Jogo de amor e negociação

Capítulo 06

Mesmo tendo enfrentado situações como aquela quase toda a vida, Melada nunca se acostumou a elas. No entanto, aquele dia, ela agradecia a Mintara por não se esquecer de providenciar o colete à prova de balas. Embora esse colete não fosse exatamente o que ela precisava para se proteger contra uma arma tão potente, era um alívio.

Entre Melada e o criminoso havia apenas uma grande porta de vidro, que os separava por cerca de vinte metros. Os reféns, que estavam agrupados atrás dele a uma distância de dez metros da parede, tremiam visivelmente. Melada não se aproximava do criminoso do local onde estava, para não fazer com que ele sentisse que estava sendo ameaçado.

Ao fundo, ela ouvia Mintara e os policiais responsáveis pela área tentando manter a imprensa afastada, e ainda podia ver flashes de câmeras, mesmo com as costas voltadas.

O olhar de Melada estava fixo no cano da arma M16 à sua frente e seus pés estavam tremendo devido à tensão. Nesta distância de tiro, o colete à prova de balas não ajudaria muito. Uma de suas mãos lentamente se estendeu para abrir a porta de vidro e ela entrou. Seus olhos, através dos óculos, continuavam focados no cano da arma.

— Eu trabalho para a polícia— ela disse com uma voz calma, apesar do que sentia por dentro. Levantou ambas as mãos para mostrar que não carregava nenhuma arma que pudesse ameaçá-lo. A doutora notou que o olhar do jovem estava constantemente fixo nela a cada passo que dava. Então ela se agachou lentamente antes de colocar o megafone no chão. — Só quero conversar

Kit não respondeu nada. Ele simplesmente ficou parado, olhando para ela com um olhar perdido.

— Eu falei com seu chefe há pouco — a oficial começou seu trabalho tentando conversar para desviar a atenção dele do grupo de reféns e usando uma forma de tratamento que sugeria familiaridade para fazê-lo se sentir mais à vontade. — Ele disse que você faz um bom trabalho — Melada viu Kit se mexer um pouco, como se estivesse se sentindo orgulhoso de si mesmo. No entanto, o cano da arma ainda estava fixo em sua direção, então decidiu continuar falando sobre o trabalho, que ela acreditava ser a motivação por trás do incidente.

— Aquele desgraçado disse que ia me demitir — a voz dele ecoou pelo prédio. — Se continuar assim, eu vou ser mandado embora de qualquer forma

— Quando eu falei com o senhor Mek, ele não disse isso — Ele inclinou a cabeça com um leve olhar de dúvida. — Ele disse que você é o melhor aqui. Como é que ele poderia te demitir?

O cano da arma na mão de Kit começou a baixar ao ouvir que a empresa considerava seu trabalho bom. Melada ainda não se mexia, ela notou que ele começou a olhar ao redor com uma expressão de inquietação.

— Você tomou seus medicamentos hoje? — Kit apenas balançou a cabeça ao ouvir a pergunta.

— Tomei, mas me deixou tonto... tonto e com um zumbido nos ouvidos — ele respondeu, inclinando a cabeça para o lado direito, aparentemente o lado com os zumbidos. O cano da arma, embora estivesse começando a se abaixar, ainda balançava de maneira ameaçadora à frente. Seus dedos ainda estavam firmemente no gatilho, e uma única ação poderia ser fatal para Melada. No entanto, pelo menos ele estava demonstrando uma disposição para conversar e responder perguntas, embora a falta de medicamentos parecesse afetar sua sanidade e tornar sua fala incoerente.

— Você gostaria de um novo medicamento? Eu posso falar com o médico para conseguir um que não cause tontura— Melada fez a oferta rapidamente. — Ou talvez água, se você estiver com sede. Você parece quente; estou vendo suor em você. Com esse calor, o ar-condicionado parece não ajudar muito

Melada usou a repetição, uma técnica de negociação, para reforçar sua proposta. Quanto mais se repete um ponto, mais ele parece verdadeiro para quem ouve. Embora pudesse ser verdade ou não, ele lançou um olhar vago para Melada novamente.