Capítulo 24 | O estranho

5 2 0
                                    

As horas que se seguiram àquela mensagem de Caius passaram como um borrão. Eu mal conseguia processar as palavras dele, e o vazio que antes era apenas uma suspeita se transformou em uma certeza sufocante. Fiquei deitada na cama por um tempo indeterminado, encarando o teto, tentando encontrar algum motivo, uma explicação que fizesse sentido.

Mas não havia.

Minha mãe, depois de um tempo, veio até o quarto para me chamar para jantar, mas eu inventei alguma desculpa. Não estava com fome, e ela acabou aceitando, sem insistir. Eu precisava de silêncio. De solidão.

Com o cair da noite, a casa ficou ainda mais quieta. O tipo de silêncio que me deixava inquieta. As poucas luzes que ainda estavam acesas lançavam sombras longas pelas paredes, mas mesmo isso parecia pouco relevante. Minha mente estava fixa em Caius. Onde ele estava?. Por que aquela frieza repentina?. Algo estava errado, mas ele não me deixava ver o que era.

Peguei o celular novamente, relendo a mensagem dele pela centésima vez. "Desculpa. Explico depois. Depois?. Quando era "depois"?. E que tipo de desculpa era aquela?. Aquilo me parecia apenas palavras jogadas para apaziguar uma inquietação que, para mim, só se intensificava.

Resolvi descer até a cozinha. Talvez um chá me acalmasse. Desci as escadas devagar, os degraus rangendo sob meus pés. Chegando à cozinha, encontrei Dana mexendo em algo no fogão, com minha mãe sentada à mesa, cantarolando uma melodia suave que me trouxe uma breve sensação de conforto.

- Não conseguiu dormir?. Minha mãe perguntou, com um olhar que demonstrava mais preocupação do que suas palavras deixavam transparecer.

- Não... . Respondi, abrindo um armário em busca do chá. - Acho que estou ansiosa demais.

Ela assentiu, como se soubesse exatamente do que eu estava falando, mas sem querer tocar no assunto de Caius. Era como se soubesse que, por mais que quisesse me ajudar, não havia nada que pudesse ser dito naquele momento.

Enquanto eu esperava a água esquentar, sentei-me à mesa ao lado dela, e um silêncio confortável pairou entre nós. Dana nos observava de canto, sem interromper.

- Lembra quando você era pequena, e sempre ficava ansiosa na noite antes de um grande evento?. Minha mãe disse, quebrando o silêncio de forma inesperada. - Você nunca conseguia dormir, então eu fazia chá de camomila e ficava ao seu lado, lendo alguma história até você finalmente apagar.

Sorri, lembrando dessas noites. Momentos tão simples, mas que agora pareciam tão distantes.

- Sim, lembro... . Respondi. - Eu costumava pensar que os monstros da minha cabeça sumiriam com o chá.

- E sumiam, não sumiam?. Ela sorriu de volta, os olhos cansados, mas ainda cheios de carinho.

- Por um tempo... . Admiti, olhando para a chaleira, agora começando a soltar vapor.

- Talvez os monstros de agora sejam um pouco mais complicados. Ela disse com sua voz suave.

Aquelas palavras ficaram no ar por um momento, ressoando. Sim, os monstros de agora eram diferentes. Muito mais difíceis de combater, eles eram reais.

Quando a água estava pronta, despejei o líquido sobre o saquinho de chá, sentindo o aroma de camomila começar a preencher o ar. Tomei um gole, mas não senti o efeito calmante de antes. Nada parecia suficiente.

Em um momento meus olhos se recaíram em Dana, eu a observei por um instante, notando o cansaço evidente em seus olhos. Ela sempre foi dedicada, e hoje não tinha sido diferente.

- Você já pode ir para casa descansar, Dana. Falei, fazendo-a se assustar. - Hoje foi um dia cheio para todos nós. Aproveite e tire uma semana de folga. Eu vou ficar em casa esses dias.

Entre flores e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora