Capítulo 17: Recomeço

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*POV GABI*

Acordei com a luz do sol atravessando as cortinas, seus raios suaves iluminando o quarto de uma maneira quase reconfortante. Pisquei algumas vezes, ajustando meus olhos à claridade. Eu ainda me sentia cansada, como se a intensidade emocional dos últimos dias tivesse drenado cada parte de mim. Mas havia uma leveza ali, algo diferente, uma sensação de que as coisas finalmente estavam mudando de direção.

A noite anterior, quando Sn veio até minha casa e finalmente conversamos de verdade, ainda estava fresca em minha mente. Seu abraço, suas palavras, a confissão de que ela também estava com medo, mas que queria fazer funcionar... Tudo isso mexia comigo de uma maneira que eu ainda não conseguia explicar. Era assustador e ao mesmo tempo reconfortante saber que ela sentia o mesmo que eu. Mas o medo persistia. E se tudo aquilo desmoronasse de novo?

Sentei-me na cama, passando as mãos pelo rosto, tentando afastar a confusão de pensamentos que já começava a me consumir logo de manhã. Olhei para o lado, para o celular sobre o criado-mudo. Nada de mensagens. Parte de mim esperava encontrar algo dela, talvez uma palavra de bom dia, mas ao mesmo tempo, sabia que Sn estava dando espaço para que eu processasse tudo. Ela estava sendo cuidadosa.

Respirei fundo e joguei as pernas para fora da cama, sentindo o chão frio sob meus pés. Minha rotina matinal costumava ser metódica: acordar, café, alongamentos, fisioterapia. Mas desde que tudo começou a desmoronar, nada seguia o plano. Eu havia parado de ir à clínica, me afastado dos amigos, e até o time estava estranhando minha ausência. Fugir sempre parecia mais fácil, mas agora, depois da nossa conversa, percebi que isso só me fazia afundar mais.

Levantei-me e caminhei até a cozinha. Coloquei a cafeteira para funcionar, observando a água ferver e o cheiro familiar do café fresco preencher o ar. Enquanto isso, abri a geladeira, em busca de algo para comer. Meu apetite ainda estava tímido, mas sabia que precisava me alimentar, especialmente se quisesse voltar aos treinos em breve.

Meus pensamentos voltaram à fisioterapia. Fazia dias que eu não aparecia nas sessões com o Dr. Vinícius. Sabia que precisava voltar, que minha recuperação física era tão importante quanto a emocional, mas a ideia de estar lá sem Sn me deixava inquieta. Ela não era mais minha médica, e isso fazia parte do acordo que havíamos estabelecido. Mas ainda assim, sentia falta da presença dela ali, daquele apoio invisível que sempre me dava força.

Enquanto bebia meu café, decidi encarar a realidade. Peguei o celular e enviei uma mensagem rápida para a recepcionista da clínica, pedindo para remarcar a sessão que eu havia perdido na semana passada. Eu sabia que era o primeiro passo. Não podia continuar me sabotando, por mais difícil que fosse enfrentar aquela nova dinâmica.

O barulho repentino da campainha me fez dar um pulo. Quem poderia ser tão cedo? Caminhei até a porta, ainda um pouco sonolenta, e quando abri, lá estavam Carolana e Thaisa, minhas amigas inseparáveis.

"Bom dia, dorminhoca!" Carolana exclamou, levantando uma sacola cheia de pães e sucos frescos.

Thaisa sorriu, acenando com uma garrafa de suco verde. "A gente achou que você poderia precisar de um reforço."

"Vocês duas são impossíveis," murmurei, rindo, enquanto as deixava entrar. Elas sempre apareciam quando eu mais precisava, mesmo sem eu pedir.

Minutos depois, estávamos sentadas na minha mesa de cozinha, com a comida toda espalhada entre nós. As duas conversavam animadamente sobre os últimos treinos, sobre como o técnico estava com paciência curta por causa de um novo esquema tático. Eu escutava, mas minha mente vagava. Era bom ter a companhia delas, me fazia sentir um pouco mais conectada à minha rotina, ao que costumava ser minha vida antes de tudo virar de cabeça para baixo.

Foi então que, em um intervalo da conversa, Thaisa me olhou com aquele olhar sério e carinhoso que ela sempre tinha quando estava prestes a dizer algo importante.

"Gabi, e você? Como você está de verdade?" A pergunta veio carregada de preocupação.

Eu sabia que não podia escapar. Elas sempre souberam quando algo estava errado, e já fazia tempo que eu vinha evitando o assunto. Respirei fundo, sentindo a familiar pressão no peito que surgia sempre que tentava falar sobre o que estava acontecendo.

"Estou... tentando colocar as coisas no lugar," comecei, escolhendo as palavras com cuidado. "Foi muita coisa de uma vez, sabe? E eu me perdi no meio de tudo isso."

Carolana franziu o cenho, inclinando-se para frente. "Isso tem a ver com a Sn, não tem?"

Claro que elas sabiam. Não havia como esconder. Elas eram minhas amigas mais próximas, conheciam cada detalhe da minha vida, e tinham percebido desde o início que havia algo diferente na minha relação com Sn.

"Sim, tem," admiti. "A gente... está tentando descobrir como lidar com tudo isso. Não foi fácil."

Thaisa assentiu, me oferecendo um sorriso compreensivo. "Olha, Gabi, a gente sabe que não deve ter sido fácil para você, mas você não precisa passar por isso sozinha. Estamos aqui, sabe? No que você precisar."

Aquilo me tocou de uma maneira que eu não esperava. O apoio delas era algo que eu sempre valorizei, mas nesses últimos tempos, eu me distanciei tanto que quase esqueci o quão importante era ter pessoas assim na minha vida.

"Obrigada, meninas. De verdade," falei, sentindo a emoção tomar conta. "Eu sei que me afastei, mas estou tentando me reencontrar. Só... só preciso de um tempo para entender tudo."

Carolana balançou a cabeça, concordando. "A gente sabe. Só queremos que você saiba que estamos aqui. Sempre estivemos."

E eu sabia que isso era verdade. Elas sempre estiveram ao meu lado, nos bons e maus momentos. E agora, enquanto tentava encontrar meu caminho de volta à normalidade, o apoio delas era mais importante do que nunca.

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Depois que elas foram embora, fiquei sentada na sala, refletindo sobre a manhã. A conversa com minhas amigas havia me dado uma nova perspectiva. Eu não estava sozinha. Tinha Carolana, Thaisa e, de certa forma, tinha Sn também, ainda que de uma maneira mais complicada. Isso me dava forças para seguir em frente, para continuar a batalha que eu sabia que precisava enfrentar.

Peguei o celular e, impulsivamente, mandei uma mensagem para Sn.

"Oi. Só queria dizer que estou me sentindo melhor hoje. Tive uma manhã boa com as meninas. Estou pronta para continuar."

Foi um gesto pequeno, mas importante. Eu estava mostrando a ela, e a mim mesma, que estava disposta a lutar por isso.

Cᴏʀᴀçãᴏ ᴇᴍ ᴊᴏɢᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora