Capítulo 4: O peso do progresso

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*POV GABI*

Sabe quando você se sente presa? Como se estivesse correndo sem sair do lugar? É assim que me sinto ultimamente. Eu acordo, vou para a fisioterapia, faço todos os exercícios que me mandam, mas parece que nada muda. Meu corpo dói, minha mente cansa, e o progresso... Bem, ele parece sempre distante demais.

Hoje foi mais um desses dias. Me esforcei ao máximo na fisioterapia. Senti o suor escorrer pelo rosto, as pernas queimarem, mas a sensação de que algo realmente está mudando nunca aparece. A fisioterapeuta disse que estou progredindo, mas, sinceramente, às vezes eu acho que ela está tentando ser apenas gentil.

Eu deito na cama depois das sessões e fico encarando o teto, me perguntando se um dia vou voltar a ser a jogadora que fui. Se vou pisar na quadra de novo, sentir aquela adrenalina antes de um jogo importante, ouvir o som da torcida... Parece tão distante agora, quase como se fosse outra vida.

Estou perdida nesses pensamentos quando ouço uma batida suave na porta. É a Dra. Sn. Ela entra com aquele sorriso leve, prancheta nas mãos, como sempre. Ela é a única coisa que parece constante e estável por aqui. Eu sempre me sinto um pouco melhor quando a vejo, mesmo que eu não entenda exatamente por quê.

“Oi, Gabi. Como foi a sessão de hoje?” ela pergunta, com aquele olhar atento que parece enxergar através de mim.

Eu suspiro. Já nem sei quantas vezes repeti essa resposta, mas hoje estou cansada demais para esconder o que realmente sinto. “Foi boa, mas... não sei, parece que estou presa no mesmo lugar.”

Ela me olha em silêncio por um segundo. Não é aquele silêncio desconfortável. É como se ela estivesse tentando achar as palavras certas para me acalmar, para me fazer ver as coisas de outra forma.

“Eu sei que é difícil ver o progresso dia a dia, mas ele está lá. Cada pequeno passo que você dá nos aproxima do seu objetivo. E você está fazendo um ótimo trabalho,” ela diz com tanta certeza que, por um momento, eu quase acredito.

“Eu tento manter isso em mente, mas às vezes é complicado,” confesso, olhando para minhas mãos, que seguram a borda da cama. “Eu vejo todas vocês ao meu redor, me incentivando, mas eu sinto que não estou correspondendo.”

A verdade é que eu me cobro demais. Sei disso. Sempre fui assim. Mas ouvir isso em voz alta faz com que a pressão dentro de mim se torne ainda mais real.

Ela se inclina um pouco mais, sua voz é suave, mas há uma força nela. “Você está se cobrando demais, Gabi. Todos nós estamos aqui porque acreditamos em você. Mas você precisa acreditar também. A recuperação é um processo, e você não precisa ser perfeita em cada passo. A vitória vai ser quando você voltar às quadras, não em cada sessão.”

Essas palavras me atingem em cheio. Eu queria poder acreditar nisso. Quero muito. Mas essa pressão de ser a melhor, de corresponder às expectativas... é como uma sombra que me persegue.

Ainda assim, suas palavras trazem um certo alívio. Um alívio que eu não sabia que precisava. Eu forço um sorriso e digo: “Obrigada, doutora... Eu acho que precisava ouvir isso.”

Ela me devolve o sorriso, aquele sorriso calmo que parece dizer que tudo vai ficar bem. “Vou te dar um tempo para descansar. Mas lembre-se, Gabi, você está mais forte a cada dia, mesmo que não consiga ver. Eu consigo.”

E com isso, ela se levanta e sai, deixando o quarto em silêncio novamente.

Fico ali, sozinha com meus pensamentos. Engraçado como uma simples conversa pode mudar tudo. As dúvidas ainda estão aqui, mas, por algum motivo, sinto que talvez ela esteja certa. Talvez eu esteja mais forte. Talvez o progresso seja silencioso, quase imperceptível. Mas ele está acontecendo. Ele tem que estar.

Fecho os olhos e respiro fundo. O caminho ainda é longo, e sei que haverá dias em que vou duvidar de mim mesma de novo. Mas, por hoje, vou me permitir acreditar. Acreditar que estou mais perto de voltar para as quadras do que imagino.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora