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O bipe-bipe do aparelho de monitoramento cardíaco não me deixava pensar em mais nada, a não ser no homem deitado naquela cama, ainda sob efeitos de medicamentos, dormindo, mas com a pele cinzenta e olheiras profundas. Dei uma última conferida em seus sinais vitais, ajustei o gotejamento do soro com os remédios e suspirei.
Anos de medicina e eu sempre achei que saberia separar as coisas quando precisasse tratar alguém importante para mim, contudo não esperava que esse dia chegasse nem que a pessoa fosse justamente o meu mentor, o homem que me fez amar a cardiologia e me treinou para ser seu sucessor. — Você vai sair dessa! — sussurrei para Anselmo Kauffman antes de sair da UTI.
Notei os olhares preocupados dos colegas de profissão, das enfermeiras e até do pessoal do serviço geral, que passava vez ou outra por ali para limpar. Todos naquele hospital amavam aquele homem, por isso mesmo nunca houve tanta comoção entre os profissionais como naquele momento.
Entrei na sala de espera e lá encontrei mais colegas e amigos, médicos que nem mesmo trabalhavam no Hermman-Kauffman, mas que reconheciam a importância do doutor Anselmo para a medicina, principalmente a cardiologia. O homem dedicou sua vida a salvar vidas, foi um dos pioneiros em transplante de coração, em renovar suas técnicas, em fazer aquele tipo de cirurgia com o menor risco para o paciente no pós cirúrgico.
— Como ele está, doutor Kim? — um colega mais jovem, ainda residente, inquiriu-me.
— Estável. — Era o que eu podia dizer, pois precisávamos esperar para ver como o quadro evoluiria. — Doutor Kauffman é forte, ele vai sair dessa.
O rapaz sorriu, mas, parecendo ainda preocupado, se juntou aos outros residentes que estavam de vigília ali desde que eu havia chegado, na noite anterior, ao hospital. Fui até o banheiro e me olhei no espelho, abatido, com olhos vermelhos por estar havia muitas horas acordado e sem lembrar qual foi minha última refeição.
Foi na fazenda da família Kim..., um sussurro do meu inconsciente me lembrou e eu joguei água no rosto para afastar o cansaço.
Peguei meu telefone e conferi a mensagem que havia enviado a minha prima Alice, pedindo a ela que me enviasse o número de contato de Jisoo.
Era ridículo nós não termos trocado números de telefone, depois de tantos dias juntos e de termos trocado até fluidos corporais nesse ínterim.
Eu queria me comunicar com ela, mas simplesmente não conseguia. Ia esperar amanhecer para ligar para a loja, cujo contato peguei pela internet, e verificar se ela já havia voltado ao trabalho.
Senti-me mal por tê-la deixado sozinha justamente no dia do casamento da irmã, mas não consegui falar com ela antes de voltar a Seul. Maldito momento em que ela quis começar aquela história de fingirmos desentendimento para o término do nosso falso namoro. Se Jisoo tivesse dormido comigo no chalé, certamente teria sido acordada com o som do meu telefone tocando e com a senhora Kauffman me contando aos prantos que seu marido havia infartado.