78- Um traídor.

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JORDAN

Apago o cigarro no cinzeiro e vejo o nascer do sol começando a surgir. A cidade que estava tumultuada em plena madrugada, começa a se acalmar e pessoas de ternos e uniformes surgem de longe.
–Como seria minha vida se eu tivesse um trabalho normal?– Um trabalho que não me obrigasse a matar pessoas ou resolver problemas o tempo todo. Eu sei perfeitamente que nunca conseguiria sair dessa vida que me colocaram. Já tive oportunidades que eu mesmo as deixei ir.
No fundo eu sei perfeitamente o risco que eu coloco na vida de todos. Mas eu não sou tão egoísta assim... Meus capangas estão comigo porque querem e Aya...

Me viro para vê-la dormindo no canto da cama como se me evitasse até mesmo adormecida.

Ela está comigo porque quer ou apenas por dó da minha dependência preocupante?
Eu sei que ela está doente... muito doente. Aya não consegue ver como está magra. É nítido ver seus ossos pela fina pele.
E a forma como ela não consegue ver isso e pior, ela vê o oposto disso, me preocupa e muito. Mas não agi da forma mais correta brigando com ela.

No fundo só estou assustado com tudo isso. Ela parecia tão bem e agora tão mal...

Não sei se vou conseguir fazê-la comer corretamente ou como deveria fazer isso.

Desde ontem estou com esse sentimento estranho de que há algo a mais nesse assalto mas me recuso a pensar que ela sofreu abuso. Mas ela não me diz onde estava e minha mente se torna um turbilhão de pensamentos ruins.
Ela se move de um lado para o outro e abre os olhos diretamente na minha direção.

— Bom dia. — Falo.

Eu nem mesmo preguei os olhos.

— Oi. — Diz simplesmente. — Que horas são? Meu pai ja saiu?

— Sim e são seis e vinte e um.

Ela não parece surpresa com o horário e se senta na cama. Seus olhos verdes parecem tão escuros hoje. Eu gostaria de poder lê-los de uma forma mais fácil e clara mas desde quando essa garota foi fácil?

Ayanna fica em completo silêncio, apenas observando o nada da parede. Caminho até ela com cautela.

— Jor...

— Por que está me rejeitando, hein? — Silêncio. — Aya, por favor.

Ela me encara finalmente.

— Tenho medo das consequências dos meus atos. Eu... — Ela para. — De tudo que aconteceu por minha causa...

— Ja aconteceu. Não precisa se culpar por isso.

— Você se culpa?

Engulo em seco.

— Acho que não. — Minha voz falha.

Como é estranho mentir para ela.

Você acha?

Assinto com a cabeça e me sento na beira da cama.

— O problema é que eu sei que eu poderia ter evitado tudo isso mas minha falta de paciência não me permitiu. E eu sei que é algo que eu preciso mudar. — Ela continua evitando meus olhos. — E eu vou mudar isso.

Meu Garoto JordanOnde histórias criam vida. Descubra agora