O dia seguiu se arrastando, e mesmo com o leve burburinho dos corredores do hospital eu me sentia sozinha. Minha mãe foi para o saguão, provavelmente já tinha convencido alguém a dar um jeito na demora do almoço, e eu permaneci ali, sentada naquela cama dura e desconfortável. O estômago roncava cada vez mais alto, mas isso era o de menos. O silêncio de Caius era o que mais me incomodava naquilo tudo. Ele só tinha sumido assim uma única vez em toda a vida, então não era normal.
Abri o celular de novo. A tela piscou, sem novidade alguma. Minhas mensagens ainda estavam lá, sem respostas. Senti uma pressão no peito, aquela sensação de que algo estava fora de lugar. Eu sempre soube que Caius trabalhava demais, que a empresa o consumia, mas ele nunca me deixava tanto tempo no escuro. Sempre havia uma mensagem rápida, mesmo que fosse um simples "Estou bem, amor." Mas agora... nada. Eu nem sabia se ele tinha chegado na empresa em segurança.
Resolvi dar um basta naquele aperto. Deixei o celular de lado e empurrei os lençóis para o lado, decidida a sair daquele quarto por um tempo. O hospital tinha aquele cheiro asséptico que me deixava nervosa, e eu precisava respirar um pouco de ar fresco.
Assim que me levantei, uma tontura súbita me atingiu, e precisei me apoiar na lateral da cama para me estabilizar. Respirei fundo, tentando recuperar o equilíbrio. Não era nada demais, só o resultado de ter passado tanto tempo deitada e sem comer. Balancei a cabeça, tentando clarear a mente, e caminhei lentamente até a janela do quarto. Lá fora, as árvores continuavam se balançando suavemente ao vento, o céu claro era quase irônico em comparação ao que eu sentia por dentro.
O som da porta se abrindo mais uma vez me chamou a atenção. Achei que fosse minha mãe, voltando com alguma novidade sobre o almoço, mas era Dana. Seu rosto um sorriso gentil de sempre.
- Voltei. Disse cantarolando. - Como você está, Calliope?. Ela perguntou, fechando a porta atrás de si com suavidade.
Eu sorri de volta, mais como um reflexo do que por estar realmente bem.
- Estou melhor, Dana. Só um pouco... inquieta.
Ela assentiu, como se entendesse exatamente o que eu estava sentindo. E talvez ela entendesse. Dana sempre foi observadora, atenta aos mínimos detalhes, especialmente quando se tratava de mim e da minha mãe.
- Encontrei com sua mãe na recepção e ela me pediu para vir te fazer companhia enquanto ela resolve as coisas lá em baixo. Dana explicou, aproximando-se da cama. - Já almoçou?.
- Ainda não, falaram que vão atrasar um pouco. Respondi, me sentando de volta na cama.
- Quer que eu peça alguma coisa para você pelo aplicativo?. Perguntei já pegando o celular.
- Não precisa, Dana. Eu nem estou com tanta fome assim. Menti.
Ela inclinou a cabeça, seu olhar se suavizando ainda mais.
- Alguma notícias de Caius?.
Neguei, soltando um suspiro pesado. Dana conhecia minha relação com ele melhor do que ninguém. Ela estava conosco desde que quando resolvemos levar mamãe para morar com a gente, desde os dias em que tudo era leve, apaixonado, e Caius parecia a pessoa mais presente no mundo.
- Ele não me respondeu desde ontem à noite. Falei, como se verbalizar o problema fosse torná-lo menos real. - Isso não é comum.
Dana franziu o cenho, pensativa, mas sem dizer nada por alguns segundos. Ela pegou meu celular da mesinha ao lado e o segurou, como se quisesse que eu tentasse ligar para ele de novo.
- Talvez ele só esteja realmente ocupado com algo importante na empresa. Ele sempre foi focado no trabalho.
- Eu sei. Murmurei, pegando o celular de volta. -Mas não posso evitar de pensar que tem algo mais acontecendo.
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Entre flores e segredos
AléatoireA vida pacífica de Calliope Lewis na floricultura da família é virada de cabeça para baixo quando ela recebe uma fita cassete e uma carta misteriosa. Envolvida em um jogo psicológico de gato e rato, ela enfrenta uma perigosa batalha de sobrevivência...