Capítulo I

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HELENA DUARTE


o dia seguinte, chego um pouco atrasada à lanchonete porque o ônibus em que eu estava furou um pneu. Tive que fazer o restante do caminho a pé, e é claro que meu chefe não gostou nada disso, ameaçando me demitir se acontecesse de novo. Quase perdendo o emprego, apresso-me em trocar de roupa e vestir o uniforme da lanchonete, preparando-me para atender a enxurrada de clientes que costuma chegar nesse horário.

Já era quase hora do almoço quando uma mulher muito bonita entrou pela porta. Ela era alta, com a pele morena e brilhante, cabelos castanhos claros que combinavam com os olhos da mesma cor. Era uma beleza marcante. Ela se sentou em uma mesa nos fundo, mas não conseguia relaxar, a todo momento, olhava ao redor como se estivesse  escondendo de alguém. 

Eu a observo discretamente enquanto sirvo os outros clientes, mas não consigo evitar o sentimento de curiosidade que cresce dentro de mim. Algo na postura dela, no modo como os olhos varrem o ambiente, me faz acreditar que há mais naquela situação do que aparenta. 

Termino de servir um senhor que pediu um café e um pão e queijo, e resolvo me aproximar da mulher. Com o bloco de notas na mão, tento parecer casual, embora meu coração esteja batendo um pouco mais rápido do que o normal. 

_Bom dia, já decidiu o que vai querer?

Ela levanta o olhar para mim, e é como se uma corrente elétrica atravessasse o ar. Seus olhos, embora claros, carregam uma intensidade que me faz quase recuar. Mas me mantenho firme esperando que ela responda.

_Sim, por favor, quero um café preto e uma fatia de bolo, se não for muito incômodo.

_Claro, já volto com o seu pedido. 

Enquanto preparo o café, noto que ela continua a olhar ao redor como se esperasse que alguém entrasse a qualquer momento. O que será que está acontecendo? Uma briga com o namorado? Ou algo mais sério?

Entrego o café e o bolo para ela, e quando estou prestes a me afastar, um homem alto, negro e bem trajado com um terno e óculos escuros, para ao lado dela.

Ele coloca uma nota de cem reais sobre a mesa e lança um olhar severo para a jovem à minha frente, que agora parece visivelmente assustada. Eu, também surpresa com o gesto abrupto, olho ao redor e percebo que alguns clientes observam a cena com atenção. 

_Senhorita Giovanna, levante-se. Estamos indo agora. Seu irmão não está nada satisfeito com a sua fuga. 

Diz o homem, cuja presença imponente faz a ameaça em sua voz ainda mais palpável.Seu tom grave provoca um arrepio em mim e parece ter o mesmo efeito sobre a jovem, que agora sei se chamar Giovanna. 

_Eu não fugi, só queria respirar um pouco de ar fresco e comer algo diferente. Minha comida acabou de chegar. Não podemos, ao menos, esperar até que eu termine?

_A menos que deseje ver seu irmão mais furioso do que já está, sugiro que se levante imediatamente e entre no carro que nos espera lá fora. 

O homem responde, e vejo Giovanna engolir em seco ao ouvir a menção de seu irmão.

_Poço embalar a comida para viagem, se preferirem. 

Ofereço, atraindo a atenção dos dois e sentindo o constrangimento tomar conta de mim. 

Giovanna hesita por um momento, olhando para o prato que acabou de chegar e depois para o homem. Seus ombros caem levemente, como se a força para resistir tivesse sido sugada dela. Ela dá um leve aceno de cabeça, resignada. 

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