Capítulo IV

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HELENA DUARTE

Dentro do quarto, a opulência esmagadora é uma afronta à minha própria inquietação. Cada detalhe, dos móveis ornados às cortinas de seda que pendem pesadas, exala uma frieza calculada, uma sofisticação desprovida de alma. É como se o próprio espaço conspirasse para me lembrar de onde estou e do que me espera.

O silêncio se rompe com uma batida suave na porta. Uma empregada entra, sua presença tão discreta quanto o uniforme impecável que veste. Seus olhos passam por mim com uma neutralidade quase desumanizadora, como se eu fosse apenas mais um item a ser marcado em sua lista interminável de tarefas.

_Vim ajudá-la a se instalar, senhora — diz ela, sua voz controlada, desprovida de qualquer traço de empatia.

Eu a observo por um momento, buscando algum sinal de humanidade, algo que denuncie que ela entende a gravidade da situação em que me encontro. Mas seu olhar permanece vazio, como se estivesse imune à tensão que paira no ar.

_A única coisa que poderia fazer por mim seria me ajudar a fugir daqui. — respondo, minha voz mais firme do que eu esperava. A verdade é que me sinto sufocada por essa prisão dourada, onde cada gesto parece cuidadosamente coreografado para me lembrar de minha impotência.

Ela se aproxima de uma das grandes janelas, ajustando as cortinas como se isso pudesse de alguma forma tornar o ambiente mais acolhedor. Mas é inútil. Este lugar, por mais luxuoso que seja, não é um refúgio. É uma jaula dourada, onde cada detalhe me lembra de que estou sob vigilância, de que minha liberdade é uma ilusão.

_O senhor Matteo deseja que tudo esteja ao seu agrado — acrescenta ela, sua voz desprovida de emoção, como se minhas palavras anteriores tivessem sido apagadas da realidade, ignoradas como uma rebeldia infantil.

A menção ao nome de Matteo faz minha pele arrepiar. A tensão se intensifica, e por um breve momento, sinto uma raiva surda subir à superfície. Mas a engulo, sabendo que, por agora, é uma batalha que não posso vencer.

Meus olhos encontram os dela, buscando algum vestígio de compreensão, mas tudo o que vejo é uma neutralidade implacável, uma máscara de indiferença que apenas reforça minha sensação de isolamento. E, assim como o ambiente ao nosso redor, ela se torna mais um elemento dessa prisão que tenta me subjugar, me dobrar ao controle absoluto de Matteo.

_Irei preparar um banho para a senhora, para que se sinta mais à vontade — diz ela, sua voz neutra como sempre.

Ela se retira por uma porta lateral, que presumo ser a entrada para o banheiro. Fico sozinha novamente, com os pensamentos tumultuados e a sensação de claustrofobia crescente. Tento me distrair observando os detalhes do quarto, mas tudo parece um emaranhado de luxo e frieza.

Aguardar o banho parece uma forma de escapar, mesmo que temporariamente, da opressiva atmosfera do ambiente. Dou uma olhada em volta, examinando os móveis esculpidos com precisão e as tapeçarias que adornam as paredes, como se pudessem oferecer alguma pista sobre o homem que controla esta prisão dourada.

Enquanto minha mente gira em torno de Matteo e de como posso reverter essa situação, ouço o som suave da água correndo através da porta. A empregada parece ter feito um esforço adicional para garantir que tudo esteja perfeito. Respiro fundo e me dirijo ao banheiro.

Ao abrir a porta, encontro um espaço tão luxuoso quanto o restante do quarto, mas com uma sensação de acolhimento que contrasta com a frieza do ambiente principal. A água está no ponto ideal, e o vapor que se eleva oferece um vislumbre de conforto em meio ao caos.

_Senhora, acorde.

O silêncio é interrompido por uma voz suave e insistente, que parece emergir do fundo do meu subconsciente.

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