29. Todos temos nossos limites

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Harry Styles


ALGUNS LUGARES TÊM UMA LUZ ESPECÍFICA. PENSEI NISSO ASSIM que estacionei em frente à porta da casa onde cresci. O sol de inverno não conseguia abrir passagem através do céu. Fazia frio. Um frio que eu conhecia bem e que me era familiar, pois me gelava os ossos. Caminhei devagar pela calçada que rodeava a casa. Tinha um nó na garganta.

Nada tinha mudado, embora tudo tivesse mudado. Pelo menos quando a gente olhava mais além e enxergava os pequenos detalhes; como a roseira em frente à janela que não estava mais lá, o jardim menos cuidado, a tinta desbotada nas colunas da entrada, as folhas que balançavam com o vento nos degraus da escada que ninguém tinha se preocupado em recolher naquela manhã desta quarta-feira qualquer em que voltei para casa.

Tentei não pensar em nada quando toquei a campainha e também quando meus passos me levaram quase automaticamente para os degraus da entrada. Minha mãe abriu a porta. E então fui inundado por seu cheiro doce, a sensação de seus braços me apertando com força, como se ela temesse que eu fosse embora se ela me soltasse. Sua voz, sussurrando no meu ouvido que ela estava tão, tão, tão feliz em me ver...

— Harry... — Ela falou antes de se afastar para me olhar. — Você está ótimo. Menos magro do que da última vez. Ótimo, ótimo — repetiu, como se as palavras estivessem entaladas, e depois me levou até a cozinha.

Eu tinha chegado lá sem saber o que esperar, de surpresa, movido apenas por um impulso. Um impulso chamado Ginger.

— Você parece bem — consegui dizer. — Está bonita. — Minha mãe esboçou um sorriso trêmulo. Enquanto ela abria a geladeira com as mãos trêmulas, notei algumas rugas em seu rosto, os olhos mais apagados, cansados, embora ela continuasse parecendo cheia de força, de energia; não daquele tipo que já nasce com a pessoa, mas que se adquire por necessidade.

— Quer frango assado? Creme de legumes...?

— Mãe, acho que a gente devia...

— Prefere algo doce? — Respirei fundo e fechei a geladeira. Nós nos olhamos.

— Não estou com fome. E a gente precisa conversar.

— Não sei se consigo.... — Notei como ela tremia. E ali, com quase dois palmos de altura a mais que ela, com seus olhos nebulosos fixos nos meus, comecei a pensar que também não conseguia. — Eu sinto muito, Harry. Eu não deveria ter mandado você embora. Ainda mais sabendo como seu pai era.

— É não devia. — Seus olhos estavam brilhando, cheios de todas as lágrimas que ela parecia estar contendo há anos. Respirou fundo e colocou uma mão trêmula nos lábios.

—  Me perdoa. — Engoli em seco — Mas é que... naquele momento... eu estava tão perdida...Às vezes eu te olhava e pensava que você era como uma granada prestes a explodir. Temia que qualquer movimento fosse catastrófico. E eu não sabia como te ajudar. — Ela estendeu o braço e acariciou minha bochecha. Estava começando a me sentir sufocado. Eu queria sair dali.

— E claro, conviver com meu pai foi um ótimo jeito...olha, esquece isso. Não foi por isso que eu vim.

Tentei deixar aquilo de lado, a dor, a sensação desconfortável que eu sentia no peito quando me lembrava do passado. Toda aquela dor instalada em algum canto para onde eu evitei olhar desde então, porque eu sentia que ela me tornava fraco, pequeno. Que eu não era ninguém. Que nenhum pedaço do mundo me pertencia. Olhei para a minha mãe. A poucos centímetros um do outro, pela primeira vez em longos anos. Uma eternidade. Ou apenas um piscar de olhos. Depende de qual perspectiva você olha.

Eu tinha imaginado aquele momento mil vezes na minha cabeça. E era sempre parecido; nos encontrávamos, falávamos, eu jogava na cara dela o que ele tinha feito comigo, o mal que ela me fez ao me deixar morar com aquele monstro... Tinha me comportado como um imbecil, um menino mimado e mal criado. Mas eles... eles tinham me destroçado. Eles tinham me deixado à deriva.

MY GINGER | Harry StylesOnde histórias criam vida. Descubra agora