Capítulo 15 | Caixinha de doces

4 2 0
                                    

CALLIOPE

Estava tudo em silêncio na floricultura. O tipo de silêncio que se infiltra na pele, fazendo o coração bater mais forte, como se o mundo estivesse preso em um fôlego. Laura havia acabado de fechar a última janela e se preparava para partir. Sua presença era uma âncora que eu não sabia que precisava, e agora que ela estava prestes a ir embora, a realidade parecia pronta para me engolir.

- Calliope, tem certeza de que não quer que eu fique mais um pouco?. Ela perguntou, hesitando na porta. Eu queria desesperadamente dizer sim, pedir para ela ficar, para não me deixar sozinha com meus pensamentos. Mas as palavras ficaram presas na garganta.

- Não, Laura, pode ir. Seu filho precisa de você.

Ela franziu o cenho, relutante, mas finalmente assentiu.

- Se precisar de alguma coisa, me liga. Sério, qualquer coisa.

Com um aceno rápido, Laura saiu, e a porta se fechou atrás dela com um som que parecia definitivo, como se estivesse trancando todos os meus medos junto comigo.

Fiquei ali, no meio das flores agora sombrias, por horas que pareciam dias. Tudo que antes era vibrante e cheio de vida agora parecia morto, como se a cor tivesse sido drenada dos próprios petais. Cada sombra na loja parecia um espectro à espreita, pronto para saltar sobre mim. Meu coração batia descompassado, e os pensamentos se entrelaçavam, formando um nó que eu não conseguia desfazer.
O que eu faria quando chegasse em casa?. Como enfrentaria o olhar de meu marido?. E minha mãe... .

Quando o relógio finalmente marcou sete horas, decidi que era hora de ir. Mas ao sair, o ar noturno parecia mais denso, carregado com algo que não consegui definir. As luzes da rua piscavam de maneira intermitente, lançando sombras pelas ruas. Meu coração acelerou enquanto caminhava em direção ao carro. Cada passo que eu dava era como caminhar sobre gelo fino, com a certeza de que a qualquer momento ele iria ceder. A sensação de estar sendo observada apertava meu peito, como mãos invisíveis ao redor da minha garganta. Meus olhos varriam a escuridão ao redor, mas tudo que eu conseguia ver eram sombras imóveis, quietas... quietas demais. Algo estava ali. Eu sentia. Não era imaginação. Não podia ser.

O som abafado dos meus próprios passos parecia ensurdecedor, e meu coração batia com tanta força que era como se ele estivesse tentando me avisar, corra. Eu estava sozinha. Ou talvez... não estivesse.

Finalmente, cheguei ao carro. Minhas mãos tremiam quando alcancei o alarme, e por um segundo, hesitei. O ar estava pesado, como se a noite estivesse segurando a respiração. Apertei o botão e o som do alarme rasgou o silêncio como um grito, ecoando por todos os lados. Meu corpo gelou, uma onda de pavor subindo pela minha espinha. Se alguém, ou algo, estava me esperando, esse som foi o chamado.

Abri a porta do carro com as mãos trêmulas, quase arrancando-a do lugar. Meu corpo mal respondia ao comando de entrar, como se a simples ação de me sentar exigisse mais força do que eu tinha. Meu coração martelava no peito, e eu me sentia dividida entre a urgência de correr e a necessidade de me esconder, de me fazer pequena e invisível.

Deslizei para o banco do motorista e bati a porta com força. O som seco ecoou no ar, e por um segundo fiquei ali, respirando fundo, tentando afastar o pânico que ainda rastejava sob minha pele. Minhas mãos ainda tremiam enquanto eu girava a chave na ignição. O motor roncou, um som que deveria ser reconfortante, mas meu cérebro ainda lutava para se convencer de que eu estava segura.

Meus dedos apertavam o volante com tanta força que as juntas ficavam brancas. Fechei os olhos por um momento, tentando forçar minha respiração a se acalmar, contando mentalmente até três.

Entre flores e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora