Capítulo 31 | A tempestade

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A sala estava mergulhada em um silêncio pesado, apenas o som de meu próprio respirar ecoava enquanto eu encarava Caius. Ele estava sentado à minha frente, despreocupado, como se o fato de eu estar ali não fosse nada além de uma inconveniência temporária. Isso era típico dele. Aquele ar de superioridade, como se o mundo inteiro estivesse abaixo de seus pés. Era de se esperar de um homem como Caius Beker.

Eu me aproximei devagar, sem pressa. O que ele tinha de arrogante, eu tinha de paciente. Ele me observava com aquele olhar de quem sabia que estava no controle, ou pelo menos achava que estava. Mas o jogo que ele tanto gostava de controlar estava prestes a mudar, e eu queria que ele soubesse disso.

- Veio me dar um sermão?. Ele perguntou com uma voz arrastada, recostando-se na cadeira como se aquilo fosse um encontro casual. - Ou talvez você esteja aqui por... ela?.

Meu sangue ferveu no mesmo instante. A menção a Calliope me atingiu de forma direta, mas eu não deixei que isso transparecesse. Pelo menos, não ainda.

- Você sempre foi péssimo em fingir que se importa com as pessoas. Retruquei, cruzando os braços, inclinando-me levemente contra a parede. - Especialmente com ela.

Ele riu, uma risada leve e desdenhosa, e balançou a cabeça.

- Calliope não precisa que você finja ser o cavaleiro de armadura brilhante, Noah. Ela nunca precisou.

- Eu sei disso. Respondi, sem me deixar abalar. - Mas não estamos falando sobre o que ela precisa. Estamos falando sobre o que você faz. Como você a envenena, mentindo com aquele seu teatro ridículo.

- Teatro?. Ele arqueou uma sobrancelha, fingindo interesse. - Se há alguém representando aqui é você. Esse papel de bom moço não combina as coisas que eu ouvi a seu respeito.

Me aproximei um pouco mais, o ambiente denso com a tensão entre nós dois. Caius sabia jogar com as palavras, mas eu não estava ali para ser manipulado.

- Você acha que pode continuar brincando com ela e sair ileso?. Perguntei, a voz baixa e firme. - Acha que eu não sei o que você faz por trás das costas dela?.

Ele se ajeitou na cadeira, apoiando os cotovelos nos braços do assento e inclinando-se levemente à frente, o sorriso nunca deixando seus lábios.

- Sei exatamente o que você pensa que sabe. Ele murmurou, o tom carregado de cinismo. - E francamente, não me importo. Você está tão obcecado com a ideia de me expor para ela que esquece de um pequeno detalhe.

- Qual?.

- Ela me ama.

Aquelas palavras foram uma faca girando lentamente dentro de mim. Mas Caius ainda não tinha terminado.

- Não importa o que você faça, Noah. Ele continuou, agora em um tom quase divertido. - Ela sempre vai voltar para mim. Porque, no fim das contas, você é apenas um desconhecido, e eu, sou o marido dela. Sou eu quem me deito com ela todas as noites.

Aquela fala me atingiu, mas não da maneira que ele esperava. O ódio crescia dentro de mim, mas era controlado, frio. Ele achava que suas palavras me quebrariam, mas estava apenas alimentando algo muito mais perigoso.

- Você disse mesmo isso?. Que deita com ela todas as noites?. Sorri, irônico, andando de um lado para o outro enquanto o encaro. - Mas não foi você quem a deixou sozinha no hospital, quando ela mais precisava?.

Caius arqueou uma sobrancelha, um sorriso sarcástico se formando em seus lábios.

- Essas são coisas triviais. Eu tive uma emergência no trabalho.

- Você subestima ela. Disse, minha voz gélida. - E isso será sua ruína. Ela não vai tolerar sua falsidade para sempre.

Caius gargalhou, alto e zombeteiro, a voz ecoando pela sala escura. Ele era uma cobra, rastejando em cada palavra, envenenando cada pensamento.

Entre flores e segredosOnde histórias criam vida. Descubra agora