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Minha vida era corrida, sempre indo de um lado para o outro em meu trabalho no Hermman-Kaufmann, um hospital particular referência em cirurgias cardíacas, inclusive a de transplante de coração. Fazia pouco mais
de um ano, eu tinha substituído, na direção da parte clínica cardiológica, o doutor Anselmo Kaufmann, que se aposentara da parte médica, mas continuara no conselho do hospital fundado por sua família.
Escolhi o hospital não só por ser um dos melhores de Seul, mas porque meu pai conhecia a família e, na infância, convivi bastante com a única filha do casal, falecida havia mais de uma década. Eu admirava o
doutor Anselmo, ele foi um dos meus professores na pós-graduação e eu o
via como um mentor, por isso mesmo que substituí-lo se tornara uma enorme responsabilidade.
Além de coordenar a ala cardiológica, inclusive a UTI, eu também clinicava tanto no próprio HK como em meu consultório particular. Tinha poucos e seletos pacientes que não frequentavam hospitais e cujas consultas e acompanhamentos eu fazia em casa. Um deles, inclusive, era o multimilionário grego de 90 anos chamado Geórgios Karamanlis.
Eu conhecia seus netos, todos residentes na coreia, e quando ele mesmo decidiu dividir seu tempo entre sua enorme casa em uma ilha paradisíaca na Grécia e Seul, fiquei orgulhoso por ser o médico coreano a quem ele confiou sua saúde para seus check-ups e
acompanhamentos mensais.
Eu não imaginava, anos atrás, que teria minha vida quase que totalmente preenchida com trabalho, mas, surpreendentemente, estava feliz e satisfeito por isso. O pouco tempo livre que tinha geralmente era usado
para encontrar os amigos e, é claro, ter alguns momentos de prazer com belíssimas mulheres que conhecia mesmo com tempo escasso – às vezes até mais de uma por vez.
Ri ao pensar na noite louca que tivera semanas atrás na companhia de um chefe de cozinha, um guitarrista de uma banda de rock famosa e mais dois amigos. Tínhamos apenas nos encontrado para beber um pouco e conversar e acabamos no apartamento de um deles, totalmente loucos, cercados de mulheres e completamente inimigos do fim. Tanto que, depois daquela noite insana, dei uma desacelerada, porque, afinal, já ia completar 37 anos e não tinha mais saúde para as ressacas que me abatiam no dia
seguinte.
Eu sabia que trabalhava muito e me permitia extravasar um pouco quando podia, mas quase dois anos sem férias estavam cobrando um preço alto, por isso aproveitei que Geórgios Karamanlis ia ficar um tempo na
Grécia, onde seria acompanhado por seu médico de lá, e programei uns dias de descanso para sair um pouco da rotina exaustiva do hospital.
Arrumei toda a parte burocrática do meu trabalho, colocando a papelada administrativa em dia, e passei os pacientes que precisariam de atendimento no período em que eu estaria fora – sim, porque, se ficasse em Seul, não conseguiria descansar – para um outro médico de minha confiança.
Nem podia acreditar que tinha cumprido minha última noite no hospital antes das férias e que, saindo dali, iria finalmente ter tempo para um longo treino – e quem sabe uma partida de tênis – antes de dormir por
horas e horas sem a preocupação de uma emergência.