Capítulo 16 | Terror

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Eu mal conseguia andar. Minhas pernas tremiam, cambaleando pelos corredores como se a gravidade tivesse se multiplicado, forçando meu corpo para baixo. Cada passo era um esforço. Os cantos da casa, antes familiares, agora pareciam esconder coisas, criaturas. Milhares de olhos invisíveis que me observavam, me julgavam, e se aproximavam. As paredes pareciam respirar, como se elas mesmas tivessem vida, como se me empurrassem para longe, me impedindo de seguir em frente.

Olhei para o espelho no final do corredor e me arrependi. Meu reflexo estava distorcido, retorcido, como se o espelho fosse um portal para algo... escuro. Um lugar onde sombras se contorciam, esperando o momento certo para se libertar e me arrastar com elas. Eu quase podia sentir mãos invisíveis saindo das portas entreabertas, tentando me puxar para dentro, para longe de qualquer luz, de qualquer esperança.

Eu só precisava chegar ao quarto. O quarto onde meu marido estava.
Mas a cada passo que eu dava, a porta parecia mais distante, se afastando, como se a casa estivesse brincando comigo, estendendo o corredor para sempre. Meus pés mal tocavam o chão, o suor escorria pelas minhas costas, e a cada respiração, meu peito se apertava mais. Queria gritar o nome dele, chamar por ajuda, mas minha voz não saía. Eu tentava, abria a boca, mas era como se o pânico tivesse roubado meu som. Eu estava presa dentro de mim mesma, sem poder escapar.

Caius... O nome dançava na minha mente, mas não nos meus lábios. Meus pés tropeçaram, e eu me segurei na parede, o toque frio me fez estremecer. A casa inteira parecia conspirar contra mim, as portas se fechando aos poucos, como se fossem bocas prestes a devorar o que restava de mim.

Eu tentei mais uma vez. Caius... por favor... . Mas nada. Até que, quando eu finalmente estava a um passo da porta, minha mão vacilou ao tocar a maçaneta. A porta se abriu com um rangido, e lá estava ele, Caius, me olhando com aqueles olhos confusos, talvez preocupado. Eu vi sua boca se mover, mas tudo ficou embaçado. Minha mão escorregou da maçaneta, e meu corpo cedeu.

O chão se aproximou rápido demais, o impacto foi surdo. O frio do chão invadiu meu corpo antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo. Minha visão piscava, as bordas escuras se fechando lentamente, como se o mundo estivesse me abandonando. Eu tentava me mexer, mas meus músculos não obedeciam. Uma parte de mim gritava para não ceder, para lutar contra o pavor que me consumia, mas o peso do medo era paralisante, sugando toda a minha energia.

Ouvi um som abafado acima de mim. Caius. Ele estava falando comigo, chamando meu nome, mas sua voz parecia tão distante, como se ele estivesse a quilômetros de distância. Tudo ao meu redor se tornava cada vez mais distorcido. Os cantos do quarto se fundiam com as sombras, se estendendo, se alongando, como se a escuridão estivesse se aproximando para me engolir.

Eu lutei para manter meus olhos abertos, focando no rosto de Caius. Sua expressão estava tomada por uma mistura de pânico e confusão. Ele se ajoelhou ao meu lado, suas mãos segurando meu rosto com uma delicadeza desesperada. Eu tentei falar, tentar explicar, mas o som continuava preso na minha garganta. Era como se houvesse algo me sufocando por dentro, um nó que não se desfazia.

Suas palavras eram um borrão em minha mente. Ele me sacudia levemente, implorando para que eu respondesse, mas meu corpo parecia não me pertencer mais. A única coisa que eu conseguia sentir era o peso crescente da escuridão, a pressão esmagadora ao redor de mim.

Eu não conseguia mais distinguir a realidade do pesadelo. O corredor interminável, o espelho distorcido, as mãos invisíveis me puxando. Tudo parecia se fundir em um só. A última coisa que vi foi o rosto de Caius, sua expressão cheia de desespero, antes de a escuridão me levar de vez.

