Capítulo 09

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Capítulo 9: Lembranças que doem
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Akin e Kenji já haviam caminhado por horas sem paradas, o crepúsculo tingia o horizonte com tons de laranja e púrpura, e a escuridão logo começou a envolver a dupla. Sabendo que precisariam de descanso antes de continuar, decidiram que era hora de acampar.
Akin avistou uma clareira um pouco adiante, cercada por árvores altas e densas, e sinalizou para Kenji, que assentiu em concordância. Ao chegar ao local, ambos desmontaram de seus cavalos, soltando os animais para pastar e relaxar enquanto preparavam o acampamento.

— Aqui está bom — disse Kenji, quebrando o silêncio enquanto começava a recolher galhos secos para acender uma fogueira.

Akin apenas assentiu, seu olhar distante enquanto amarrava as rédeas de Black a um tronco próximo. O cavalo soltou um resfolego cansado, sacudindo a cabeça, e Akin passou a mão gentilmente sobre sua crina em um gesto de conforto.
Logo, uma pequena fogueira crepitava no centro da clareira, suas chamas lançando sombras dançantes nas árvores ao redor. O calor era bem-vindo contra o frio crescente da noite, e ambos se acomodaram próximos ao fogo, seus corpos cansados apreciando o descanso temporário.
Kenji abriu a mochila e retirou alguns suprimentos — pão, carne seca e um cantil de água. Ele ofereceu parte da comida a Akin, que aceitou sem objeções, comendo em silêncio. O ambiente era sereno, mas carregado de uma tensão palpável, como se ambos soubessem que estavam na calmaria antes da tempestade.

— Você sabe quem são eles, Kenji?- A pergunta de Akin quebrou o silêncio, seu tom era direto, sem rodeios.

Kenji levantou o olhar, surpreso pela pergunta repentina, mas logo seus olhos se estreitaram, revelando que ele havia pensado sobre isso antes. Ele suspirou, colocando o cantil de volta na mochila, e se acomodou melhor ao lado da fogueira.

— Sei o suficiente para saber que não são inimigos comuns — respondeu Kenji, a voz carregada de gravidade. — Eles são mais do que simples mercenários ou soldados. Esses homens... eles foram treinados para uma missão específica, e essa missão é nos destruir, custe o que custar.

Akin assentiu, processando as palavras de Kenji. Ele já havia sentido isso nas batalhas anteriores, a precisão e a determinação fria de seus inimigos, como se cada movimento fosse cuidadosamente planejado para causar o máximo de dano.

— Mas não é só isso, é? — Akin pressionou, querendo mais informações, algo que pudesse ajudá-los a sobreviver ao que estava por vir. Kenji hesitou por um momento, como se pesasse suas palavras.- Kenji, tem algo que você não quer me contar, o que é? Por acaso sabia do ataque?

— Não... não exatamente...— Kenji começou, mas havia uma hesitação em sua voz que Akin não pôde ignorar.

— Kenji! — Akin rosnou, aproximando-se dele, a urgência em sua voz evidente. — Não me esconda nada. Se há algo que preciso saber, diga agora!

Kenji suspirou profundamente, a culpa pesando em seus ombros enquanto seus olhos encontravam os de Akin.

— Eu não sabia do ataque específico, Akin, eu juro. Mas... eu sabia que algo grande estava por vir. Recebi informações, rumores sobre um grupo que estava se movendo nas sombras, um tipo de profecia de que eles estavam planejando algo grande. Eu tentei avisar você, mas...

— Mas o quê? — Akin interrompeu, sua paciência se esgotando.

— Mas eu não tinha certeza do que era. Não sabia que eles iriam atacar tão cedo, e muito menos com tanta força. — Kenji confessou, sua voz carregada de frustração e arrependimento. — Eu devia ter insistido, devia ter sido mais claro... mas eu não queria te preocupar até ter certeza.

Akin ficou em silêncio por um momento, processando as palavras de Kenji. Ele sabia que o amigo estava tentando protegê-lo, mas a omissão de informações cruciais poderia ter custado tudo. Além disso, Kenji não mentiria para ele mesmo se quisesse.

— Da próxima vez, Kenji, você me conta tudo, seja o que for. Não podemos nos dar ao luxo de cometer erros — Akin disse finalmente, sua voz fria e controlada. — Se soubéssemos com antecedência, poderíamos ter nos preparado melhor.
Kenji assentiu, visivelmente aliviado por Akin não ter perdido completamente a confiança nele.

— Eu entendo, Akin. Não haverá mais segredos entre nós. Eu prometo.
Akin, acreditando na palavra dele se sentou novamente jogando um graveto na fogueira para aumentar o fogo, Akin ainda questionava para si mesmo onde o amigo esteve durante esses cinco anos.

— Kenji, me permite fazer uma pergunta?- Pergunta Akin fazendo Kenji confirmando acenando com a cabeça.- Onde esteve durante esses últimos cinco anos?
Kenji demorou um pouco para responder pensando em uma boa resposta.

— Bom, digamos que os anos também não foram agradáveis para mim... - Confessou ele soltando um suspiro derrotado.- Depois daquela noite, eu vaguei sem rumo buscando um sentido pra minha vida, assim como você eu quis me esconder, tentei viver uma vida normal.

Akin conseguia ver a dor de cinco anos que Kenji também sentia, afinal, Sotto era mais que um mentor, ele deu sentido à vida de todos os companheiros de Akin.

— Você voltou para Pajaan?- Akin pergunta curioso, seria óbvio que Kenji tivesse voltado para sua terra natal, onde Yumi, a irmã adotiva de Akin também era de lá

— Eu tentei, mas... — Kenji hesitou, sua voz ficando mais suave, quase como se ele estivesse se confessando. — Não consegui. Voltar para Pajaan era como reviver o inferno que passamos. Cada esquina, cada rosto familiar me lembrava do que perdemos. E Yumi... eu não pude encará-la. Não depois de tudo o que aconteceu.
Akin franziu a testa, sentindo uma pontada no peito ao ouvir o nome de Yumi.

Ela era importante para ambos, e saber que Kenji tinha evitado encontrá-la por tanto tempo o incomodava. Mas ele entendeu, reconhecendo a mesma dor em Kenji que ele próprio carregava

— Mas, o passado é passado... o que importa é seguir em frente agora.- Kenji respirou fundo tentando espantar as lembranças dolorosas do passado.- Iremos até o mal que nos assombra e iremos lutar até o fim, sono sempre fizemos. Não é?

— Até o fim — Akin repetiu, mais para si mesmo do que para Kenji. Ele sabia que a jornada à frente seria difícil, e que precisariam estar em perfeita sintonia para sobreviver ao que estava por vir.

O silêncio voltou a reinar entre os dois, mas agora era um silêncio diferente, cheio de resoluções silenciosas e de um entendimento renovado. Eles tinham um objetivo claro, e fariam o que fosse necessário para alcançá-lo

Eu sou um Renegado - Arthur M.C. SilvaOnde histórias criam vida. Descubra agora