Capítulo 27 - Ainda existe luz

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Scarlett se moveu com a delicadeza de quem entende o peso de um coração quebrado. Lentamente, ela estendeu a mão, hesitante, como se estivesse pedindo permissão para confortá-lo. Taehyung olhou para ela, os olhos ainda inchados pelas lágrimas, mas não se afastou. Em vez disso, ele fechou os olhos, como se estivesse tentando reunir coragem para aceitar o que sempre havia evitado: ser vulnerável diante de alguém.

Sem dizer uma palavra, Scarlett o envolveu em um abraço suave, seus braços firmes, mas ao mesmo tempo protetores. Taehyung se encolheu levemente, o corpo ainda trêmulo, mas aos poucos ele relaxou contra ela. Havia algo no abraço de Scarlett, na maneira como ela o segurava, que o fazia sentir-se seguro de uma forma que ele não havia sentido em muito tempo. Seus dedos se apertaram levemente contra a jaqueta dela, como se estivesse se agarrando àquela segurança, àquela promessa silenciosa de que, pelo menos por um momento, ele não precisava ser forte.

— Está tudo bem — Scarlett sussurrou em seu ouvido, sua voz suave como o vento noturno, acariciando os sentidos dele. — Você não precisa dizer nada. Eu estou aqui.

O salão ao redor deles parecia desaparecer. As luzes, as risadas distantes, a música abafada — tudo se dissolveu no silêncio entre eles. Para Taehyung, a festa não importava mais, e Scarlett sabia que para ele, aquele momento era muito maior do que qualquer outra coisa que estivesse acontecendo ao redor.

Após um tempo, Scarlett sentiu que a respiração dele começava a desacelerar, o corpo antes rígido, agora mais leve em seus braços. Ainda assim, ela sabia que aquilo era apenas o começo de uma longa jornada para ele. Mas ela estava disposta a caminhar ao lado dele, passo a passo.

Finalmente, Scarlett quebrou o silêncio. — Taehyung — ela começou suavemente, suas palavras escolhidas com cuidado. — Essa festa... não parece mais o lugar certo para nós agora. Que tal irmos para o hotel? Podemos sair daqui, longe de tudo isso, só nós dois.

Ele hesitou por um segundo, os olhos buscando os dela em busca de confirmação. Scarlett lhe deu um pequeno sorriso, um sorriso genuíno, sem pressa. — Eu não quero te deixar sozinho, e acho que você também não quer isso agora. Vamos?

Taehyung assentiu lentamente, ainda incerto, mas sentindo o conforto no convite. Ele se levantou com a ajuda dela, e juntos, sem chamar atenção, deixaram o salão.

O caminho para o hotel foi silencioso, mas o silêncio entre eles era diferente agora. Não era um vazio desconfortável, mas um espaço compartilhado onde palavras não eram necessárias. Scarlett dirigia com calma, e Taehyung, sentado ao lado dela, observava as luzes da cidade passarem pela janela. Cada quilômetro que se afastavam da festa parecia aliviar um pouco mais o peso que ele carregava no peito.

Quando chegaram ao hotel, Scarlett entregou as chaves para o manobrista e guiou Taehyung até o elevador, suas mãos tocando o braço dele brevemente, apenas o suficiente para garantir que ele sentisse que ela estava ali.

O quarto que ela havia reservado era grande, com uma vista panorâmica da cidade iluminada. As luzes suaves do ambiente criavam uma atmosfera acolhedora, quase íntima. Scarlett caminhou até a janela, observando o horizonte enquanto sentia Taehyung parado à porta, ainda um pouco hesitante.

— É bonito aqui — ela disse, virando-se para ele. — Eu sempre achei que as luzes da cidade à noite têm algo de mágico. Como se, mesmo no meio da escuridão, ainda houvesse algo brilhando, algo que nos lembra que sempre há um caminho de volta para a luz.

Taehyung a observou, e por um momento, ele não viu apenas a alfa que o intimidava e desafiava. Ele viu alguém que entendia o que significava carregar sombras dentro de si e ainda assim procurar a luz.

— Você é boa em falar coisas bonitas desse jeito — ele disse baixinho, um leve sorriso tocando seus lábios pela primeira vez naquela noite.

Scarlett riu suavemente. — Não é só falar. É o que eu acredito. E eu acredito que, mesmo que agora pareça difícil, você vai encontrar seu caminho de volta, Taehyung. Não precisa ser hoje, nem amanhã, mas vai acontecer.

Ela se aproximou lentamente, sentando-se no sofá de frente para ele. "Senta aqui comigo," ela sugeriu, apontando para o espaço ao seu lado.

Taehyung hesitou por um instante, mas depois caminhou até ela, sentando-se ao lado de Scarlett. O silêncio caiu sobre eles novamente, mas dessa vez, ele não parecia pesado. Era um silêncio confortável, como se ambos estivessem compartilhando algo mais profundo do que palavras poderiam expressar.

Scarlett olhou para ele de soslaio, e em um impulso suave, estendeu a mão para segurar a dele. — Você não precisa estar sempre no controle, Taehyung — ela sussurrou. — Eu sei que você se sente mais seguro assim, mas há momentos em que é bom deixar alguém cuidar de você também.

Ele olhou para ela, os olhos brilhando com uma mistura de emoções. — Eu... nunca soube como deixar isso acontecer —  ele admitiu, a voz ainda trêmula, mas mais calma.

Scarlett apertou sua mão levemente. — Não precisa saber. Só precisa permitir. Eu estou aqui, e vou estar enquanto você precisar. Não há pressa.

Taehyung suspirou profundamente, como se estivesse soltando o último resquício de tensão que ainda restava em seu corpo. Ele se recostou no sofá, ainda segurando a mão de Scarlett, e pela primeira vez naquela noite, ele se permitiu relaxar completamente.

O tempo passou de forma tranquila. Os minutos se transformaram em horas, mas nenhum deles parecia preocupado com isso. Estavam apenas ali, juntos, compartilhando aquele espaço seguro e silencioso. As luzes suaves do quarto e o brilho distante da cidade criavam um cenário que parecia tirado de um sonho, onde o mundo exterior não podia alcançá-los.

Em algum momento, Taehyung se deitou no sofá, descansando a cabeça no colo de Scarlett. Ela passou os dedos gentilmente pelos cabelos dele, num gesto de carinho que parecia tão natural quanto respirar.

— Obrigado — ele murmurou, a voz baixa e sonolenta. — Por não ter desistido de mim.

Scarlett olhou para ele, seu coração apertado com uma ternura que ela raramente sentia. — Eu nunca desistiria de você, Taehyung — ela respondeu suavemente. — Nunca.

E naquele momento, enquanto o silêncio preenchia o quarto e o mundo parecia muito distante, Scarlett sabia que aquele era um dos momentos mais preciosos que já haviam compartilhado. Não era o calor da paixão ou o fogo do desejo que os conectava agora. Era algo muito mais profundo, algo que transcendia a dor e o medo. Era amor, em sua forma mais pura e sincera, envolto em ternura e paciência.

Enquanto Taehyung adormecia em seu colo, Scarlett continuou acariciando seus cabelos, sentindo uma paz que raramente experimentava. Ela olhou para a janela, para as luzes brilhantes da cidade, e sussurrou para si mesma: —Há sempre um caminho de volta para a luz.

E naquela noite, Scarlett e Taehyung encontraram um pedaço dessa luz, juntos.

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