 A última coisa que vi foi o rosto de Caius, sua expressão cheia de desespero, antes de a escuridão me levar de vez

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Eu estava flutuando, presa em algum lugar entre o despertar e a escuridão total. Tudo parecia distante, como um eco de uma vida que eu não sabia se ainda era minha. Então, algo quebrou o vazio. Em um momento acordei com o som incessante de um bip, acompanhado pelo zumbido suave de máquinas. O cheiro inconfundível de álcool e antisséptico invadiu minhas narinas antes que eu pudesse abrir os olhos por completo. As luzes eram ofuscantes, brancas demais, frias demais. Tentei me mexer, mas meu corpo parecia afundar na cama, pesado e sem forças.

Eu estava no hospital. A lembrança de desmaiar na frente de Caius me atingiu como uma onda de gelo. Tudo se misturava na minha cabeça, o corredor que parecia nunca acabar, a caixa de doces, o espelho, o terror de algo à espreita. Será que eu havia alucinado tudo aquilo?.

Minhas mãos estavam fracas, e o som do monitor cardíaco parecia pulsar no mesmo ritmo acelerado do meu coração. Pisquei várias vezes, tentando ajustar a visão ao ambiente estéril. Uma enfermeira entrou na sala, me olhando com um sorriso que eu sabia que era ensaiado, tão mecânico quanto o som das máquinas ao meu redor.

- Você acordou. Ela disse, como se isso fosse uma grande vitória. - Está se sentindo bem?.

- Eu... onde está o Caius?.

Minha voz saiu mais rouca do que eu esperava, como se eu não tivesse falado por dias. Minha garganta estava seca, cada palavra um esforço.

Ela hesitou, mas antes que pudesse responder, ouvi passos rápidos no corredor. Logo, Caius apareceu na porta, o rosto abatido. Ele parecia não ter dormido, e seus olhos estavam carregados de preocupação. Ao me ver acordada, seu corpo relaxou visivelmente, mas o alívio em seu rosto era temperado pela tensão que ainda não havia se dissipado.

- Meu amor... . Ele entrou apressado, pegando minha mão com cuidado, como se temesse que eu quebrasse. - Você está bem?.

- Eu estou... aqui, eu acho. Minha cabeça ainda latejava, e a dor era constante, como uma presença insistente.

- Graças a Deus... Eu estava tão preocupado.

- O que aconteceu?.

Ele se sentou ao meu lado, ainda segurando minha mão, seu olhar firme nos meus.

- Você desmaiou em casa. Te trouxemos para o hospital. Os médicos disseram que foi estresse... seu corpo simplesmente não aguentou. Você precisa descansar, Calliope.

Desviar o olhar de Caius foi difícil, mas eu sabia que algo não estava certo. O peso daquela noite estava comigo. A caixa de doces. A frase na tampa. Nada disso tinha sido uma alucinação, por mais que eu quisesse acreditar que era.

- Eu não desmaiei só por estresse. Sussurrei, quase para mim mesma. - Alguem... Alguém esteve lá, Caius. A caixa de doces. A mensagem.

Caius apertou meus dedos, a expressão se fechando, o olhar carregado de preocupação.

- Calliope, não havia nenhuma caixa de doces em casa. Eu olhei por toda a casa depois que você desmaiou sussurando sobre isso. Talvez tenha sido um sonho.

Eu senti um nó formar-se na minha garganta, e a confusão e a raiva me dominaram.

- Não foi um sonho, Caius. Eu vi. Alguém está nos observando, eu sei que está. Não posso explicar, mas algo está acontecendo. E não é paranoia.

O silêncio que se seguiu foi esmagador. Caius olhava para mim, tentando entender, tentando racionalizar tudo aquilo, mas a incredulidade nos olhos dele me feriu mais do que eu esperava. Eu queria que ele acreditasse, que me ouvisse, mas sabia que para ele, aquilo parecia uma loucura.

- Por favor, confie em mim. Murmurei, a voz baixa e falha. - Eu sei o que vi.

Ele suspirou, levantando-se da cadeira, passando a mão pelos cabelos.

- Eu confio em você, meu amor. Mas precisamos ver isso com calma. Você está aqui, segura. Vamos deixar os médicos cuidarem de você. Vamos dar um passo de cada vez, certo?.

Eu queria gritar, sacudi-lo até que ele entendesse o terror que estava crescendo dentro de mim, mas não consegui. Minha cabeça latejava, e a exaustão começava a me dominar novamente. Talvez ele estivesse certo. Talvez eu precisasse descansar, colocar os pensamentos em ordem.

 Talvez eu precisasse descansar, colocar os pensamentos em ordem

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