêncio enquanto continuavam a caminhada. — Você parece distante.
— Estou apenas pensando — Akin respondeu, esforçando-se para manter a voz neutra.- Para onde estamos indo?
— Saberá quando chegar lá, os outros caçadores já nos esperam no portão da tribo, traga sua fera negra, ele nos será útil. — Ralok respondeu, lançando um olhar encorajador para Akin.
Akin assentiu, buscou Black e partiu junto com Ralok, Tayet e os caçadores, aquela caçada seria a oportunidade perfeita para que ele provasse seu valor às Matriarcas, de longe, Kenji o o observava partir, preocupado, mas respeitando a escolha de Akin em buscar um propósito fora de sua dor.
À medida que avançavam, o som de risadas e vozes se tornou mais audível. A expectativa estava no ar, misturada ao cheiro fresco da madeira e da neve. O portão da tribo se aproximava, e Akin sentiu seu coração acelerar. Ele sempre havia sido um caçador, mas cada missão agora trazia um peso diferente, um peso que ele lutava para entender.
— Lembre-se, Akin — Ralok disse, quebrando seus pensamentos. — A caçada é uma chance de demonstrar seu valor. Não deixe que suas dúvidas te impeçam de agir.
— Não o assuste, Ralok. Imagino que não seja a primeira caçada de Akin, não é?- Pergunta Tayet enquanto amarrava seus cabelos castanho- avermelhados e longos dando um sorriso brincalhão. Akin sorriu de volta, a leveza da conversa ajudando a aliviar a tensão que se acumulava dentro dele.
— Não, não é a minha primeira — respondeu Akin, tentando manter o tom leve. — Mas, sim, as coisas têm mudado um pouco desde a última vez.
— Então você deve saber que a primeira regra é sempre estar atento aos sinais. — Tayet respondeu, com uma piscadela. — E, se tudo falhar, temos um Jagerlot ao nosso lado.
Akin continuou a viagem ao lado dos caçadores em silêncio por alguns minutos, até Ralok lhes dar um sinal fazendo todos pararem, eles avistaram um rebanho de Bornuns, búfalos grandes de chifres enormes que se erguiam como grandes asas abertas, pelagem marrom com listras brancas nas pernas traseiras.
— Muito bem caçadores, preparem suas lanças e arcos e vamos nos dividir, eu vou com Tayet, Akin, você pode...- Ralok falou organizando os caçadores, mas Tayet o interrompe.
— Na verdade, eu vou com Akin, Ralok...-Tayet responde olhando para Akin com uma certa malícia e um outro sentimento que Akin não decifrava. Ralok ergueu uma sobrancelha em resposta à interrupção de Tayet, era óbvio que ele queria ir com ela.
— Ah Tayet, não creio que o nosso convidado precise de ajuda, afinal ele é um caçador experiente. — disse Ralok, tentando manter um tom leve, embora houvesse uma ponta de ciúme em sua voz.
Tayet sorriu de canto, ignorando o tom de Ralok. Ela se aproximou de Akin, colocando uma mão em seu ombro de forma casual, mas o suficiente para ele perceber o toque.
— Mesmo os caçadores mais experientes podem aprender algo novo, Ralok — respondeu Tayet, sem desviar o olhar de Akin. — Além disso, duas cabeças pensam melhor do que uma.
Akin, sentindo o peso do olhar de ambos, sabia que não poderia se esquivar facilmente da situação. Ele assentiu, tentando manter a neutralidade.
— Eu... não me incomodo de ir sozinho, mas... se você quiser...- Akin responde com uma voz neutra, como se não se importasse em ir sozinho ou não.
Akin, tentando desviar a tensão entre Tayet e Ralok, respondeu com uma voz neutra, equilibrada, como se realmente não se importasse com a companhia ou não. Tayet sorriu, inclinando a cabeça levemente, seu olhar fixo em Akin.
— Vou com você. Não se preocupe, Ralok vai sobreviver sem mim por algumas horas. — Ela falou de forma provocativa, claramente aproveitando a oportunidade para cutucar o orgulho de Ralok.
