Capítulo 18

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O som de um confronto ecoava por toda a área. Entrar no prédio daquela forma era extremamente arriscado e estava além do escopo das responsabilidades dos negociadores. Eles estavam ali para minimizar os conflitos. Suas armas, além das palavras conciliadoras, eram os rádios de comunicação e os dispositivos de amplificação de som. Essa era uma das razões pelas quais Melada raramente carregava uma arma. Ela quase nunca a utilizava, mesmo em campo, onde os suspeitos estavam fortemente armados. Na maioria das vezes, o que segurava em suas mãos era um megafone, e ao lado do seu corpo, preso ao cinto, um rádio de comunicação ocupava mais espaço do que o coldre da arma. Mesmo com as insistências de Mintara, nunca cedia. Agora, ela rezava para não ter que usar a arma, embora a segurasse com força, com as mãos úmidas de suor.

- Fujam!

Ela ouviu alguém gritar de dentro do prédio, e então tudo o que pôde fazer foi ficar parada e escutar enquanto o som se repetia em intervalos, não gostava de violência. Na verdade, ela odiava mais do que qualquer outra coisa. Talvez fosse esse o motivo que a levou a se tornar uma negociadora, onde a vida dos reféns estava literalmente em suas mãos. Cada vez que saía a campo, a tarefa nunca era fácil. O som de tiros era a última coisa que ela queria ouvir.

Os tiros que se sucediam um após o outro faziam seu coração disparar quase todas as vezes, enquanto rezava para que todos voltassem em segurança, especialmente Mintara, aquela corajosa e ousada oficial que, ultimamente, parecia ter se tornado um pouco mais cautelosa e menos propensa a desobedecer a ordens como costumava fazer.

Melada levantou a mão para olhar o relógio de pulso. O trabalho sob pressão a habituou a vigiar o tempo, contando cada segundo que passava. Como a teoria sugere, o tempo sempre está ao nosso lado, mesmo que seja por uma fração de segundo. Isso ainda é tempo que temos, e a única coisa que todos têm igualmente é o tempo. Esse trabalho fez Melada perceber que mesmo um único minuto, pode salvar vidas.

Por isso, cada segundo tinha um valor imensurável para ela. Quatro minutos e vinte e três segundos se passaram desde que Prae correu para dentro. O som dos tiros ainda ressoava por toda a área, com disparos trocados entre os rifles automáticos dos criminosos e as pistolas semiautomáticas dos policiais. Para Melada, esse era um momento de extrema tensão, especialmente com o destino de sua amada em jogo.

No meio daquele tiroteio, Melada sabia que a única coisa que podia fazer era manter a confiança e acreditar, assim como havia dito a Prae antes de voltarem ao trabalho. Se Prae confiava nela, então, naturalmente, Melada também precisava confiar em Prae. Ela precisava confiar em Prae tanto quanto Prae confiava nela.

O amor e a confiança podem parecer coisas diferentes às vezes, mas para Melada, a confiança sempre vinha primeiro, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Especialmente em um trabalho tão perigoso como aquele, onde, se os membros da equipe não confiassem nas habilidades uns dos outros, isso poderia custar a vida de alguém.

Pode-se dizer que, embora Mintara tenha partido, a deixando com o coração partido, sem se despedir, Melada ainda confiava em Prae do mesmo jeito, ao menos no trabalho. Prae sempre foi confiável. Ela escolheu partir em vez de mentir sobre algo. Melada sabia que havia algo por trás daquela partida, algo que ela mesma não conseguia entender, mas estava certa de que não estava errada. Isso ficava evidente na maneira como Prae havia lidado com a situação, escolhendo se afastar de Melada de uma forma que parecia sem razão.

Finalmente, o som dos tiros cessou, mas mesmo assim, ela continuou esperando no mesmo lugar, não era tão habilidosa em combate quanto Prae, que havia se formado em cursos de operações especiais e táticas de combate na polícia. Por isso, tudo o que Melada podia fazer era deixar Prae agir.

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