Capítulo 26 - Frágil como porcelana

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Enquanto o beijo entre Scarlett e Taehyung se intensificava, algo começou a mudar. O toque de Scarlett, que antes era firme e decidido, começou a despertar em Taehyung sensações que ele não esperava. Por um momento, ele se deixou levar, seus dedos segurando o rosto dela com mais força, como se estivesse tentando se agarrar àquela sensação de entrega.

Mas então, o calor familiar em seu peito começou a se transformar em uma pressão sufocante. O som da festa ao fundo desapareceu, e a única coisa que ele conseguia ouvir era o bater acelerado de seu próprio coração. Sua mente começou a se encher de memórias antigas, lembranças que ele havia enterrado profundamente, na esperança de nunca mais revivê-las. O toque de Scarlett, que antes o fazia sentir-se seguro, de repente o lembrou de outras mãos, mãos cruéis, que o haviam machucado de uma maneira que ele nunca havia contado a ninguém.

Taehyung afastou-se bruscamente, o corpo tremendo, os olhos arregalados, como se estivesse tentando escapar de algo invisível. Scarlett congelou, seus olhos fixos nele, confusa e preocupada. — Taehyung? — ela chamou, sua voz suave, mas cheia de incerteza. — O que foi? Eu fiz algo errado?

Ele balançou a cabeça, incapaz de falar, as lágrimas já começando a formar-se em seus olhos. Seu corpo tremia incontrolavelmente, e Scarlett podia ver que algo dentro dele havia quebrado. — Eu... eu não posso... Eu pensei que conseguia, mas... eu não consigo — ele murmurou, a voz entrecortada, o rosto agora molhado pelas lágrimas que ele não conseguia mais conter.

Scarlett deu um passo à frente, instintivamente, querendo confortá-lo, mas Taehyung levantou a mão, pedindo distância. — Não... por favor... não me toque —  ele implorou, a voz baixa, cheia de dor. Scarlett parou imediatamente, o coração apertado, vendo o quanto ele estava sofrendo.

— Taehyung — ela sussurrou, sua voz suave, mas carregada de preocupação. — O que está acontecendo? — A alfa perguntou, mesmo que seu velho coração já suspeitasse do que se tratava.

Ele desabou no chão, os joelhos batendo no mármore frio enquanto soluçava, seu rosto nas mãos. — Eu... eu não consigo — ele chorou, as palavras saindo entrecortadas. — Eu pensei que pudesse... mas não é o mesmo... não é como quando eu estava no controle... Não é o mesmo que apenas se exibir na sua frente... Não é o mesmo que só brincar...

Scarlett ajoelhou-se ao lado dele, sem tocá-lo, mas mantendo-se perto o suficiente para que ele soubesse que ela estava ali. Seu peito doía ao vê-lo tão quebrado, tão vulnerável.
— Taehyung... você pode falar comigo,— ela disse calmamente, tentando manter a voz firme apesar do nó em sua garganta.

Ele levantou o rosto, os olhos inchados e vermelhos. — Não é como quando eu provocava você ou os outros alfas... eu... eu estava no controle então — ele sussurrou, as palavras carregadas de vergonha. — Mas... quando você me toca... quando qualquer alfa me toca... não é o mesmo. É como se eu estivesse de volta lá... preso... impotente.

Scarlett sentiu seu coração afundar. Ela havia percebido, desde o início, que havia algo mais profundo em Taehyung, uma dor que ele nunca deixava transparecer totalmente. Mas agora, vendo-o tão destruído, ela compreendia que ele carregava algo muito maior. — Você... você não precisa fazer nada que não queira — ela disse suavemente, sua voz carregada de sinceridade.

Taehyung balançou a cabeça, as lágrimas ainda caindo — Eu... eu não contei isso a ninguém, Scarlett, é vergonhoso, apenas Jimin sabe por que acabou descobrindo sozinho — ele confessou, sua voz quase inaudível. — Quando eu era mais novo... um alfa... Vários deles... me machucaram. Me fizeram sentir tão... tão sujo... tão pequeno. E desde então, eu tentei... tentei nunca deixar ninguém chegar perto o suficiente para me machucar assim de novo.

Scarlett sentiu o peito apertar de dor e raiva ao ouvir isso. Queria abraçá-lo, protegê-lo de toda aquela dor, mas sabia que ele precisava de espaço. — Taehyung — ela começou, escolhendo cuidadosamente suas palavras. — Você não precisa ser forte o tempo todo. Não comigo. Eu estou aqui. E nada do que aconteceu te define.

Ele olhou para ela, seus olhos ainda marejados, mas com uma chama de esperança. — Eu... eu não sei se consigo —  ele admitiu, a voz trêmula. — Eu quero... mas cada vez que sinto um toque de um alfa, tudo volta. Eu me lembro de tudo, e é como se eu estivesse preso de novo, sem poder escapar.

Scarlett se aproximou um pouco mais, mas ainda sem tocá-lo. — Você não precisa se forçar a nada — ela disse, sua voz baixa e cheia de ternura. — O que quer que aconteça entre nós, vai ser no seu tempo. Não quero que você se machuque mais.

Taehyung soluçou novamente, mas dessa vez, havia algo de alívio em suas lágrimas. — Eu queria tanto ser forte... como você — ele disse, sua voz mais calma agora, mas ainda carregada de dor — Mas eu não sou. Eu sou tão fraco...

Scarlett balançou a cabeça, o olhar firme. — Você não é fraco, Taehyung. Nunca pense isso. Você passou por algo horrível, e ainda assim está aqui, ainda está lutando. Isso é ser forte. E se você precisar de tempo, eu vou estar aqui, ao seu lado, para o que você precisar.

Por um momento, Taehyung apenas ficou ali, encarando Scarlett, tentando processar suas palavras. Então, com um suspiro profundo e trêmulo, ele assentiu lentamente, sentindo pela primeira vez em muito tempo que não precisava mais carregar aquele peso sozinho.

— Obrigado... obrigado por não desistir de mim... — ele sussurrou, as lágrimas ainda caindo, mas dessa vez, havia algo diferente em seu olhar. Algo que indicava que, talvez, ele finalmente estivesse pronto para começar a se curar.

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