Ralok soltou um suspiro, forçando um sorriso. Era óbvio que ele não estava nada feliz com a escolha de Tayet, mas não quis criar uma discussão. Ele assentiu, tentando manter o foco na caçada.
— Como quiserem — disse ele, com uma pitada de resignação em sua voz. — Só garanta que trarão de volta um bom troféu. E lembrem-se, somos um e caçamos como um!
Akin percebeu que, mesmo tentando não se envolver no conflito entre os dois, agora ele estava bem no centro. Ele apenas acenou com a cabeça e pegou suas espadas e caminhou calmamente antes de Tayet o puxar pelo braço, deixando Ralok mais enciumado. Ele sabia que, no final das contas, a caçada era o foco, e ele não estava ali para alimentar disputas pessoais. Deu um leve aceno com a cabeça e começou a caminhar ao lado de Tayet.
Enquanto se afastava, Akin podia sentir o olhar de Ralok queimando em suas costas. Era óbvio que a situação entre ele e Tayet era mal resolvida, mas ele não tinha energia para lidar com isso naquele momento. O vento frio batia em seu rosto, ajudando-o a se concentrar novamente na missão.
Tayet, no entanto, parecia imperturbável com o ciúme de Ralok. Ela andava ao lado de Akin com uma confiança tranquila, lançando olhares ocasionais em sua direção, como se estivesse avaliando-o.
Os caçadores se dividiram rapidamente, movendo-se de forma silenciosa e organizada ao redor do rebanho de Bornuns. O clima de expectativa pairava no ar, enquanto cada um assumia sua posição estratégica para cercar os enormes búfalos. Akin, ao lado de Tayet e seu Jagerlot, Black, observava os Bornnus de perto.
Akin se abaixou na relva mais alta, indo cautelosamente para que os Bornuns sentissem seu cheiro ou notassem que estavam ali, ele mandou que Black se esgueirasse para mais perto dos animais para criar uma confusão assim que ele desse sinal, Tayet permanecia ao seu lado, observando tudo, até estava perto demais para o gosto do Akin.
— Black vai causar a distração perfeita. — sussurrou Akin, tentando manter o foco na caçada. Ele gesticulou discretamente para o Jagerlot, que desapareceu entre as sombras com agilidade impressionante, aproximando-se dos Bornus sem fazer barulho.
Tayet sorriu de canto, notando o profissionalismo de Akin. Ela se aproximou mais um pouco, quase tocando seu ombro.
— Você é bom nisso, Akin. É fácil ver que tem experiência... mas também parece que carrega um fardo pesado. — Sua voz era suave, quase sedutora, enquanto ela o avaliava, sem nunca tirar os olhos dos Bornus.
Akin manteve a concentração nos animais à frente, embora sentisse a tensão no ar, tanto por causa da caçada quanto pela proximidade de Tayet. Ele sabia que precisaria escolher suas palavras com cuidado.
— Todos carregamos algo, Tayet. — Ele respondeu, em um tom controlado. — Mas não é hora de falar sobre isso. Precisamos nos concentrar.
— Você fala de uma forma tão profunda, como se estivesse sempre refletindo sobre tudo. — Ela disse, quase em um sussurro.- Como se carregasse uma dor maior do que você pode suportar.
— Minha vida nunca foi moleza, a dor já faz parte de mim desde que nasci, estou acostumado com isso.- Akin responde de forma direta e sem querer puxar muito assunto, mas Tayet era insistente e se aproximou ainda mais dele, Akin podia até sentir o cheiro dos cabelos longos dela.
— Como consegue se acostumar com algo assim?
— Pelo o que você caça, Tayet?- Akin pergunta olhando fixamente para ela.
— Eu caço por sobrevivência. — Ela disse, finalmente. — Pela minha tribo, pelas pessoas que dependem de mim.
— Exato, eu convivo com essa dor há anos, mas quando eu luto, luto pelas pessoas que são importantes pra mim, assim como você, mas pra isso preciso de foco, então se você está nessa caçada por aqueles que ama, faça o mesmo.- Akin responde voltando seu olhar para os animais, Tayet ficou em silêncio por alguns instantes, absorvendo as palavras de Akin. Mas ela ainda queria saber mais dele, queria conhecê-lo melhor.
— É, tem razão, foco é tudo. Às vezes, eu me deixo levar pelas emoções, desculpe.- Ela responde ainda com aquele tom brincalhão mas ao mesmo tempo sedutor, Akin apenas assentiu enquanto mantinha o foco.- Quantas pessoas você já matou?
Akin a olhou com a sobrancelha arqueada a encarando com tédio e cansaço, o olhar dela era como de uma criança curiosa, ela lembrava muito a Aruna e seu jeito curioso de questionar tudo.
— Sempre faz tantas perguntas assim?
— Só pra quem eu acho interessante de perguntar...- Respondeu Tayet o encarando sedutoramente, Akin podia sentir a respiração dela contra seu rosto quando ela se aproximou dele. Akin apenas ficou em silêncio, rolou os olhos e deu um riso leve.
Ela sorriu, um sorriso leve que ele pôde perceber pelo canto do olho, mas antes que pudesse responder, Black, seu Jagerlot, já estava em posição. O enorme felino, de pelagem negra como a noite, movia-se com a graça de um predador nato, quase imperceptível entre as sombras das árvores e a grama alta.
Akin ergueu a mão discretamente, sinalizando para Black aguardar. Ele e Tayet estavam na posição ideal para iniciar o ataque. O plano era simples: Black criaria uma distração, assustando o rebanho e os direcionando para onde os outros caçadores esperavam com lanças e flechas prontas.
— Agora — Akin sussurrou, e com um leve estalo de seus dedos, deu o comando.
Black saltou das sombras com agilidade, liberando um rugido feroz que ecoou pela planície. Os Bornuns, pegos de surpresa, começaram a correr em todas as direções, seus cascos pesados esmagando a terra enquanto o pânico se espalhava pelo rebanho.
Quando o rebanho começou a correr, os caçadores se levantaram, ergueram as lanças gritando e correndo em direção a eles, enquanto a cena se desenrolava em um frenesi de ação. Akin e Tayet se mantiveram próximos, os corações batendo em uníssono com a adrenalina da caçada. Akin segurou suas espadas com firmeza, sentindo a energia pulsante em suas veias.
— Vamos! — Akin gritou, encorajando Tayet e seguindo a multidão de caçadores que avançava em direção ao rebanho em fuga. Os Bornuns, em sua confusão, trombando uns contra os outros, criando um cenário caótico. Akin viu um deles se separar do grupo, tentando escapar na direção oposta, um macho grande. Sem hesitar, ele correu em sua direção, seu corpo se movendo automaticamente, treinado para a caça.
A velocidade de Akin impressionava a todos, nenhum homem era tão rápido assim, era como se ele não fosse nem um humano, mas uma força da natureza em si. Seus passos eram firmes e decididos, cortando a neve com precisão enquanto ele se aproximava do Bornun fugitivo.
Tayet o seguiu de perto, sua habilidade com o arco em mãos, pronta para disparar. Akin sentiu a adrenalina pulsando em seu corpo, seu foco total no alvo à sua frente. O Bornun, percebendo o perigo, tentou mudar de direção, mas Akin já estava um passo à frente.
— Não deixe ele escapar! — gritou Tayet, e Akin sabia que ela estava certa. Aquela caçada não era apenas sobre um troféu; era sobre honra e sobrevivência. Ele não podia falhar.
Ele saltou, impulsionando-se para frente com uma força impressionante, aterrissando próximo ao Bornus. Com um movimento ágil, Akin brandiu suas espadas, mirando com precisão nas patas da criatura e rolando no chão. A lâmina cortou o ar, atingindo o Bornus com um golpe certeiro. O animal ruge de dor, mas Akin não hesitou.
Ralok movido pelo ciúme e pela tentativa de impressionar Tayet, jogou a sua lança contra o animal, mas foi em vão, a lança havia acertado o chifre do Bornun, chamando sua atenção para o caçador. O animal mugiu ferozmente e correu em direção de Ralok irritado, inclinando sua cabeça para chifrá-lo, mas Akin saltou em seu pescoço, o conduzindo para longe de Ralok e dos outros caçadores.
Akin sentiu a adrenalina bombear em suas veias enquanto se pendurava no pescoço do Bornus, segurando firme para não ser derrubado. A criatura, agora furiosa e descontrolada, balançava a cabeça, tentando se livrar do intruso. Black de longe veio em direção ao animal se lançou na jugular da criatura, o Bornun estava com um predador em seu pescoço enquanto um assassino montava seu lombo e o golpeava.
A criatura balançou a cabeça de um lado para o outro, mas Akin não tinha intenção de desistir. Ele usou a força do seu corpo para pressionar a lâmina contra a pele do Bornus, mirando em um ponto vulnerável logo atrás do pescoço, onde a carne era mais macia. Com um movimento rápido, ele puxou suas espadas para baixo, cortando profundamente enquanto o Bornus se contorcia em resposta, mas aquele já era o fim, o animal caiu sobre o pasto e a neve derretida com Black o pressionando contra o chão, Akin então deu o golpe de misericórdia, cravando suas espadas contra o coração do Bornun.
O som do impacto reverberou pelo campo, misturando-se ao eco distante de gritos dos outros caçadores que, vendo o que acontecera, ergueram os braços em celebração.Akin respirou fundo, tentando controlar seu coração acelerado enquanto observava a cena à sua volta. Os outros caçadores se aproximaram, alguns ainda em estado de choque pela velocidade da ação, outros já prontos para se unir em celebração.
— Isso foi incrível! — Tayet exclamou, seus olhos brilhando com a excitação da caçada bem-sucedida. — Você foi espetacular, Akin!
Akin deu um leve sorriso, mas a atenção dele estava voltada para Ralok. O caçador, ainda ofegante, caminhou em direção a Akin, sua expressão uma mistura de admiração e frustração.
— Eu... eu não pensei que você fosse tão rápido — admitiu Ralok, a relutância evidente em sua voz. — Você realmente salvou minha pele lá.

— Caçamos... como um!- Akin repetiu as palavras de Ralok em sinal de respeito a ele, embora estivesse com ciúme, Ralok o comprimentou como se Akin fosse parte de sua tribo, o reconhecendo como um irmão.
O grupo se organizou rapidamente, com Ralok liderando o caminho de volta, o Bornun arrastado por cordas feitas de fibras resistentes. Tayet caminhava ao seu lado, ainda com aquele olhar curioso, como se estivesse decidindo como decifrar Akin, enquanto Ralok permanecia atrás, seu orgulho ferido, mas relutante em reconhecer o talento do novo caçador.
Enquanto caminhavam, Akin sentiu que a caçada havia trazido algo a mais. O ambiente ao redor deles mudava conforme se aproximavam do acampamento. Quando chegaram aos portões de Novver, a tribo inteira cantou em celebração, os caçadores começaram a dizer que Akin havia derrubado a fera com suas próprias mãos, lutando com seu Jagerlot como se fossem um.
Akin permanecia em silêncio diante da tribo, mas ao mesmo tempo honrado por eles, as Matriarcas se aproximaram dele para homenageá-lo, mesmo que a matriarca Tófa ainda não confiasse nele totalmente, as outras o abençoaram diante de todos os Novver, mostrando que depositavam sua confiança nele.
À medida que a noite caía, fogueiras foram acesas e a luz dançava sobre os rostos animados da tribo. Akin se uniu aos outros ao redor da chama, suas preocupações diminuindo conforme a música e a dança envolviam o ambiente. O passado não poderia ser apagado, mas ali, naquela comunidade, ele começou a vislumbrar um futuro onde poderia deixar suas marcas e, quem sabe, encontrar um propósito maior.

Eu sou um Renegado - Arthur M.C. SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora